Afirmando o valor da memória,
da amizade e da cultura democrática
Numa iniciativa de um grupo organizador - em que participei com gosto e honra - e com uma Comissão Promotora que reune centenas de personalidades dos mais variados sectores da vida nacional e de diversas sensibilidades políticas e pertenças geracionais, é hoje que se realiza na FIL um almoço que reunirá cerca de 37o pessoas numa justíssima homenagem a José Tengarrinha, a pretexto do seu 80º aniversário (ocorrido no passado dia 12).
Muitos e diversos serão os laços, os afectos e os pontos de referência que cada um dos participantes nesta homenagem sentirá em relação ao homenageado. Entretanto, arrisco que, a par dessa legítima e compreensível diversidade, entre todos haverá como traço comum o reconhecimento de que José Tengarrinha é um figura destacada da resistência antifascista e da construção da democracia, um historiador e intelectual de grande mérito e seriedade e um homem de carácter, de convicções e de serena firmeza.
Não me sinto capaz de, de forma justa, dar um testemunho pessoal sobre os anos (sobretudo de 1969 a 1976) em que, de forma regular e intensa, trabalhei politicamente e convivi com José Tengarrinha e de descrever quanto com ele aprendi e cresci politicamente, sendo que já uma vez, a respeito de outro amigo recentemente falecido, aqui evoquei quanto os democratas da chamada «geração de 60» devem a democratas e homens e mulheres de esquerda que, mais velhos, no campo legal ou semi-legal, mantiveram acesa a chama da luta pela liberdade nos tempos especialmente sombrios e duros que precederam a chegada de cidadãos como eu e outros à vida política activa.
Obrigado Zé Tengarrinha, boa continuação do teus valiosos labor intelectual e intervenção cívica.
P.S.: Embora em deficientes condições de leitura, propicio aos leitores aqui em «os papéis de Alexandria» a intervenção que José Tengarrinha fez na comemoração em Aveiro dos 25 anos do 3º Congresso da Oposição Democrática, ou seja em 1998 e bem assim a sua comunicação no centenário do nascimento de Bento de Jesus Caraça (em 2001). Se mais não houvesse, e há, elas bastariam só por si para comprovar que José Tengarrinha, além do mais, não é manifestamente daqueles que associam as suas legítimas mudanças de afinidades político-partidárias a tentações ou impulsos de reescritas da sua história pessoal e da nossa história colectiva.
José Manuel Tengarrinha no pátio da prisão de Caxias,
na manhã de 26 de Abril de 1974
(foto publicada na revista brasileira Manchete
e copiada de aqui).
na manhã de 26 de Abril de 1974
(foto publicada na revista brasileira Manchete
e copiada de aqui).
Fui ler os Paeis de Alexandria no que se refere a José Tengarrinha. Gostei e associo-me,em pensamento, à homenagem que lhe é feita na comemoração dos seus 80 anos.
ResponderEliminarUm beijo.
Um Homem
ResponderEliminarreferência democrática
que sempre respeitei
mesmo quando divergimos
Foi lindo, meu querido Vítor! Correram da melhor forma o almoço, as atribuições das duas medalhas (CML) e Universidade Clasica de Lisboa, os 4 discursos que achei- cada um à sua maneira - muito bem estrurados e dando, no seu conjunto, os traço principais deste cidadão que homenageámos. Emocionei-me com a forma genial e fresca como o Manel Freire cantou a Pedra Filosofal, e maravilhei-me com o clima de amizade reinante na sala, aquela amizade autêntica que sobrevive a tudo. Mas não posso deixar de salientar que o modo como decorreu o trabalho, no nosso GRUPO ORGANIZADOR, mostra que o trabalho em equipa, em que é patente a diversidade, pode ser bem sucedido quando há respeito, muita amizade e, sobretudo, tem um objectivo comum. E nisso, tu és exemplar. Orgulho-me de te ter como amigo desde há 40 e tal anos.
ResponderEliminarDeixo-te aqui um beijo, ainda em estado de emoção pura...Pessoalmente, realizei um dos sonhos da minha vida: agradecermos a José Tengarrinha o que, em diversas frentes (cívicas e culturais), ele tem feito, desde a sua juventude, por esta desafortunada Pátria que é a nossa. Fê-lo, e continua a fazê-lo com uma generosidade e uma humildade que é, em meu entender, o seu principal legado.
Helena Pato
Só lamento que terríveis erros de estratégia e táctica política e um grande sectarismo tenham conduzido a que a Direcção do PCP o tenha ostracizado e considerado como um inimigo.
ResponderEliminarLamento ainda mais que persistam os mesmos erros,não contribuindo para a criação de uma real alternativa de poder de esquerda para Portugal.
No Portugal de hoje e de ontem, adaptado às circunstâncias concretas, precisamos que renasça o espírito de unidade do III Congresso da Oposição Democrática, contra a direita revanchista e ultra-liberal que tomou de assalto país e que está a impor a destruição da democracia e a eliminação das conquistas do 25 de Abril e outras de carácter universal e civilizacional.
É preciso que as posições de Vítor Dias e Helena Pato, que saúdo, se consubstanciem numa luta que faça o PCP retomar o papel aglutinador que desempenhou durante a ditadura fascista, designadamente desde o pós II Guerra até ao 25 de Abril.
A autocrítica verdadeira e dolorosa ainda não foi feita. E só será efectiva quando o PCP for capaz de se reinventar na base do Marxismo e do materialismo dialético, seu método de análise e sua herança imortal, mas abandonando os dogmas e o embuste ideológico estalinista a que, pomposamente, continua a apelar de "marxismo-leninismo".
A contrafacção do Marxismo conduziu à mais pesada derrota dos trabalhadores de toda a História, levou à destruição de um sonho e de um projecto político que mobilizou e entusiasmou os povos à escala mundial.
Insistir na contrafacção é trair os trabalhadores e o povo de Portugal.
É preciso mobilizar, unir, atrair à luta democrática, milhares de "folhas secas", muitas delas quadros com provas dadas e de grande valor e prestígio junto das suas comunidades, que se mantiveram fiéis aos seus ideais,que não cederam a tentações carreiristas, que fizeram muita falta à luta.
Essa será a melhor homenagem a José Tengarrinha e a outros democratas e antifascistas que foram tão mal tratados.
Mais do que de palavras, precisamos de actos, de mudança, de "golpe de asa" táctico e estratégico que tranforme as esquerdas numa esquerda de "menor denominador comum" que se constitua na génese de uma alternativa de poder.
É preciso compreender que o Mundo mudou.
A estrutura de classes não é a mesma.
O capitalismo e o imperialismo tiveram uma capacidade de adaptação e de resistência que ninguém (mesmo ninguém!) conseguiu prever.
.../... continua
Fernando Oliveira
É imperiosa a análise marxista da situação actual e uma nova produção teórica que oriente e dê suporte à luta de amplas camadas da população contra o capitalismo de HOJE, o imperialismo de HOJE.
ResponderEliminarÉ preciso que todo este gigantesco trabalho seja feito utilizando uma linguagem que o torne entendível pela grande maioria da população.
É necessária coordenação internacional das lutas, em todos os terrenos de luta, já que a maioria dos problemas que enfrentamos são comuns à generalidade dos povos.
É imperioso estudar como se vai conseguir recuperar posições perdidas há decadas, mesmo que gradualmente, na comunicação social e particularmente ao nível da TV, da internet em geral, das redes sociais, da rádio, dos jornais, veículos de excelência na brutal ofensiva ideológica da direita, absolutamente intoxicante e condicionante das consciências individuais e da consciência colectiva.
Iniciar este caminho é também a maior homenagem aos grandes, aos enormes lutadores que, condicionados pela sua própria história, ficaram reféns da contrafacção do marxismo e cujas capacidades, qualidades e forças acabaram por não ser bem aproveitadas numa nova fase que exigia maior unidade e não pretensos purismos ideológicos que não eram mais do que os dogmas que conduziram à implosão de um falso campo socialista.
À frente desses grandes lutadores está ÁLVARO CUNHAL.
Ele, que se pudesse analisar com distanciamento histórico os últimos 36 anos da sua vida e intervenção políticas, creio que seria capaz de reconhecer os erros estratégicos e tácticos cometidos após o 25 de abril.
Muito me alegraria se o 100º ANIVERSÁRIO do seu nascimento, em 2013, marcasse o início da recuperação da capacidade política efectiva do PCP como força patriótica aglutinadora da unidade de todas as forças democráticas contra o inimigo comum.
Porque o que está hoje na ordem do dia, tal como em 24 de Abril de 1974, não é a construção do socialismo.
Naquela altura era o derrube do fascismo e a instauração da democracia.
Hoje é a defesa da democracia e o derrube da direita saudosista, onde pontificam os netos dos fascistas do passado.
Fernando Oliveira