Num trabalho de duas páginas publicado na edição impressa (e só parcialmente na edição online) do Público de domingo, intitulada «Os acordos estão em aberto no futuro do PS», a jornalista São José Almeida escreve a propósito da coligação PS-PCP para a Câmara de Lisboa em 1989 (sublinhados meus):
«Supervisionadas por Lopes Cardoso, pelo PS, e por Domingos Abrantes, pelo PCP, as negociações foram protagonizadas pelo comunista Luís Sá e pelo socialista Eduardo Ferro Rodrigues. E é do domínio dos bastidores da política que Álvaro Cunhal - ausente na União Soviética para ser operado a um aneurisma - não gostou da ideia e responsabilizou a coligação pela erosão eleitoral que os comunistas viriam a sofrer».
Sobre isto, só quero que fique escrito o seguinte:
1. Álvaro Cunhal regressou da União Soviética em 16 de Março de 1989, ou seja vários meses antes de se ter iniciado o processo negocial que conduziria à concretização daquela coligação e, portanto, a todo o tempo de o acompanhar de perto. Aliás, a primeira proposta de coligação é apresentada pelo PCP ao PS verifica-se em Janeiro de 1989 mas obviamente decidida com Álvaro Cunhal ainda em Portugal. Tendo sido recusada pelo PS, o Comité Central do PCP declarou em 14 de Março de 1989 que «considera encerrada a apresentação de propostas ao
PS para coligações nas autarquias em que a direita está em maioria
(...).O
PS assume uma grande responsabilidade por ter recusado criar as
melhores condições para enfrentar e derrotar a direita.»(Avante,
16/3/1989). E, em 18 de Março de 1989, em comício no Pavilhão dos Desportos, Álvaro Cunhal sublinharia que «Creio
que o nosso povo tem fortes razões para lamentar a resposta do PS às
nossas propostas tendo como linha de força o acordo e a convergência
e abertas a soluções muito diversas a ponderar e a acordar.» Recorde-se ainda que a decisão de Jorge Sampaio de se candidatar no contexto de uma coligação com o PCP só ocorreu em 6 de Julho de 1989, abrindo-se então o processo negocial com reuniões entre delegações dos dois partidos.
2. Para não me basear apenas nas minhas memórias desse tempo e processo e das muitas conversas que sobre o assunto mantive com o Luís Sá, consultei camaradas membros dos organismos executivos do CC do PCP na época e, como resultado disso, aqui venho afirmar que não tem qualquer fundamento a invocada ideia de reservas, críticas ou oposição de Álvaro Cunhal à concretização dessa coligação .
3. Por fim, apenas dois extractos de posteriores declarações públicas de Álvaro Cunhal:
- no discurso na Festa do Avante !
3. Por fim, apenas dois extractos de posteriores declarações públicas de Álvaro Cunhal:
- em conferência
de Imprensa para
apresentação das conclusões do C.C.:
apresentação das conclusões do C.C.:
«Esta
aliança abriu possibilidades de um muito maior intercâmbio de
opinião entre Partidos democráticos e alianças com Partidos que se
situam numa área indecisa.»Considerado
«de alto valor» a constituição da coligação «Por Lisboa»,
Álvaro Cunhal comentou «as recentes e inteiramente falsas
afirmações do Primeiro-Ministro no comício de Faro do PSD.» (Avante,
3/8/1989)
- no discurso na Festa do Avante !
«Cabe
aqui saudar, como grande acontecimento político da actualidade, a
constituição da coligação «Por Lisboa», coligação do Partido
Comunista Português, do Partido Socialista, do Partido Ecologista Os
Verdes e do MDP/CDE. O
objectivo é libertar o municío da capital da desastrosa e
atribiliária gestão PSD/CDS personaliza em Abecassis.»
(Avante!,
14/9/1989)
"Menti,menti, que da mentira alguma coisa fica"
ResponderEliminarQual a razão por que estes comentadores não se documentam melhor?
No entanto hoje, dado o comportamento do PS, uma aliança dessas era absolutamente impossível.
Um beijo.
É triste, os actuais dirigentes não terem a visão de Cunhal e outros daquela época, para constituirem a coligação "Pelo País" com o objectivo de libertar o Povo da desastrosa e arbitrária gestão PSD/CDS/CAVACO!
ResponderEliminar(Será que estes actuais dirigentes querem o bem do Povo???)
Não só não me parece impossível como, pelo contrário, me parece absolutamente urgente. O sucesso da experiência de governação em Lisboa - foi claramente o melhor período, mais dinâmico e transformador que Lisboa teve desde a instauração do regime democrático - recomenda vivamente, como era aliás ambição da experiência em Lisboa, a sua replicação para o âmbito nacional. O país e quem aqui vive (e quem foi obrigado a deixar de aqui viver) não podem mais assistir ao adiar de uma solução governativa de convergência da esquerda
ResponderEliminarCaros anónimo e António Sérgio Manso Pinheiro:
ResponderEliminarNem sempre sardinha, nem sempre galinha ou cuidado com as apreciações a-históricas. E, em particular, não percebo porque é que seria necessária uma «coligação» para legislativas pois até há coligações que diminuem em vez de aumentarem os votos.
Em bocado em sequência ao comentador de "18 de Julho de 2014 às 13:06" e a Sérgio Pinheiro,
ResponderEliminarParece-me que se o PS deitasse fora tralha como Seguro, mas principalmente Costa com todo o regime que traz atrás, abrindo caminho aos Jotas - santos, cordeiro, alves, galamba), talvez o PS se abrisse a uma convergência total das esquerdas.
Fora desse cenário, apenas o reforço do conjunto PCP e BE me parece ter valor para a mudança desejável. Mesmo que não lhes dê poder.