(um camarada de Sacavém dá a mão a Luísa Amorim)
Aviso prévio: este «post» é um supremo enjoo para os leitores mais antigos de «o tempo das cerejas» que porventura se lembrarão quantas vezes, a propósito de fantasias de Vasco Pulido Valente, Zita Seabra e outros, reconstituí de forma testemunhal o que efectivamente se passou na chegada de Álvaro Cunhal ao Aeroporto da Portela.
Acontece que o Público de hoje insere uma peça onde são feitas múltiplas citações de um livro recente de Mário Soares de que, no que toca a este assunto, extraio a seguinte passagem (sublinhados meus): «(...) À saída do aeroporto estava uma pequena multidão à espera de Cunhal. E, paradoxalmente, havia um tanque estacionado. Para quê pensei eu ? Cunhal subiu para o tanque e, salvo erro entre um soldado e um marinheiro, retirou um discurso do bolso e começou a falar. Um dirigente comunista, que não recordo quem fosse, convidou-me a subir para o tanque o que fiz com alguma relutância, diga-se. Quando Cunhal se apercebeu que eu estava ao lado dele, disse qualquer coisa a um camarada, o qual pouco depois me pediu para descer porque - como disse - houve um equívoco. Desci com grande gosto, porque percebi o cenário: Cunhal entre um soldado e um marinheiro, em cima de um tanque, era algo que lembrava Lènine, no seu regresso a Moscovo...(pág. 183)».
Com pedido de desculpa aos leitores que já conheçam a história de cor e salteado, não tenho outro remédio se não repetir ou observar:
1. Já expliquei várias vezes que nem Álvaro Cunhal nem Domingos Abrantes (que com ele viajou de Paris) faziam a mais pequena ideia do que se ia passar uma vez transpostas as portas do aeroporto e de que sítio iria Cunhal falar e já contei, como testemunha visual, que foram os militares (chefiados quanto a mim por Jaime Neves) que propuseram a Álvaro Cunhal que subisse para cima da chaimite.
2. Quanto a alguém ter pedido a Soares para descer da chaimite, como estava atrás desta e não à frente, nada posso garantir, a não ser que; como a imagem mostra, já Cunhal discursava e Mário Soares ainda estava em cima da chaimite; não conheço nenhuma imagem do momento em que Soares não figure em cima da chaimite; e, por fim, parece inacreditavelmente que, segundo a descrição de Soares, Álvaro Cunhal teria interrompido o discurso para sussurrar a um seu camarada: « tirem dali o Soares».
3. Dou generosas alvíssaras a quem na foto de cima descobrir o famoso marinheiro de que Mário Soares fala.
3. Dou generosas alvíssaras a quem na foto de cima descobrir o famoso marinheiro de que Mário Soares fala.
Imagem da chegada de Mário Soares a
Santa Apolónia (aí a multidão já
devia ser imensa) em que este está
acompanhado à esquerda por um
nada relutante Dias Lourenço e por
dois militares
(um dos quais abraça no frame
a seguir deste vídeo do INA francês).
Santa Apolónia (aí a multidão já
devia ser imensa) em que este está
acompanhado à esquerda por um
nada relutante Dias Lourenço e por
dois militares
(um dos quais abraça no frame
a seguir deste vídeo do INA francês).
P.S.: Fazendo justiça a uma obra injustamente silenciada e esquecida, lembro que nas bibliotecas será possível encontrar este Dicionário Político de Mário Soares, da autoria de Pedro Ramos de Almeida, que ilustra de modo arrasador a constância e coerência de opiniões de Mário Soares nos primeiros anos após o 25 de Abril.
Não quereria Soares referir-se antes à chegada de Lénine à estação de Bieloostrov, em Petrogrado (mais tarde Leningrado)?
ResponderEliminarSeja como for a comparação de Soares é mais uma das suas fantasiosas dramatizações. Ele que ficou célebre por chamar "paranóicos" aos dirigentes do PCP.
Para a recepção a Álvaro Cunhal foram feitas três bandeiras do PCP no dia anterior, creio, a 29 de Abril, em casa da amiga Adelaide Matos (minha mãe), na Cova da Piedade. Ainda guardamos religiosamente (passe o termo) um exemplar. Sabemos que uma delas foi para o Barreiro, para o Centro de Trabalho (foi inaugurado por esses dias). Da outra perdemos o rasto. Desculpa o comentário um bocado "ao lado da baliza". Abraço.
ResponderEliminarcarlosrsilva@iol.pt
Il dit n'importe quoi
ResponderEliminarAlém do escrito, retomou a tese na entrevista de ontem à SIC, orgulhando-se, mais à frente, de terem sido os socialistas com ele ao comando, que contribuiram para as famosas "sete derrotas do Cunhal".
ResponderEliminarO compadre do capital, por certo o principal obreiro da contra-revolução, não derrotou Cunhal. Derrotou o povo português, os sonhos de Abril, iniciando o caminho do desatre e da presente falência em que o país está.
Com Mários Soares, Spínolas e outos que tal, começou a contra- revolução em Portugal.E logo no dia 25 de Abril.
ResponderEliminarUm beijo.
Ainda por cima na entrevista que deu à Constança Cunha Sá Mário Soares admitiu que tinha estado pronto a iniciar uma guerra civil com bombardeamentos sobre Lisboa feitos a partir da base aérea de Cortegaça. E a entrevistadora deixou passar isso como se fosse a coisa mais natural do mundo...
ResponderEliminarNa foto onde Mário Soares aparece na estação de Santa Apolónia, parece que estão mais militares que os dois referidos pelo Vitor. A primeira pessoa da esquerda, embora sem chapéu e sem casaco militar, parece envergar uma camisa militar.
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