13 outubro 2011

Vendaval de ataques sociais e corrosão da democracia

Aux armes, citoyens !





Tomando conhecimento do desgraçado e cruel pacote de medidas que o Governo acaba de anunciar, só me apetece proclamar, do alto da minha considerável idade,  que, desde o 25 de Abril de 1974, nunca se viu coisa assim e que, de facto, o impossível acontece.

Como a doutrina geral que tenho perfilhado é conhecida, só vale a pena registar que agora temos um governo que acha que trabalhadores da função pública que ganhem mil euros são uns previligiados e que, por isso, em 2012 e 2013 devem passar a ganhar não 14 vencimentos mas apenas 12 (torna-se uma felicidade relativa só ganhar 950 E.) o que, como noutras medidas é um recuo para muito antes do 25 de Abril.

E os estúpidos deste governo ainda hão-de de descobrir um dia quanto estes cortes vão custar ao Estado em desmotivação e compreensível falta de zelo.

E, entre outras temíveis agressões e malfeitorias, se se atentar na parte sublinhada em cima, parece certo que também os reformados com valores entre o salário mínimo e os mil euros percam um dos dois subsídios (ou o de férias ou o de Natal)  que também me torna a mim, e por baixo, mais um nababo da sociedade portuguesa.

Classicamente, chegaria agora o momento de fazer contas e precisar que perder dois meses de vencimento ou reforma em 14 anuais representa uma perda de 14,3% nos rendimentos. Mas, em boa verdade, isso seria uma palidíssima ideia da realidade e só seria verdade se estivessemos a falar de rendimentos nominais, uma vez que em termos reais, a baixa do nível de vida é ainda muito mais devastadora, por força do aumento dos impostos, de bens e serviços de primeira necessidade, de cuidados de saúde, etc., etc., etc., a perder de vista.

E escusado será dizer que os vampiros que nos desgovernam não podem deixar de saber que, com estas medidas o que desenha é uma enorme e dramática  contracção do consumo interno, afectando especialmente médias, pequenas e micro empresas que, por sua vez, são as que asseguram em Portugal a maior parte do emprego.

Poucos parecem ligar à questão e poucos parecem reparar que todo o conjunto de ataques e agressões lançados pelo
governo contra a maioria da população podem constituir-se em poderosos factores de corrosão da própria democracia.

É claro que tanto eu como muitíssimos milhares de portugueses continuaremos a fazer a pedagogia de que nada de confusões, a culpa não é do 25 de Abril mas de uma política feita contra os valores e aquisições do 25 de Abril
.

Mas que nenhum dos autores e cúmplices destas políticas se venha queixar depois que, por entre a raiva, a indignação e o desespero, cresça o número daqueles que dirão que, do ponto de vista económico e social, viviam mais confortavelmente nos últimos anos do fascismo.

O título deste post «Aux armes, citoyens» não é evidentemente para ser interpretado à letra. Ou, melhor dito, é mesmo para interpretar à letra se entendermos que estamos a falar das armas poderosas da revolta, da indignação, do protesto, da consciência social e política, da luta unida, insubmissa, organizada e combativa.

5 comentários:

  1. Se a manifestação de 1 de Outubro tivesse reunido um milhão e trezentos mil (em vez dos 130.000), muito provavelmente o governo não se atreveria a anunciar tais medidas.
    Quantos milhões são violentamente prejudicados por esta política?
    Dá que pensar a quem espera que sejam os outros a lutar por si.

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  2. Não é possível que o Povo continue conformado perante esta calamidade.

    Um beijo.

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  3. E que tal um apelo à participação na manif dos 'à rasca'?

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  4. Amanhã 15 de Outubro, pode ser inicio da resistência a estas medidas, aguardo o apelo do Vitor Dias á participação nestas manifestações.

    Coerência EXIGE-SE

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  5. Perder dois meses de vencimento ou reforma em 14 anuais representa uma perda de 14,3% (arredondado às décimas) nos rendimentos.

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