04 março 2013

Não, não deixo passar e não me calo

Alto e pára o baile !


Lendo posts em blogues e comentários de diverso tipo nos media sobre as manifestações há duas coisas, de muito diferente importância, que não posso deixar passar em claro e que me tiram do sério.


Uma, que é acessória, é a quantidade de coisas que uma série de pessoas consegue ver numa manifestações como a de Lisboa com imensas dezenas de milhares de pessoas, entre as quais destaco a que nos garante que esta era uma manifestação com gente mais velha quando eu, pela minha parte, podendo reconhecer que havia razões para uma maior participação de reformados, achei que a componente dominante era de gente jovem, em medida similar à de 15 de Setembro.

A outra, e esta sim é que é perigosa e sofisticada, é que depois de, no próprio sábado à noite, ter visto e ouvido  com desgosto Daniel Oliveira no "Eixo do Mal" a dizer praticamente o mesmo, ouvi hoje no noticiário das 12 hs. da TSF o politólogo Carlos Jalali a dizer que, para além da contestação às medidas e à política do governo, as manifestações também eram «contra o funcionamento do sistema político e aqui incluiria também os demais partidos da oposição».

Ora, sobre isto, quero apenas anotar o seguinte:

Se quem diz isto porventura o diz porque está a pensar na incerteza das futuras opções eleitorais dos que agora tão combativamente se manifestam, então impõe-se salientar que eu não conheço nenhuma pessoa responsável do PCP ou do BE que tenha arriscado previsões ou adivinhado facilidades sobre o complexo problema da transformação do descontentamento generalizado em novas e diferentes opções de voto.

Dito isto, impõe-se dizer que é ou uma velhacaria indigna ou uma patetice lamentável, a respeito de uma manifestação em que no centro das suas reclamações e reivindicações está a política do governo e desta vez até uma forte exigência da sua demissão, em que praticamente não há palavras de ordem ou cartazes que espelhem o que alguns comentadores e sociólogos e politólogos querem impingir-nos, em que críticas, indignações e aspirações que têm sido constantes nos discursos políticos do PCP e do BE se expressam de forma dominante sob fórmulas aproximadas ou mesmo coincidentes nas manifestações, vir depois dizer que o PCP e BE levam na tola tanto como o partidos do governo.

Uma explicação benévola para esta destrambelhada (mas não inocente no caso de alguns) operação ideológica e política pode estar em que os seus comandantes ou autores disponham de uma máquina que eu não tenho e que acho mal se já existir: aquela máquina que, por fios ou ondas hertzianas assegure a ligação de cada um destes comentadores e politólogos ao pensamento reservado de milhões de cidadãos e que lhes permite assim saber o que os cidadãos não dizem na praça pública.

Desculpem lá mas e se fossem
 dar uma volta ao bilhar grande ?


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Adenda em 5/3: Sem amalgamar posições, quero anotar que, no Público de hoje, o por mim muito estimado José Vítor Malheiros, referindo-se às manifestações de dia 2, salienta a certo passo que «nenhum partido, nenhuma coligação de partidos conseguiria reunir esta maré e, se houvesse partidos, eles desmobilizariam as pessoas». Sobre este ponto, parece-me adequado recordar que, salvo algumas promovidas nos anos mais recentes pelo PCP, desde 1976 até hoje as manifestações convocadas por partidos não têm qualquer tradição ou expressão significativa, pelo que, havendo certamente novidades, não é aqui que agora está uma. Mais adiante, J.V. Malheiros escreve que «perante uma grande manifestação unitária contra o Gverno e a austeridade, haverá uma plataforma mínima de entendimento que possa emergir entre os partidos que se reclamam da esquerda, em nome da emergência nacional ? Não, porque o PS é pró-troika. Bom, e só entre o PCP e o BE ? Também não, porque...». Sobre esta questão permito-me apenas remeter os leitores para os três últimos parágrafos, que, a respeito de outro autor, escrevi aqui. E termino estendendo a José Vítor Malheiros o convite que aqui, nos três últimos parágrafos, dirigi há dias ao Prof. André Freire.

2 comentários:

  1. Como já muito, muito poucos se atrevem a defender o governo ou estas políticas, tentam baralhar para dar outra vez.

    Registei uma intervenção simples de uma idosa reformada que classificou esta política de cruel...

    LI agora que o governo publicou uma portaria exigindo o pagamento da taxa moderadora a quem faltar a consulta marcada sem justificação... quantos faltarão por já não terem dinheiro para os transportes, para as taxas e para os exames e medicamentos...

    Enquanto saca os últimos tostões, como esta novidade de obrigar a pagar taxa moderadora sem consulta, continuam a despejar milhões na banca e nos grandes grupos económicos.

    Cavaco não sai de Belém e já se discutem as várias saídas de emergência para os poucos membros do governo que ainda aparecem em determinados eventos, como foi o caso da última aparição de Passos Coelho.

    Quando é isto acaba?

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  2. Os comentários idiotas que aqui se apontam têm uma finalidade. Utilizar o descontentamento do Povo e canalizá-lo para tudo que não seja do interesse dele próprio.Como dizer que tanto os partidos das troikas nacional e estrangeira como os partidos que de facto lutam pelo POVO, tiveram o mesmo tratamento. Há de facto peritos nessas simulações.
    Mas não vencerão. O POVO será de facto, quem mais ordena.



    Um beijo

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