16 setembro 2012

Ah, afinal é para isso ?

Dos "máximos" para a
"mínima" 
e "escarrapachar-lhes"

O meu bom amigo Paulo Granjo, a respeito do «Congresso Democrático das Alternativas» (iniciativa apresentada numa base contra o memorando a que o PS continua vinculado) acaba de escrever isto aqui.
Como não desejo num dia destes entornar nenhum caldo, acho que os meus sublinhados falam por si.  E quanto à «plataforma mínima» remeto para os dois últimos parágrafos do que escrevi aqui.

4 comentários:

  1. Viva, Vítor.

    Com algum atraso (só agora reparei no post), permite-me esclarecer alguns sublinhados.

    Não sei o que outras pessoas, com formações e percursos políticos diferentes do meu, estão a pensar quando falam de "plataformas mínimas".
    No meu caso, a referência semântica é o Programa Mínimo do PSDR(b), das nossas leituras de juventude e não só. Um programa que não incluia todos os objectivos estratégicos, mas apenas aquilo que era considerado imprescindível e possível num momento histórico e político concreto.
    Nesse mesmo sentido, uma plataforma de ruptura com o memorando e as políticas que em seu nome são prosseguidas, adoptável pelos partidos que se reclamam da esquerda e em que se revejam os cidadãos que partilham desse objectivo, não pode deixar de ser "mínima" para cada uma das partes. Tanto porque pode vir a ser alargada no futuro quanto porque, sobretudo, cobre apenas uma parte dos seus objectivos políticos e programáticos - aquela parte, precisamente, que seja comum e consensualizável entre os intervenientes.

    Para que essa parte seja tão larga e abrangente quanto possível, tem que reflectir e integrar - para utilizar uma metáfora matemática corrente - os "máximos denominadores comuns" (ou seja, tudo aquilo que é comum ou consensualizável) e não os "mínimos denominadores comuns".

    Não há, então, contradição de termos, nem grande razão para se ser jocoso, a não ser o papel quase sempre saudável do humor.

    Quanto ao uso futuro dos resultados dos debates temáticos que estão e vão decorrer no Congresso Democrático das Alternativas (uso relativamente ao qual o que deixei escrito não é uma posição generalizada entre os organizadores, é a minha), permite-me esclarecer alguns aspectos acerca da minha posição.

    (continua)

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  2. (...)
    Se esse processo de debate e consensualização (no CDA) chegar a bom porto, será de facto extremamente difícil a qualquer partido de esquerda encontrar, no documento e propostas resultantes, alguma coisa com que não concorde ou que, pelo menos, não possa aceitar como desejável.

    Prevejo que o partido que mais justificação terá para reservas quanto ao conteúdo seja o PS - precisamente por, conforme referes, se manter ainda vinculado ao memorando. Também aí, o documento resultante poderá ter um papel relevante para a alteração da situação.
    Entre outras coisas, por demonstrar a existência de alternativas coerentes à lógica austeritária e de destruição de direitos sociais, já consensualizáveis entre cidadãos que se situam em todos os pontos da amplitude da esquerda, com partido ou não - uma demonstração que, por si só, é muito valiosa para a luta ideológica contra o pensamento único das "inevitabilidades", a travar junto dos nossos concidadãos.

    Considero que a convergência das forças de esquerda em torno de uma plataforma alternativa em que cada uma delas se reveja (pelo menos em termos "mínimos", no sentido que antes esclareci) é uma necessidade de emergência nacional e um dever para com os trabalhadores, desempregados, reformados e jovens. Considero também que, nessa convergência, os partidos políticos são a imprescindível expressão institucional (e potencialmente governativa) dessa aspiração e alternativa.

    Temo que, pelo historial de relacionamento entre os partidos de esquerda (incluindo os traumas mútuos) e pelos hábitos dominantes de luta partidário e competição de poder aos vários níveis da sociedade (que nada têm de inesperado), esse necessário esforço de convergência e consensualização em torno do essencial não venha a ser feito pelos partidos, a não ser as que condições e pressões externas (e eventualmente internas) não lhes deixem outra alternativa sem que percam a face.

    É deselegante pressioná-los, é atentatório dos brios e relações de poder na(s) arena(s) política(s), mas não vejo outra alternativa se não pressioná-los, demonstrando que uma plataforma comum entre forças plurais é viável, e que os cidadãos não aceitarão que não se esforcem por chegar a um acordo programático capaz de correr com a direita e de estabelecer uma política de justiça social, em rusptura com o memorando, o empobrecimento e a destruição de direitos - seja aproveitando o que sair do CDA, seja partindo de uma folha em branco.

    Por fim, como cidadão e como militante de esquerda, considero meu dever esforçar-me por isso, neste quadro actual que não é apenas de esbulho a quem trabalha ou trabalhou, mas uma autêntica revolução reaccionária que destroi aceleradamente quase todos os principais elementos do contrato social estabelecido com o 25 de Abril, incluindo alguns que até já vinham (mesmo que de forma incipiente ou distorcida) dos tempos da ditadura.

    Suponho que, esclarecido isto da minha parte, não existirão razões para entornar caldos.
    Quanto muito, para os engrossar.

    Um abraço!

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    1. Caro Paulo:

      Num esforço para me ater ao que considero essencial, apenas o seguinte:

      1. Acho que que é preferível ser «jocoso» do que, intelectual e politicamente arrogante, como tu foste designadamente com aquela do «escarrapachar» aos partidos não sei o quê.

      2. Tu ouviste, mas podes não te recordar da intervenção que fiz num colóquio da ATTAC exactamente sobre a questão da alternativa e que mantenho inteiramente.

      3. Confesso que me custa muito compreender como é que demasiadas pessoas como tu, isto é que lidam com a dificuldade e complexidade da questão da alternativa há duas ou três décadas fazem ou dizem duas coisas: a)sobrevalorizarem enquistamentos, sectarismos e Cª e soterrarem graves diferenças de orientação política sobre questões estruturantes que vêm muito de atrás e que os tempos mais recentes, em vez de atenuarem, agravaram; b) imaginar que a elaboração de uma plataforma (mínima ou máxima) por vias exteriores aos partidos tem o poder suprimir ou obscurecer o que está na alinea a).

      3) Relembro que, num texto recente para o qual agora não sei linkar, tu escreveste que, na emergência actual, o que pode unir os partidos de «esquerda» (as aspas são por causa do PS)é muito mais do que aquilo que os separa e opino que só se pode escrever isto deixando de fora temas tão estruTUrantes e cruciais como AS ORIENTAÇÕES DE POLÍTICA EUROPEIA, O TRATADO ORÇAMENTAL, AS ALTERAÇÕES À LEGISLAÇÃO LABORAL, AS PRIVATIZAÇÕES PASSADAS E RECENTES ETC., ETC.

      4)Custa-me também muito ver pessoas que, em muitos casos, terão críticado a governação Sócrates e atitudes actuais do PS tanto como eu, volta não volta, escreverem parágrafos em que se desenha uma indiferenciada responsabilidade entre PS, PCP e BE.


      5)Para além de questões de processo, considero que o erro e desvio maior da iniciativa a que estás ligado é precisamente a obsessão de, no fim, passar a factura aos partidos, embora muitos dos promotores não possam deixar de saber que o único que vai sair bem da fotografia do desafio é o BE não só porque altos responsáveis seus estão desde inicio na origem e formatação da iniciativa como também porque este partido é capaz de sacrificar muito para ter boa imagem junto de milhares de pessoas que, tão emotiva como ansiosamente, ou aspiram respeitavelmente a uma alternativa ou a um «entendimento» à esquerda.

      6)Quero com isto clarificar que, para mim, o CDA podia ter um papel positivo se tivesse assumido como seu EXCLUSIVO objectivo popularizar E ALARGAR O APOIO SOCIAL E POLÍTICO DOS CIDADÃOS A EIXOS FUNDAMENTAIS E MEDIDAS DE UMA NOVA POLÍTICA, NECESSARIAMENTE EM RUPTURA COM O MEMORANDO DAS «TROIKAS» (PLURAL PROPOSITADO.)

      Abraço do
      Vítor

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    2. Querido amigo:

      1. O que apontas como desejável na alínea 6 é a única coisa que está consensualizada entre os organizadores do CDA, e foi assumida como tal. Os restantes objectivos que expuz como desejáveis são da minha responsabilidade (mesmo se é possível que alguns outros organizadores possam concordar comigo).
      Assim sendo, o papel positivo que lhe reconheces no condicional não deve deixar de ser reconhecido sem "ses".
      Nesse quadro, não pode deixar de me entristecer que não existam militantes do PCP com uma maior notoriedade e responsabilidade partidária do que aqueles que lá estão, a contribuirem para o debate na comissão organizadora e na redação de textos para discussão.
      Os resultados, o país e o PCP só teriam a ganhar com isso.

      2.Quanto às possibilidades de convergências, é plausível (teu ponto 3) que as privatizações e parte dos aspectos mais importantes acerca das orientações de política europeia estejam para lá da possibilidadede acordo. Não me parece, de todo, ser o caso da revogação do tratado orçamental (e alternativas a ele), das alterações à legislação laboral (incluindo as feitas pelo PS), ou da reversão da degradação estratégica do SNS, da escola pública, da segurança social e da confiabilidade da contratação colectiva.
      Não me parece pouco. E parece-me, neste momento e contexto histórico, o essencial (e merecedor de esforços).

      3. As responsabilidades na situação actual são incomparavelmente diferentes. Tal como as polítivas defendidas acerca de vários aspectos-chave, no passado.
      Mas muita gente aprendeu muito neste ano e meio, perante coisas que, decorrendo por vezes de políticas que o próprio PS começou por promover, demonstraram estar para lá de todos os limites aceitáveis por quem se considere "de esquerda", por muito "moderada" que seja.
      O que eram, então, assuntos tabu e propostas hiper-redicais aos olhos da direita das nossas esquerdas são, hoje, quase evidências para muitos deles.
      Acantonarmo-nos na assunção de que o PS só aceitaria, para todo o sempre, a continuidade daquilo que de mau fez parece-me um erro grave e injustificado.

      3. Quem pode sair pior da fotografia é o PS, se os teus receios acerca da flexibilidade deles tiverem razão de ser.
      Mas, pelas propostas temáticas que tenho lido, à medida que o trabalho mo permite, o PCP só sai mal na fotografia se quiser, pois facilmente poderia subscrever grande parte do que vai sendo escrito, sem nada sacrificar. desejo e espero que não venha a fazer uma careta, de propósito.

      Bem... Vou para a vigília em Belém.
      É sempre um prazer (mútuo, quero crer) debater contigo. Podemos continuar cara-a-cara, se quiseres.

      Até lá, ou a uma próxima ocasião, um abraço!

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