17 julho 2014

A memória e os arquivos são uma chatice !

[Ver Adenda ao post «Quem vê eleições não vê o depois»]

Há 18 anos (*), o que eu
ouvia era «lá estão eles
com a cassete»


Agora, por causa do que se sabe (e ainda não se sabe tudo), têm aparecido alguns artigos que, embora evitando em regra abranger as ligações deste grupo com o fascismo, recordam e recapitulam as suas profundas articulações e promiscuidades com sucessivos governos rosa ou laranja pós-25 de Abril. Mas andava tudo muito distraído quando, por mero exemplo, em 1996, o PCP escrevia na Resolução do seu XVI Congresso (*):

«No período que decorreu desde o XIV Congresso acentuou-se a política de direita, prosseguida primeiro pelo Governo do PSD e, mais recentemente, pelo actual Governo do PS, de reconstituição, restauração e institucionalização do capitalismo monopolista de Estado como sistema socioeconómico e sua associação ao capital estrangeiro.
Este processo, em desenvolvimento desde 1976, encontra-se em fase avançada, embora não concluído, e caminha a par de transformações profundas do regime político, do agravamento da exploração dos trabalhadores e de atentados contra os seus direitos e liberdades, de limitações da soberania e independência nacionais.
Apoiados e incentivados através da concessão de benesses e privilégios e de fraudulentos processos de privatização talhados à sua medida, formaram-se e consolidaram-se novos grupos económicos, ressurgiram velhos e poderosos grupos dos tempos do fascismo (Champalimaud, Mello, Espírito Santo, entre outros) que não só reforçaram o seu poder económico como recuperaram poder político, e reconstituiu-se a propriedade de extensão latifundiária no Sul do País com a destruição da Reforma Agrária.
A acentuação da política económica de centralização e concentração capitalista e do primado da esfera financeira esteve associada à ausência de uma estratégia de desenvolvimento económico e social adequada às realidades e necessidades da economia portuguesa.
O reforço do poder do grande capital sobre a economia portuguesa tem tido como principais instrumentos um poder político submetido aos seus interesses, o nefasto processo de privatizações, com o desmantelamento do sector público da economia e a entrega de sectores-chave ao grande capital (nacional e estrangeiro), a distribuição privilegiada dos fundos estruturais (comunitários e nacionais), uma política fiscal de benefício descarado das grandes empresas e das actividades financeiras e especulativas, a crescente desregulamentação da economia, o agravamento da exploração dos trabalhadores e a degradação dos seus direitos.
O primado da esfera financeira e a ausência de uma estratégia nacional de desenvolvimento tornaram-se um corolário lógico da completa submissão da política económica portuguesa ao objectivo da participação de Portugal na moeda única europeia em 1999.
Como consequência destas orientações básicas, persistiu o agravamento dos desequilíbrios estruturais da economia nacional, acelerou-se a desindustrialização e a desertificação agrícola do País, acentuaram-se as assimetrias regionais, a periferização, a dependência e as vulnerabilidades da economia portuguesa.
(...)
A subordinação do poder político ao poder económico do grande capital nacional e também, crescentemente, transnacional, constitui um dos traços mais negativos da evolução política nos últimos anos e que condiciona de forma mais significativa o funcionamento do Estado e do próprio regime democrático.»
aqui

(*) Escrevo «18 anos» e cito o Congresso do PCP em 1996 mas apenas não vou mais atrás porque os volumes dos anteriores Congressos do PCP não estão online e não são fáceis de encontrar agora aqui na desarrumação da minha biblioteca. 

2 comentários:

  1. A cassete que me faz pensar o mundo, lutar, acreditar e mudá-lo.

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  2. A mesma cassete só denunciava uma política continuamente dirigida para o caos de hoje. Pois se a política se mantinha, como se podiam alterar as apreciações? E hoje é que as pessoas que acusavam o PCP vêm pegar nas suas palavras? Só por oportunismo. Um abraço.

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