02 outubro 2011

Sobre as «singularidades» do "Público"

Acampada na hemeroteca



A partir de diversas queixas que foram apresentadas, centradas principalmente no escassíssima cobertura que o Público fez da última Festa do Avante !, José Queiroz, Provedor do Leitor daquele jornal, dedica o seu habitual espaço dos domingos a um texto intitulado «Singularidades do PCP e critérios editoriais».

Cabe-me registar, não esperava outra coisa, o esforço e o empenho de José Queiroz em evitar as costumeiras explicações simplistas dos mais altos responsáveis ou de muitos jornalistas daquele jornal e, do mal o menos, embora eu não partilhe obviamente desse ponto de vista, a orientação digamos salomónica das suas conclusões que se podem ilustrar por duas frases: «(....) O PCP tende, por razões instrumentais, a olhar para o conceito de pluralismo informativo na imprensa como sendo algo a executar a regra e esquadro. Não é.»; e «Muitos jornalistas e responsáveis editoriais tendem de facto a menorizar a informação sobre a actividade política do PCP (...)» por exemplo «por a considerarem demasiado prevísivel face à avidez pela novidade», condenando ainda J. Queiroz uma outra vertente, a do «puro preconceito».

Por uma vez na vida, apetece-me sobrevoar esta polémica nos seus termos mais concretos e antes salientar sem ser em direcção a José Queiroz mas sobretudo dando um testemunho pessoal para os leitores mais interessados nesta problemática:

1. A mais grossa questão envolvida neste assunto é o dos chamados «critérios editoriais» ou «critérios jornalísticos» que, como José Queiroz saberá melhor que eu, são as mais das vezes o território da maior subjectividade que imaginar se possa e frequentemente a cortina protectora para todo o tipo de acrimónias, discriminações e preconceitos.

2. Uma das minhas maiores dificuldades que já tive em diálogos pessoais com personalidades ligadas à comunicação social ou especialistas no sector, e até com aquelas dotadas de maior abertura intelectual e de  maior espírito crítico resume-se nisto e solução não tem: é que essas personalidades tem sobretudo uma memória geral ou difusa e um pensamento e reflexão globais sobre certos fenómenos enquanto eu tenho na memória centenas de casos concretos de manipulação e discriminação  contra o PCP e em violação de decentes «critérios jornalísticos». E tenho-a não apenas por causa das dezenas de cartas , exposições ou comunicados que escrevi em nome do PCP e no natural exercício de responsabilidades no meu partido mas também pelas muitas e muitas dezenas de crónicas de imprensa que publiquei, quer no Avante! quer no Semanário sobre esses e outros casos concretos, sem que 99,8% delas suscitasse qualquer resposta ou reacção dos visados.

3. Tivesse eu vida, idade e paciência para fazer uma acampada de 15 dias  na Hemeroteca Municipal de Lisboa e garanto-vos que bem podia editar com fac similes um ensaio ou, mais modestamente, um opúsculo, sobre a  grande tradição de isenção dos «critérios editoriais» do «Público» (onde, entre outras centenas, não poderiam deixar de figurar as inesquecíveis prosas de Duarte Moral quando acompanhava o PS, aquela mesma notícia sobre uma iniciativa qualquer de José Luís Judas, Barros Moura e outros que saiu três vezes só com meros retoques na ordenação dos parágrafos e, gloriosa época, as fotos de dirigentes do PCP em conferências de imprensa tiradas a partir do nível chão ou com «olho de peixe» (cheguei a desabafar na época que era melhor pôr alcatifa na sala de conferências de imprensa da Soeiro Pereira Gomes).

2 comentários:

  1. Não é Joaquim Fidalgo (ainda por cima escrito uma data de vezes!) é José Queirós e realmente o artigo merecia uma resposta mais acutilante.

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  2. São tantos os exemplos da falta de isenção dos "media" nas notícias divulgadas, quando se referem aos assuntos que poderão dar uma outra e verdadeira visão do que se passa no país e no Mundo!!!!

    Um beijo.

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