27 novembro 2011

A memória, questão central do nosso tempo

Desabafo ligeiro de domingo


Em boa verdade, já não tenho nem idade, nem paciência, nem disposição nem métodos de trabalho para nos últimos tempos ter andado a apontar minuciosamente num caderninho coisas que vou ouvindo das mais surpreendentes bocas e que, sendo ditas com a maior da desfaçatez e a mais fascinante das naturalidades, me causam um  considerável espanto resumido na fórmula «a minha alma está parva».

Já disse que não tenho caderninho mas juro que, tal como acontecerá aos leitores, de há uns tempos a esta parte, nos fragmentos noticiosos que vou apanhando, me aparecem ou o Seguro ou o Cavaco a perorar que não é caminho somar austeridade à austeridade, para já não falar das dezenas que descobrem agora que sem crescimento económico nada feito ou do Público que descobre hoje, em editorial,  que Portugal precisava de se fazer ouvir na UE articuladamente com os outros países do sul ou todos aquueles que , por estas ou aquelas palavras - renegociação, reestruturação, alteração de prazos e de juros -, salientam que, sem isso, virá aí o charco mais pestilento e asfixiante que imaginar se possa.

Ora acontece que, como em pequenino, tomei a vacina contra as amnésias de conveniência, me lembro perfeitamente que quem dizia coisas ssim durante a campanha das últimas legislativas era o PCP que então se fartou de levar na tola até mais não por parte de muitos dos que agora, com nuances ou sem  elas, lhe repetem parcialmente o discurso.

Entretanto, na calma solarenga deste domingo, acabo por encontrar uma explicação cómoda e inocente para o que tanto espanto me causa. É que uma vez, agravando os meus próprios juízos e reflexões, José Pacheco Pereira reduziu a memória política em Portugal ao período de duas semanas e, feitas as contas,  as últimas eleições legislativas já foram quase há sete meses.

2 comentários:

  1. Mas tem memoria bem selectiva caro Vitor Dias.

    Porque a bem da verdade não foi só o PCP , que nas ultimas legislativas defendeu essas propostas.

    ResponderEliminar
  2. A minha memória anda bem mal, mas bem me lembro de que muito do que se anda por aí a dizer , o PCP sempre o disse. Se outros o repetiram, tomando-o como seu, não afeta em nada a posição sempre coerente do PCP.

    Um beijo.

    ResponderEliminar