19 outubro 2011

Sem qualquer tacticismo

Apenas três notas sobre Cavaco


Para além de uma referência feita junto a jornalistas de que o corte do subsídio de férias e de Natal aos trabalhadores da função pública representaria uma violação do príncipio da «equidade fiscal», Cavaco Silva declarou hoje no Congresso da Ordem dos Economistas que “a austeridade orçamental, só por si, não garante que, no futuro, o país se encontrará numa trajectória de crescimento económico e melhoria das condições de vida” e que   “é necessário evitar que cresça na sociedade portuguesa o sentimento de que é injusta a distribuição dos sacrifícios, que se exige relativamente menos aos que têm maior capacidade contributiva do que a muitos outros com rendimentos mais baixos”.

Sobre estas afirmações concretas recuso-me completamente a alinhar na polvorosa que por aí vai de que «Cavaco tirou o tapete ao Governo» ou que «Cavaco é agora o líder da oposição» e também não quero cometer a simplificação ou fazer o processo de intenções que seria dizer que há alguém que sempre apoiou um determinado caminho de agressão e agora quer ficar bem no retrato e em alguma sintonia com os agredidos. Limito-me antes a registar sobriamente que:

1. Em relação às afirmações de Cavaco Silva no Congresso da Ordem dos Economistas acima citadas, o PCP anda a dizê-lo e de forma mais clara e imperativa do que Cavaco desde os tempos do primeiro PEC. Em contrapartida, Cavaco Silva ainda há bem pouco tempo  ao mesmo tempo que reafirmava o seu apoio ao acordo com a troika reclamava mais crescimento económico, como se não soubesse que nunca se viu apagar incêndios com gasolina ou conseguir misturar o vinagre com o azeite. (ponto importante: não se confunda o que se acaba de ler com a pesporrente e arrogante declaração de António José Seguro de que "Verifico com agrado que o senhor presidente da República tem estado atento e seguido as minhas declarações em relação ao OE»).

2. Já quanto à equidade fiscal, se porventura a ideia do Presidente da República é que asssim não falaria se os trabalhadores do sector privado tivessem sido igualmente atingidos, então não outro remédio do que responder, sem punhos de renda, que a exigência do momento actual é a de anular essa gravosa injustiça e ataque aos trabalhadores da função pública e não alargá-la aos demais trabalhadores (como acaba de defender Vítor Bento, Conselheiro de Estado nomeado por Cavaco).
3.
O Presidente da República não se pode queixar de qualquer injustiça na suposição, temor ou suspeita formulada no ponto anterior. Tem uma maneira muito simples de a afastar ou derrotar: é declarar, preto no branco,  que o seu objectivo e o sentido das suas palavras é que seja eliminado do OE para 2012 os cortes de subsídios à função pública. 
Por mim , e nos ásperos e difíceis  tempos que correm, se tal acontecesse, estaria inteiramente disponível para reconhecer que se tratava  de uma contribuição positiva do PR  para alargar o clima nacional de repúdio de uma medida socialmente repugnante
e economicamente desastrosa.

2 comentários:

  1. Muito bom o comentário. Gostei muito. Concordo inteiramente.

    Um beijo.

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  2. A seguir à noticia veio logo à TV o seu "economista chefe" Vitor Bento, defender (ou seja traduzir as palavras do chefe) que as medidas devem TAMBÉM ser para os privados.

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