22 março 2014

Uma mistificação que dura, dura e dura

O Expresso e a sua 
estranha leitura dos números



È a terceira ou quarta vez que escrevo sobre isto, até com algumas incompreensões de pessoas de esquerda,   mas não tenho outro remédio se não voltar o assunto porque continua muito activa uma manobra para impôr um critério de avaliação de resultados de sondagens que visa «enfeitar» e «melhorar» os prováveis resultados da soma PSD+CDS em próximas eleições, debaixo de truque de fazer de conta que o saldo das eleições se decide apenas a três - PS, PSD e CDS.

Antes do resto, volto a avisar que não estou a discutir se a  coligação PSD-CDS e também o PS não estão com votos a mais em relação ao que merecem e em relação ao que um projecto de futura e real mudança política reclamaria. Estou sim a contestar a tentativa de fugir à evidência de que os números que aparecem representam uma enorme e profunda derrota da direita.

É que ainda hoje o Expresso publica os resultados da sua primeira sondagem para as europeias que estão aí em cima e, sendo eles o que são, sentencia no entanto que « os partidos da maioria estão muito longe de uma derrota esmagadora que podia ser expectável depois de três anos a governar com o memorando da troika como guião (e sabendo-se, para mais, que as eleições europeias servem para penalizar os partidos que estão no poder).(...) Ou seja, uns verão nestes resultados uma vitória clara dos socialistas, liderados na eleição por Francisco Assis. Outros verão um sinal claro de que a maioria, liderada por Paulo Rangel, acaba por conseguir resistir bem e fica apenas a um parlamentar dos socialistas.»

 Ora o que os números hoje divulgados pelo Exopressam revelam é que:

- a coligação PSD-CDS teria 32,1% o que representa o pior e mais baixo resultado de sempre da soma PSD+CDS em eleições europeias;

- esses 32,1% representariam uma quebra de 8 pontos em relação à soma PSD+CDS nas europeias de 2009 e de 18 pontos em relação às legislativas de 2011;

-  a coligação PSD-CDS que (des)governa o país e tem uma maioria absoluta de deputados na AR teria menos 23,3 pontos percentuais que a soma numérica dos partidos de oposição - PCP, BE e PS (que somariam 55,4%).

E, se isto não é uma derrota esmagadora, espero que, na sua próxima edição, o Expresso me explique caridosamente o que seria uma esmagadora derrota.

ADENDA EM 23/: ontem, esta sondagem foi objecto de debate curto no «Eixo do Mal» e nenhum dos participantes foi capaz de pôr o pontos nos is.. E hoje, na TVI, Marcelo Rebelo de Sousa também a comentou como se estas eleições fossem apenas uma competição entre o PS e a coligação PSD-CDS. Decididamente, é uma pena que as farmácias não vendam drageias de espírito crítico.

2 comentários:

  1. Só é pena que a "vitória" da esquerda não sirva para formar um governo de coligação.

    ResponderEliminar
  2. O teu erro camarada, é continuares a querer englobar na oposição (seja lá o que isso for) o PS. Ao contrário do que sugeres, está correcta sim, do ponto de vista político, uma análise que englobe PS, PSD e CDS pois eles formam um bloco político bem mais claro nos propósitos e práticas (mesmo que não se encontrando todos momentânea e formalmente no governo) que um estranho, ingénuo, perigoso ou pior que isso, bloco formado por PS, PCP e BE. Sim, os partidos do capital continuam, nesta sondagem, a levar 69% dos votos. E do ponto de vista de classe é isso que interessa.

    Abraço,

    António Fonseca

    ResponderEliminar