Por desfastio e enjoo, não abordei aqui as declarações de Passos Coelho de elogio à «paciência» dos portugueses nem a monumental ripada que D. Januário dos Reis Torgal a esse respeito lhe deu.
Mas não tenho nenhum problema em colmatar essa lacuna, citando parte do que hoje Pacheco Pereira escreve no Público. Com efeito, ele arranca assim (sublinhado meu): « Eu já vejo com muitas reservas esta obsessão dos dias de hoje de atribuir estados de alma a toda a gente para explicar tudo e mais alguma coisa, e por isso sou avesso, por maioria de razão, a embarcar na mesma ideia de que isso se possa fazer ao povos. Isso a propósito da paciência do povo português celebrada pelo primeiro-ministro como virtude ímpar numa Europa turbulenta.Claro que se podem dizer muitas coisas sobre «o povo português»: que está "zangado" com a crise, que está "furioso" com os políticos, que está "deprimido" com o empobrecimento forçado, que está "prostrado" pela inação, que tem uma infinita "paciência". Há, no entanto, várias coisas que ninguém tem a coragem de dizer e o problema dos excessos de psicologia começam aqui. Ninguém tem a coragem de dizer que que o povo português está "contente" com o ajustamento, que fica "feliz" porque passou a ter, como lhe dizem os governantes, que viver com os seus parcos recursos, e não pode viver mais do crédito (um parêntesis para dizer que um dos absurdos da actual situação que parece escapar a muitos é que todo este "ajustamento" se está a fazer "para o país voltar aos mercados", ou seja, para pedir mais dinheiro emprestado...), que está "consciente" de que o futuro do seu país é risonho após o termo desta revolução dos costumes", que "compreende" que tem que sofrer para depois renascer como a Fénix (...)».
Claro que, da minha lavra, eu diria outras mais coisas. Mas, em voz alheia e politicamente de mim distanciada, estas já chegam.
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