23 maio 2020

António Guerreiro ontem no «Ipsilon» do «Público»

Sábias palavras

«(...) Para esta propaganda total contribui também a publicidade. Todos reparámos certamente que os spots publicitários não desapareceram, mas foram atacados pelo vírus do pudor e do didactismo moralista, paternalista e geralmente piegas. Deixaram de dizer «compre», «pague um e leve dois»,«X lava mais branco», para passarem a dizer « seja responsável», «fique feliz em casa: carpe diem», «o nosso automóvel é experiente em curvas, saiba como achatar esta com que estamos confrontados», «tudo vai ficar bem com a nossa ajuda». De maneira mais ou menios directa, a publicidade passoiu a só falar do vírus. Tornou-se tão insuportável como as afectações «poéticas» de alguns apresentadores de jornais televisivos, ilustrando na perfeição a verdade enfática dos propagandistas. E foi assim que ficámos não apenas reféns do medo, mas também dos bons sentimentos, das afecções da alma. Distanciamento social ? Não, o que houve foi a «partilha» em modo superlativo. Fechados em casa, mas a receber de todos os lados - da publicidade, do jornalismo, do discurso público dominante - mensagens de medo e de bons sentimentos. E o medo como o melhior dos sentimentos. O que fazer agora com todo o medo que sobra ? (...)»,

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