28 outubro 2013

E por isto me fico !

Não, não me importo

Por uma vez, é assim mesmo. Não me importo nada que os leitores achem que fiquei, gelado e contraído, sem argumentos contra este texto de Daniel Oliveira publicado no Expresso online e reproduzido no «arrastão». Não me importo nada que os leitores me achem incapaz de fazer a simples e cândida pergunta sobre qual é o mal ou a estranheza de um partido evocar e celebrar o legado de um seu grande dirigente e o fazer pelos seus próprios olhos, critérios ou até conveniências políticas, já que isso não impede a expressão de outros olhares e outras opiniões. . Não me importo nada que os leitores julguem que eu nem sequer sou suficientemente penetrante para demandar a D.O. que me mostre onde é que algum responsável do PCP pretendeu equiparar Álvaro Cunhal ao nível teórico de «Gramsci, Rosa Luxemburgo, Lukács, Trotsky, Lenin e tantos outros», sem que isso lhe retire um milimetro a qualidade de «ideólogo» com a elevada dimensão que D.O. lhe pretende negar. Não me importo nada que os leitores me julguem desprovido daquele elementar bom-senso que me levaria a desmontar o baralhanço político ou «espírito de classe» que leva D.O. a sustentar e dar relevância a que Jerónimo de Sousa (e «à generalidade dos funcionários que o rodeiam», lá tinha de vir o temível labéu [*]) não teria a «capacidade de liderança intelectual» que Cunhal tinha ou a perguntar-lhe quem é que a tem no campo da concorrência. E até não me importo que os leitores julguem que eu não tenho a informação e a memória suficientes para, sem negar deficiências ou dificuldades do tempo presente, arrasar a tese de D.O. de que o PCP seria quase um deserto de quadros intelectuais com uma numerosa lista de qualificados intelectuais que ou são membros do PCP ou são seus companheiros de luta de muito próximos (embora "naturalmente" sem um centésimo da exposição mediática de Daniel Oliveira).

Não, por uma vez não me importo com nada disso e, por isso, aqui venho dizer que, pura e simplesmente, não discuto com quem alinhava um título assim para um seu texto. É que, feliz ou infelizmente, a mim não me tocou ganhar a vida como comentador profissional e, em consequência, não preciso de arranjar títulos «jeitosos» e «chamativos» para o Expresso online.

[*] Declaração de interesses: para quem porventura não o saiba, esclarece-se que o autor deste post e titular deste blogue foi funcionário do PCP durante 29 anos. E com muita honra.

Sobre um tema central que, a meu ver,
acaba por situar as próprias comemorações
do Centenário de Álvaro Cunhal
ler esta intervenção no Congresso: 

 aqui

15 comentários:

  1. É assim mesmo que se responde a animais rastejantes.
    Parabéns

    ResponderEliminar
  2. Daniel Oliveira é uma fraude. Andou na organização de estudantes do ensino secundário da JCP mas gosta de se apresentar como tendo militado no PCP. Consta até que é o autor da fraudulenta afirmação da wikipédia: «Entrou para o PCP em 1983 tendo saído em 1989» (o que é completamente falso, seja nessas datas seja em quaisquer outras). É interessante a necessidade que sentem estes sociais democratas de dizerem, mesmo quando não é verdade, que "passaram pelo PCP".

    ResponderEliminar
  3. Não tive ainda ocasião de ouvir ou ler as intervenções no Congresso sobre Álvaro Cunhal.

    Só conheço Álvaro Cunhal de longe, se exceptuarmos a vez em que estivemos lado a lado, por vezes falando um com o outro, numa fila durante cerca duma hora, para o almoço, numa Conferência do PCP na voz Voz do Operário. E falámos muitas vezes sobre ele nas conversas que tive com o meu amigo e falecido tarrafalista Gilberto de Oliveira.

    Mas vi a Exposição em Lisboa. Sempre entendi o PCP como um colectivo. E Álvaro Cunhal como um membro desse colectivo. Igual a todos nós, apesar das diferenças, e como ser humano, com qualidades e defeitos. Mas um militante inserido no colectivo e que como comunista teria de tê-lo em consideração. Com vida pessoal, para além da de militante e dirigente. Que ensinando, seguramente que também aprendia.

    O PCP e os seus militantes e os portugueses "devem" muito a Álvaro Cunhal. Que acredito não praticava o culto da sua personalidade, nem concordaria com a sua colocação, vivo ou morto, num altar. O que me parece contrário a certas homenagens. Que viva Álvaro Cunhal. Mas, sobretudo, que viva e continue o PCP e o movimento comunista internacional

    Para terminar e duma nota que há muitos anos publiquei intitulada DOIS MOMENTOS, DOIS RETRATOS cito

    "Passa Camarada
    .
    Na Voz do Operário ao chegar à porta para o pátio olhei por cima do ombro e vi o Álvaro e o seu guarda-costas e disse-lhe naturalmente: «Passa, camarada» ao que ele retorquiu " Passa tu, camarada, que chegaste primeiro» E assim ficámos lado a lado no pátio, numa lenta fila para o almoço, enquanto as pessoas vinham cumprimentá-lo ou apresentá-lo aos filhos de colo ou não.
    .
    Foi uma hora divertida e tenho pena de não ter fixado por escrito as conversas, as impressões já desvanecidas e, sobretudo, os diálogos bem-humorados com Dias Lourenço sobre as peripécias em torno das fugas de Peniche.»

    Em tempo – não me lembro de alguma vez ter visto o retrato de Álvaro Cunhal em material de propaganda do PCP – cartazes, autocolantes, medalhas. Salvo numa medalha da minha colecção, comemorativa do I Congresso após o 25 de Abril. E que muitos camaradas dizem, naturalmente, não conhecer.

    ResponderEliminar
  4. Cunhal no Altar e este escriba (ex jcp, exbloquista e agora Avençado dos grupos económicos da imprensa) no purgatório a caminho de altos voos.

    Purga-te rapaz! continua a purgar-te , que serás recompensado.

    ResponderEliminar
  5. Ser "militante ex-PCP" tem demonstrado ser um bom negócio e é necessário fazer prova de vida com regularidade.
    Mas a caravana passa...

    ResponderEliminar
  6. Ser "militante ex-PCP" tem demonstrado ser ser um bom negócio mas é necessário fazer "prova de vida" com regularidade. É neste contexto que determinadas "personalidades" conseguem alguma notoriedade.

    ResponderEliminar
  7. Na comunicação social a que chamo de "reverência" bom seria que pudessem ter voz os comunistas e o PCP.. Mas se a tivessem, significaria isso o quê?

    Tem o PCP tanta legitimidade para estudar e debater internamente o legado de Álvaro Cunhal, quer como um dos teóricos do marxismo-leninismo, quer nas outras facetas em que se manifestou na sua totalidade como ser humano.

    Sendo certo que um partido político não é um centro académico de estudos e reflexão virado exclusiva e predominantemente para a reflexão teórica, sobretudo no campo da filosofia, da política, da economia, da história, da sociologia.

    E nada impede que outros, fora da organização do PCP, reflictam melhor ou pior, sobre o legado de Álvaro Cunhal e sobre a prática do PCP e dos comunistas portugueses. Que o façam, é perfeitamente legítimo. Que se sujeitem ao contraditório do PCP ou dos militantes comunistas é perfeitamente natural. Que esse contraditório, seja - de que lado for - baseado na argumentação ad hominem é, a meu ver, redutor. Porque na vida nem sempre tem razão quem mais alto ou de mais alto fala! Fique-se pois cada um na sua legitimidade sem guarda-chuvas alheios. Porque o materialismo dialéctico não se baseia em preconceitos e em verdades pré-feitas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Victor Nogueira, parto do principio que notará que eu escrevi o que escrevi e nisso não há nada propriamente «ad hominem».

      Eliminar
    2. Caro Vitor Dias

      Obviamente que não me refiro ao que escreveste. Eu, como tu, lemos o artigo do Daniel Oliveira, que não comento aqui nem lá no Expresso, cujas caixa de comentários on line, tal como a do Público, revelam uma enorme indigência, ignorância e preconceito.

      O teu blog é público, tal como a sua caixa de comentários. Cada um é livre, nos seus comentários, de se expressar como sabe ou como entende. E se não concordo com certo artigo e se quero rebatê-lo, não é com argumentos ad hominen que, repito, não usaste nem costumas usar.

      Mas Daniel de Oliveira a certa altura, tal como outros, tal como aliás Pacheco Pereira tb fez no seu blog, “censura” e desvaloriza a iniciativa do PCP acerca de Álvaro Cunhal porque estaria reservada aos militantes e “compagnos de route” do PCP, e pk nele não participariam, entre outros, Pacheco Pereira (ou Carlos Brito, acrescentaria eu). Ora nada os impede e a outros de organizar o que quiserem, com ou sem a participação do PCP e seus militantes, mesmo que sejam alentadas biografias baseadas (quase exclusivamente) em … obras literárias e ficcionais.

      Isto é, tal como em manifestações ou greves organizadas pela CGTP ou pelo PCP, “críticos” há que se abrigam debaixo de guarda-chuvas alheios, criticando com as suas inquestionáveis certezas e verdades, mas incapazes de fazerem o seu próprio calçado para a caminhada ou para o debate.

      Cordialmente

      VN

      Eliminar
    3. Torna-se cada vez mais evidente que a expressão "ad hominem", para além de estar na moda, é de grande agrado do público.
      Agora só falta começar a tentar-se usá-la apenas quando fizer sentido e nas frases e situações adequadas... :-) :-)

      Eliminar
    4. Como só fui eu que utilizei a expressão "ad hominem" fora deste campo verde, presumo que o Samuel se refira a mim. Ou não ?

      Como nunca pretendi escrever para agradar ao público ou a quem quer que seja e admitindo que sou ignorante e que não sei usar o português, excluindo os comentários que por mim são subscritos, como classificaria a maioria dos comentários nesta caixinha e que de momento não estão assinalados a verde ?

      E para nem sequer dar azo a desnecessária polémica fora do assunto central deste post do Vítor Dias, com o qual na generalidade concordo, termino não com um ou dois sorrisos mas com os necessários para alegrar os dias cinzentos em que nos querem encerrar.

      Eliminar
    5. Caro Vítor Nogueira…

      Ainda bem que não levou a coisa (muito) a peito… pois era apenas uma piada.
      O facto de a piada da piada não ser perceptível… deve-se apenas à minha falta de jeito.
      Para manter a coisa no limite da catástrofe, já que tudo começou por culpa de um "ad hominem" e eu não sei pevas de latim… arrisco um "mea maxima culpa"!

      Saudações.

      Eliminar
  8. Neste congresso não estiveram só os militantes comunistas. Ao meu lado esteve sentada uma pessoa que me disse - a mim e a outros - "não sou militante comunista". Foi ao congresso porque deve a "Álvaro Cunhal o país não ter tido uma guerra civil". Aliás queria cumprimentar Maria Eugénia para lhe agradecer "o irmão que teve".

    ResponderEliminar
  9. Mais uma vez muito obrigado pela informação que trouxe ao meu facebook. Gostei muito do seu texto. Há muito aliás que gosto da sua fina ironia, erudição e cultura. Não sei se você não escreve mais nos jornais por livre vontade ou por que há um afunilamento dos oradores e dos oráculos, mas o que é certo é que o lamento já que a sua opinião valia bem estar escarrapachada semanalmente num jornal. Não conheço senão tangencialmente a vida e a obra de Alvaro Cunhal, e por isso deixo essa (não) discussão para o Vitor Dias e para o Daniel. De qualquer forma porque aprecio muito a boa argumentação (embora tenha como péssimo princípio a ideia de um pensamento arrasa outro pensamento, a menos que seja um pensamento - como alguns títulos - bombásticos) e por isso devo dizer que o argumento que pretende arrasar não é o de que "o PCP seria quase um deserto de quadros intelectuais com uma numerosa lista de qualificados intelectuais que ou são membros do PCP ou são seus companheiros de luta de muito próximos" mas o de que "A atual direção do PCP, a quem deve ser dado o mérito de ter revertido o declínio do Partido Comunista, vive com uma confrangedora e talvez inédita falta de quadros intelectuais (restam umas poucas sobras de um passado glorioso), sem os quais um partido comunista dificilmente cumpre a sua função vanguardista ou pode bater-se por uma hegemonia ideológica.". Já que o Vitor Dias exclui a hipótese de perguntar ao D.O. o que ele quis dizer talvez seja curial não ir pela interpretação mais livre das suas palavras especialmente quando as pretende "arrasar". saúdo-o

    ResponderEliminar