Herdeiros da ideologia
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Numa coisa estou pronto a fazer justiça ao actual governo: é quando reconheço que, desde o 25 de Abril, nunca houve um governo assim que, por razões de disfarce, combinasse tão sofisticadamente uma política ao serviço dos poderosos como pequenos gestos de caridade e compaixão pelos pobrezinhos.
E termino com duas observações complementares:
- a primeira , que tem alguma ironia histórica, é para lembrar que com esta medida este governo de direita imita o errado desprezo e hostilidade que, em algumas circunstância, alguns países socialistas tiveram em relação à questão dos «estímulos materiais»; desconfio por isso que as consabidas piadas, em regra ligeiras, sobre a «construção do homem novo» passarão a ter outros destinatários;
- a segunda é que com esta coisa de serem os premiados a escolher quem são os carenciados da sua escola que, em seu lugar, vão receber os 500 euros, ainda não percebi o que acontecerá se, por bambúrrio, um dos premiados pertencer ele próprio ao grupo dos «carenciados».
Santo Deus, para o que estávamos guardados: os valores do chamado «Portugal profundo», longa e sistemática consolidados ao longo de 48 anos de ditadura, duram, duram, duram muitíssimo mais que a pilha do anúncio, porra.
No meu tempo de Liceu,há muitos, muitos anos,nós levávamos à festa de Natal uma menina pobrezinha para lhe oferecer um lanche, um brinquedo e uma pecinha de roupa. Era o espírito do Natal, diziam-nos.
ResponderEliminarComo nos vamos aproximando desses tempos.
Um beijo.
Isto é um ensaio com os juniores sobre o que ameaçam fazer aos pais: apontar objetivos difíceis de alcançar com a ameaça de despedimento e, objetivos alcançados, elevar a fasquia para que a "justa causa" de despedimento continue válida, eternamente válida.
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