13 outubro 2012

Esta não passa em branco

Um triste alinhamento
do Cardeal-Patriarca

Por razões tácticas mas também por considerar que, comparado com outros, me aparecia como uma pessoa sensata e equilibrada, não me lembro de alguma vez ter criticado afirmações de D. José Policarpo, Cardeal-Patriarca de Lisboa. E até me consegui conter quando, há poucos anos, em entrevista à revista dominical do Público, teve a desfaçatez de dizer que acharia a coisa mais natural deste mundo se houvesse crucifixos nas salas de aula do ensino público.

Ouvindo-o ontem e hoje na televisão e lendo a notícia do Público sobre as suas recentes declarações, chega porém o tempo de não as deixar passar em claro.

Com efeito, refere aquele jornal que D. José Policarpo se declarou "incompetente" para «se pronunciar sobre medidas concretas don actual ou de anteriores governos». Entretanto já se considerou competente para postular, aliás a desproposito,  que «a democracia que se define constitucionalmene como democracia representativa, na qual as soluções alternativas têm um lugar próprio para ser apresentadas, neste momento está na rua». Também se mostrou competente para declarar  que os problemas não se resolvem "contestando, indo para grandes manifestações». E, por fim, também se mostrou competente para considerar  "que há sinais de que os sacrifícios levarão a resultados positivos", sendo que na televisão o ouvi mesmo dizer que "não há outro caminho".

Com um tão patente e chocante alinhamento com a política governamental, o Cardeal-Patriarca destoa não só das afirmações de outros bispos como da opinião e estado de espírito de milhões de católicos portugueses.

Por mim, embora as situações sejam incomparáveis na gravidade e duração, só quero lembrar a D. José Policarpo que, no século passado, já tivemos décadas de mais de colagem e cumplicidade da Igreja Católica com o poder.

6 comentários:

  1. Boa noite!
    Declarações dignas de um Cardeal Cerejeira do século XXI. E como candidatos a Presidente do Conselho e a venerando Chefe de Estado também já temos, a Santíssimo Trindade fica completa. É preciso corrê-los enquanto as ameaças não passam disto mesmo.
    Abraço
    Fernando Oliveira

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    1. Subscrevo integralmente!

      Fernando Oliveira, outro, homónimo.

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  2. EU SOU CATÓLICO E ESTUDEI, FREQUENTEI A CATEQUESE E A IGREJA. DE TUDO O QUE APRENDI UMA COISA FICOU. A PARTIR DE UM MOMENTO NA HISTÓRIA A IGREJA TORNOU-SE CONIVENTE COM O PODER. E PORQUÊ?? PORQUE SE O PODER QUISER A IGREJA ACABA??? NÃO... SÃO OS DOIS CONIVENTES UM COM O OUTRO. CÁ EM PORTUGAL É ASSIM. O PODER SERVE A IGREJA E, A IGREJA SERVE O PODER.

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  3. Meu caro Vitor Dias,
    com gente como este senhor e numa altura em que o 1º ministro já não tem qualquer pudor em fazer as acusações graves que fez ao PCP, na AR, temos que chamar os bois pelos nomes.
    Foi por isso que me lembrei de Cerejeira quando escrevi isto:
    http://fjsantos.wordpress.com/2012/10/13/13-de-outubro-uma-peregrinacao-diferente-e-em-lisboa/

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  4. O que resolve o problema é ter as pessoas a palmilhar quilómetros, a arrastar-se de joelhos, a queimar velinhas e a prostrarem-se diante de imagens de loiça ... desde que deixam uma boa esmolinha vale tudo.

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  5. O Cardeal Patriarca (a voz da igreja, em Portugal) gosta muito de meter-se onde não é chamado e, quando assim é, entra mosca ou sai asneira. Os canalhas do governo devem ter-lhe ficado muito gratos. É tudo farinha do mesmo saco, a história já vem de longe, de muito, muito longe... Para mim não é novidade, há muito que deixei de acreditar nessa escumalha!

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