No «cinco dias», Raquel Varela, como é natural e era seu inquestionável direito, resolveu dirigir-se-me directamente em relação a este meu post. Sobre essa sua missiva pública, entendo bastante responder o seguinte:
Cara Raquel Varela :
1. A Profª escreve um post em que, quanto ao 25 de Novembro, põe praticamente o PCP no mesmo lado que o PS e PSD quanto à atitude face ao que chama «os oficiais revolucionários» (dando-se ao cuidado de, de imediato, acrescentar, que depois «foram presos») e depois eu é que tenho "má educação", «raiva», sou «exaltado», exerço "pressão psicológica" sobre si e tenho uma postura «estalinista» ( e conhece tão mal quem eu sou e deduz tão mal sobre o que eu escrevo que até põe a hipótese absurda de algum dia eu lhe vir a chamar «agente da CIA» !). Desculpará mas, por esta via e com este truque, só confirma que avisado andei quando citei Brecht sobre a violência dos rios e a violência das margens.
2. Fique descansada que eu nunca a acusei, acuso ou acusarei de escrever por encomenda de quem quer que seja. O que já disse e mantenho é que, quando escreve sobre o PCP, a historiadora Raquel Varela fica quase absolutamente refém da sua formação e concepções ideológicas abundantemente marcadas por uma variante de esquerdismo e esquematismo impressionantemente miméticos dos que defrontei há 45 anos.
3. Por outro lado, considero que o seu problema não é não consultar ou não citar suficientemente os discursos de Álvaro Cunhal ou os documentos do PCP mas sim o de deles tirar ilações e deles fazer interpretações e descrições simplistas, ilegítimas e torcidas, em que se torna patente que a Raquel ou treslê ou não conhece a semântica do discurso comunista. Aliás, nesta sua resposta, dá um cristalino exemplo disso mesmo. Com efeito, salienta que (sublinhados meus) «Álvaro Cunhal a seguir ao 25 de Novembro diz-se descansado por os
oficiais revolucionários – a quem Cunhal chama irresponsáveis e
aventureiros – terem sido controlados, o que permitira ao PCP refazer o
acordo com o PS e o Grupo dos 9. Diz mesmo que é altura de refazer o
Quadro Permanente das Forças Armadas e diz que os oficiais
revolucionários fugiram ao controlo do PCP.». E, em busca de autoridade de fontes, logo acrescenta que «A minha afirmação foi
retirada dos discursos de Álvaro Cunhal, do comício do PCP no Campo
Pequeno a 7 de Dezembro, do livro A Revolução Portuguesa de Álvaro
Cunhal e da reunião do comité central do PCP de 13 de Dezembro de 1975. Ora, quem tiver um módico de espírito crítico e de seriedade intelectual e for ler o materiais citados por si, lá não encontrará nada do que o resumo acima feito por si contém. A este respeito, não posso deixar de observar quão conveniente e cómoda é para si a referência aos «oficiais revolucionários» já que isso lhe permite escamotear a diferença de apreciações, de termos e juízos que o PCP e Álvaro Cunhal usaram e fizeram sobre a «Esquerda militar» e os militares «esquerdistas».
4. Finalmente, desculpará mas podia-me ter poupado ao fadinho sobre os «arquivos do PCP» que sempre inculca a falsa ideia de que estão fechados (quando o que, como todos os arquivos públicos, têm é as suas regras próprias, além de limitações técnicas que muitos teimam em não querer compreender) ou, como seria patente a respeito do 25 de Novembro, sempre imaginando que a principal tarefa do PCP ao longo de nove décadas foi guardar papéis.
Cumprimentos
Nem mais! Há que sempre mas sempre pôr os pontos nos is!!!
ResponderEliminarA História faz-se com fontes, provas e contra provas, curioso visto que a própria Historiadora se esquece de alguns destes conceitos, e na minha opinião procura torcer o que se passou para retirar conclusões de acordo com a sua visão! Procura dar uma visão subjectiva, mas mascarada de objectividade. Obrigado Vítor Dias!
ResponderEliminarA Prof.ª. na sua pagina elimina todo e qualquer comentário em que não estejam expressos os "parabéns" pelo que debita e escrevinha
ResponderEliminarVitor Dias , como sempre há uma profunda divergência sobre a leitura que faz do periodo que vai do 25 de Abril ao 25 de Novembro, para si todos aqueles que contestaram PELA ESQUERDA, a postura do PCP , são esquerdistas, e a SUA Esquerda Militar, é que era , em contraponto a uns militares esquerdistas que como escreve , se INFILTRARAM no COPCON.
ResponderEliminarFelizmente ainda cá andamos alguns para contestar, a sua visão da história PARTIDÁRIA desse periodo.
E a não deixar sem contestação os seus textos sobre o assunto.
Repito , a Raquel Varela dá uma visão, que é partilhada por muitos dos que viveram esse periodo.
"Flor de estufa" que censura os comentários de que não gosta.
ResponderEliminarEsquece o que ensina a sabedoria popular: quem diz o que quer arrisca-se a ouvir o que não quer.
É chocante a desonestidade intelectual da menina. Se lhe dessem um cêntimo por cada citação mal feita ou mal invocada, já estava rica.
ResponderEliminarQue mal interpretadas têm sido sempre (propositadamente) as posições do PCP!!! E que jeito dá a esses críticos, o esquerdismo (a doença infantil do Comunismo)
ResponderEliminarUm beijo.
A batalha mais importante que existe existe é a de ideias, é com a força da razão e ao desmistificar e desmontar as falácias e falsos argumentos, quer neste blog como noutros progressistas ou mesmo em blogs reacionários, sem nunca insultar ou perder as estribeiras e a paciência, e às vezes é difícil.
ResponderEliminarA diferença, Augusto, é que a visão divergente de Vítor Dias permite-lhe a si manifestar o seu ponto de vista.
ResponderEliminarJá Raquel Varela censura tudo que não lhe acaricie o ego.
Há gestos que valem por mil palavras: não por acaso, a Raquel Varela, essa revolucionária de todos os costados, tem recebido recente visibilidade no palco mediático e o carinho de outros conhecidos revolucionários como António Costa Pinto, seu mentor intelectual, que, com o dedo da sapiência, lá lhe vai apontando o caminho por onde tem que andar.
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