11 outubro 2013

O BE e os «independentes» na AR ou...

... continuando a
escrever para o boneco



Sem surpresa (por alguma razão esta ideia abstrusa entrou na Declaração Final do Congresso Democrático das Alternativas), leio hoje no Público que o Bloco de Esquerda  (certamente por sólida e reflectida convicção e não por mero encosto à «onda»), manifestou ontem na AR uma posição favorável  à possibilidade de candidaturas de «independentes» à Assembleia da República (volto a sublinhar que não há maneira legal de impedir um filiado num partido de integrar essas hipotéticas listas). Uma posição idêntica havia sido assumida há dias Daniel Oliveira aqui num texto em que, honra lhe seja feita, se afastava apesar de tudo de alguns disparates circulantes mas onde sustentava o seguinte : «E esta é a principal razão porque, para além da possibilidade de intervenção dos eleitores na ordem das listas dos partidos, defendo a possibilidade de listas de cidadãos concorrerem às legislativas (apenas a cada círculo eleitoral hoje existente, caso contrário seriam partidos políticos sem os deveres correspondentes). Porque só através da concorrência democrática os políticos serão obrigados a escolherem os seus deputados pela sua capacidade de atração eleitoral e não apenas pela sua fidelidade ao líder ou apoio das estruturas locais. A outra possibilidade seriam os círculos uninominais, de que discordo, porque acabariam com qualquer ideia de proporcionalidade na representação parlamentar.»

Deixando de lado a questão de saber o que é que, nos tempos modernos, significará para Daniel Oliveira a « capacidade de atracção eleitoral» de um candidato (espero que não seja aquela que levará um partido a prescindir de um competentíssimo economista só porque não é um orador brilhante !), por ora só quero sublinhar que é completamente artificial a distinção feita por D.O. entre um círculo nacional e «apenas a cada círculo eleitoral hoje existente».

Porque, como disse aqui já há 14 meses, verdadeiramente as candidaturas de «independentes» à AR só seriam possíveis «com a criação dos famigerados círculos uninominais, [que actualmente - e ainda bem - a Constituição não permite] expressão máxima do que tenho chamado «escrutínio de ladrões».  E é assim porque, quer o sistema eleitoral se baseasse apenas num círculo nacional ou em círculos distritais ou nos dois, a verdade é uma lista com 12, 24 ou 50 candidatos ditos «independentes» (insisto, propostos por cidadãos eleitores) deixaria de o ser porque quando 12, 24 ou 50 candidatos se associam para se candidatarem à AR é porque tem as suficientes afinidades programáticas entre si, já não há a candidatura individual, o que há é um partido informal que não quis ter nem o trabalho nem as obrigações de ser um partido a sério.»

E, por hoje, mais não digo porque estou fartinho de escrever sobre estes temas (por exemplo, entre muitos outros posts,  aqui e aqui) sem que ninguém se digne discutir ou polemizar comigo.

5 comentários:

  1. Pois é! Partidos informais e camuflados! E ao serviço de quem???

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  2. As últimas seleições autárquicas são um bom exemplo de candidaturas "independentes", que não passam de um expediente para a manutenção do status quo,através da camuflagem de personagens que estão perfeitamente alinhadas com partidos.
    Fico com a ideia que o único propósito da maioria das candidaturas independentes, não foi mais que uma operação de marketing político, com o objectivo de não deixar escapar votantes habituais, contendo assim as flutuações do eleitorado.
    O "independente" do Porto ainda fará correr muita tinta...

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  3. E então os Partidos com programas, Congressos, debates para que servem? Não é a nossa democracia baseada em Partidos?
    E quanto a mim, não há independentes. Um independente está sempre a demarcar-se de uma posição e forçosamente está a tomar partido. Os independentes que estão ao lado do Povo sabem muito bem como votar. Não precisam de criar nova força política.

    Um beijo.

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  4. Pois, é difícil discutir com quem tem razão... Os bem falantes gostam de falar e de ouvir a sua voz, ler as suas palavras. Não é necessário que tenham razão. É necessário é que fique bem dito.

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  5. Os círculos uninominais têm problemas que já foram focados em muitos lados. No entanto o sistema actual também é mau e desmotivante. Não gosto de aceitar o princípio de que, estando a dar o meu voto a um partido, estou a votar em todos os candidatos desse partido, excluindo todos os outros, que eu até acharia com mérito para serem deputados. Deveria existir um sistema que me permitisse misturar candidatos de vários partidos.
    Pequeno exemplo: Um círculo eleitoral não deveria ter mais de,digamos, 10 deputados. Eu poderia votar em 2 da CDU mas também achar que o Garcia Pereira tinha lugar no parlamento. Não sei bem como isso seria possível mas parece-me um bom caminho.

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