18 dezembro 2013

Com todo o respeito e muita cordialidade

Cuidado com as palavras


Porque já escrevi de sobra a respeito desse fenómeno persistente e recorrente dos apelos à «convergência das esquerdas» que planam sobre dolorosas realidades e graves divergências e tendem quase sempre a comodamente amalgamar responsabilidades e porque o manifesto ontem divulgado, embora invocando esse santo e essa senha, o que mais substancialmente  desenha é um projecto ou tentativa (naturalmente legítimos) de resolver problemas de representação eleitoral no Parlamento Europeu de uma limitada e heterógenea área da esquerda, não tencionava escrever, pelo menos por agora, nada sobre o assunto.

Mas quando a  apresentação de uma iniciativa deste tipo já parece incluir uma piada ou remoques a terceiros também solidamente da esquerda, o caso muda de figura.

De facto foi com algum espanto que li (se tiver havido distorção jornalística, já cá não está quem falou)  no Público (sublinhados meus) que « o ex-secretário de Estado do Ensino Superior do último governo Guterres, José Reis, sintetizou a ideia ao afirmar que "a esquerda se deve unir onde tem estado dividida" e que "diminuirão a esquerda os que forem sozinhos».

E, assim, começa que se devia saber que o uso da expressão «os que forem sozinhos», usada num contexto em que muito se falou de eleições europeias, pode permitir a interpretação de que se estaria a defender  que a famosa «convergência» de todas as forças de esquerda se devia exprimir numa coligação nas eleições para o P.E.

Prefiro porém ainda acreditar que o Prof. José Reis não partilhará da visão simplista e esquemática que associasse a «convergência» a coligações, ainda por cima para o PE onde existe um círculo único e onde, salvo surpresa, a banhada que a coligação PSD-CDS vai apanhar se verá pelo seu resultado e pela soma dos resultados dos partidos da oposição ( a meu ver, certamente superior ao que obteriam se (por absurdo, dado ser a temática europeia uma das matérias de mais estruturantes divergências) fossem coligados.

Embora o «forem sozinhos» aí não faça grande sentido semântico, quero pois admitir que o Prof. José Reis não estava a falar de coligações mas sim das divisões políticas e programáticas que, grosso modo, têm separado PS, de um lado, e PCP e BE, do outro. Nesse caso, dado que o Prof. José Reis enfatizou que «a esquerda se deve unir onde tem estado dividida», fico a aguardar  que, já que o manifesto ontem divulgado afirma uma justa posição contra o Tratado Orçamental, nos seja explicado como é que os  estimáveis promotores deste manifesto julgam possível superar essa sua «divisão» com o PS que  aprovou esse  perigosíssimo Tratado e dele continua a ser um firme defensor.

4 comentários:

  1. Outrora, de Mário Soares a Guterres, o PS era a ponta de lança que abria a "estrada" contra o socialismo, incluindo as revisões constitucionais de mãos dadas com o psd e se necessário, coligado com o cds.

    E em momentos de crise, lá aparecia o alegre rilo falante como agora soares, que "elogiou" passes e coelho após este ter traído sócraztes no PEC IV e a sua subsequente defenestração para paris e o subsequente regresso à rtp pela mão de relvas. Agora, soares "elogia" sócrates, que se ufanou de ser o líder "democrático" que a direita gostaria de ter. E perante o descrédito do PS, qual fénix renascida das cinzas, surgem "partidos" ou movimentos para lavar o ps com água de rosas isolando o pcp. "sectário" e classificado - conjuntamente com o bloco - de serem a extrema esquerda irresponsável, sem sentido de estado, aliados à direita ultra-liberal, segundo as litanias de assis ribeiro zorrinho seguro.

    Esta é a realidade e o público e restantes órgãos de comunicação cumprem apenas o seu papel, determinado por belmiro balsemão e tutti quanti.

    Se Cavaco lá está na 2ª volta foi pk o Bloco avançou sózinho com alegre/ps e sócrates/ps"queimou" a candidatura apoiando-a.

    Aliás, cumprindo o seu papel histórico, o ps pela mão de sócrates assinou o memorando conjuntamente com pedro e paulo, embora se "queixe" que teria siudo traído pelo seu ministro das finanças, o teixeira.

    Os "incentivadores" dos movimentos "espontâneos", de partidos "livres" e das candidaturas "independentes" não são pessoas ingénuas e que acreditem em milagres da senhora da anunciada ou do coração de cristo. Sabem ao que vão - isolar o pcp mas não só, branqueando o ps da social democracia, por sinal com uma política de direita em frança e coligados à democracia-cristã de merkel na alemanha.

    Por alguma razão o pela pena do provedore do leitor do público escrevia que não queria "líderes" partidárxiuos a escrever lá, mas que rui tavares ainda não era líder, pois os líderes não são isentos. Isentos, no público, são no público, no expresso e nas tv's os marcelos marques mendes sócrates daniel oliveira morais sarmento rui tavares antónio costa assis ferreira leite e demais "políticos" potenciais candidatados a líderes

    Por alguma razão terão tempo de antena e espaço para escreverem.

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  2. em tempo - qualquer cidadão percebe, compreende, entende, aceita e concordará que para a escolha dos dirigentes e dos "programas" dum clube de futebol, sejam o porto, Benfica, sporting ou o clube do bairro votem apenas os sócios - com as quotas em dia - e não os adeptos de outros clubes ou a "sociedade civil".

    Mas para os partidos lá vem a recorrente mistificação das "primárias", das "bases", das "directas", em que vota tudo à molhada, numa "caldeirada ideológica". E assim se apresentam viscosamente "independentes", "livres" e "personalistas"

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  3. Pois é. Gostava que me definissem os independentes e mostrassem qual a sua linha de ação no processo de resistência e luta por uma sociedade mais justa , sem exploradores e oprimidos.

    Um beijo.

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  4. Aqui está um texto bem interessante sobre " a unidade das esquerdas":
    http://www.manifesto74.blogspot.pt/2013/12/o-mito-da-unidade-das-esquerdas.html
    Ass:De

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