15 maio 2012

Mais um manifesto

Tão fácil planar sobre a dura
verdade dos factos e das políticas




Subscrito por personalidades, por muitas das quais tenho apreço intelectual, consideração pessoal e respeito político e de cujas aspirações generosas não duvido, acaba de sair um  Manifesto por uma esquerda livre onde  certa altura é possível ler esta afirmação (sublinhado meu): «Em Portugal e na Europa, a esquerda está dividida entre a moleza e a inconsequência. Esta esquerda, às vezes tão inflexível entre si, acaba por deixar aberto o caminho à ofensiva reacionária em que agora vivemos, e à qual resistimos como podemos.»

Contado isto, só quero acrescentar quatro coisas para mim fundamentais:

1. Quem escolher escrever sobre «a esquerda»  no singular e nos termos em que escreve está, como é seu direito mas um direito que tem consequências, a incluir o PS na esquerda.

2. Daqui resulta que se se escreve que «a esquerda está dividida entre a moleza e a inconsequência» então se está a dizer que o PCP e o BE estão atolados a «inconsequência» e também deixam aberto «caminho à ofensiva reaccionária em que agora vivemos».

3. Podem os autores do Manifesto não terem pensado nisso mas em verdade, e cordialmente, lhes digo que estas deambulações génericas e estas amálgamas de responsabilidades entre as diversas componentes da «esquerda» são tudo coisas que o PS bem pode agradecer.

4. Se não for excessivo «aconselhamento espiritual», e para não ir mais atrás, proponho que este manifesto seja lido tendo presente que o PS assinou o acordo com a troika e votou a favor do novo tratado orçamental e o PCP e o BE estiveram e votaram contra e que  o PS se absteve na legislação laboral imposta pela direita e que o PCP e o BE votaram contra.

7 comentários:

  1. Acabei de comentar no "5 dias" que felizmente, há uma esquerda que não está nem "atónita", nem "dividida entre a moleza e a inconsequência"... mas que constatar esse simples facto não é lá muito "fino"...

    Abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Há no comentario de VD um "pequeno" pormenor que careceria de melhor apuramento que é o de saber se o BE é de esquerda. Mas de facto as pessoas que promovem esse manifesto pecam logo pelo nome que dão a esse movimento "esquerda livre". Ou seja, há uma que não é. Muito arrogante e sobranceiro! Depois a Ana Gomes?! Como tem votado no PE?

      Eliminar
    2. Não, de esquerda é só o PCP, pois claro. Em Portugal há 7% de pessoas de esquerda. Viva!

      Eliminar
  2. Qual será a verdadeira intenção dessas personalidades?
    Talvez a resposta se encontre escondida no "post" que acabei de ler.

    Um beijo.

    ResponderEliminar
  3. Apoiado.
    Acrescento apenas uma coisa: chamar "moleza" ao comportamento do PS cujo papel tem sido o de estender o tapete a todas as medidas nefastas do governo das troikas, desculpabilizando-o como se isso se devesse a uma inacção política e ao plasmar da imagem do "líder" à práctica política do partido, e não a um comprometimento objectivo com as medidas tomadas, é começar logo por branquear uma das causas que se diz combater. É começar muito mal.

    ResponderEliminar
  4. É, ao fim destes anos todos e de muitas coisas mais, é precisa muita pachorra para se ler alguns manifestos e, sinceramente, a boca abre de espanto perante alguns dos seus subscritores. Vão mas é dar banho ao gato.

    ResponderEliminar
  5. Chame-se "esquerda democrática", "esquerda livre" ou outra coisa qualquer, aparece sempre quem, dizendo-se de esquerda, se mostre objectivamente interessado na recuperação do capitalismo.
    Este filme já tem barbas!
    Edgar

    ResponderEliminar