11 junho 2012

Elogio da coragem política ou...

... perder com honra


A imprensa francesa, e por contágio a imprensa portuguesa, destacam o desaire de Jean-Luc Melenchon, candidato do Front de Gauche (PCF+PG et alia) na circunscrição de Henin- Beaumont (Pas de Calais) onde se candidatou com o propósito afirmado de derrotar Marine Le Pen e de impedir a sua entrada no Parlamento. Tratava-se uma cartada muito arriscada e que, como acontece com algumas delas, não funcionou. Na verdade, ao invés do que as sondagens tinham enunciado, Melenchon (por meros 2 pontos percentuais !) não conseguiu o segundo lugar mas o terceiro com 21,48% dos votos (em 2007, o candidato do PCF tinha aí obtido 8,47%), antecedido por Phillippe Kermel do PS com 23,50% e Marine Le Pen com 42,36%. Diga-se a este respeito que, ao contrário do que se afirma hoje no Público, Melenchon não foi «afastado» da 2ª volta pois qualquer candidato com mais de 12% pode participar nelas. Melenchon e o Front de Gauche não o fazem, não por impossibilidade legal, mas por uma política de respeito pela chamada «disciplina republicana» na 2ª volta.  Entretanto, é bem possível, e talvez até compreensível, que este desaire de Melenchon se tenha ficado a dever ao facto de um segmento dos eleitores à esquerda ter pensado que um candidato do PS era mais agregador e menos passível de preconceitos na hora de tentar vencer Marine Le Pen na 2ª volta.

Quanto a mim, esta aposta do Front de Gauche e de Melenchon tem de ser entendida num quadro de orientação política, já absolutamente notória nas presidenciais, de não dar tréguas à Frante Nacional. Com efeito, nenhuma outra força política combateu tão forte e persistentemente a FN como o F.G. e os partidos que o integram. E se ainda percebo alguma coisa de política e de eleições, atrevo-me a dizer que o fizeram por dever e coragem política e não tanto por cálculos de ganhos eleitorais, já que não foi certamente por acaso que tanto o PS como a UMP sempre foram muito discretos nos ataques à FN. Quero com isto dizer que o ataque político em devida forma a Marine Le Pen e à FN, pode e deve ser um imperativo democrático mas também comporta o risco de crispar e indirectamente hostilizar a ampla e popular base eleitoral da FN.

Considero importante escrever isto porque, tanto nas presidenciais como nestas legislativas, não pouco imprensa se empenhou em apresentar desonestamente Melenchon/ Front de Gauche e Marine Le Pen/FN como duas faces da mesma moeda populista, demagógica e anti-europeia. Para os que porventura ainda tenham dúvidas está aqui, em PDF, o argumentário anti-Frente Nacional elaborado pelo PCF.


Adenda em 12 de Junho:
Parecia que estava a adivinhar: no Público de hoje até um jornalista, Jorge Almeida Fernandes, com vasta experiência em política internacional considera que «Marine trucidou literalmente Mélenchon» e que «o líder [?] da Frente de Esquerda não passou sequer à segunda volta». E viva a seriedade, rigor e  profundidade de análise !

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