Na morte de
Manuel Jorge Veloso
Chega, dura como as pedras, a notícia do falecimento aos 82 anos do Manuel Jorge Veloso, uma personalidade de grande relevo na vida cultural portuguesa, designadamente no campo musical, um amigo do peito e um camarada sempre muito empenhado que, em diversos planos, deu uma muito qualificada contribuição para a luta e actividade do PCP.
Hoje é dia de recordar que o Manuel Jorge Veloso tinha uma formação clássica em violino e composição, foi membro da direcção da Juventude Musical Portuguesa, nos anos 60 e 70 baterista de jazz amador e membro fundador do Quarteto do Hot Clube de Portugal, o primeiro grupo português com actividade jazzística exclusiva e regular, tendo a nivel individual tocado com inúmeros musicos de jazz portugueses e estrangeiros.
Hoje é dia de lembrar que, entre 1958 e 1971 foi assistente musical na área da música erudita na RTP, tendo também na época produzido e apresentado programas de jazz regulares, como Jazz no Estúdio A e TV Jazz, e sido assistente de produção da série O Povo Que Canta (Michel Giacometti). Mais tarde, entre Maio de 1974 e Julho de 1975, foi membro da Comissão Directiva de Programas da RTP participando no processo de democratização daquela estação.
Hoje é dia de recordar que, ao longo da vida, Manuel Jorge Veloso realizou e apresentou, na rádio portuguesa, vários programas de jazz, sendo a partir de Março de 1993 autor do programa semanal Um Toque de Jazz da Antena 2. Ainda na sua actividade de divulgação e crítica na área do jazz, publicou ao longo das últimas quatro décadas inúmeros artigos na imprensa diária e semanal.
Hoje é dia de salientar que, no domínio do cinema, compôs a música para as longas-metragens Belarmino e Uma Abelha na Chuva (Fernando Lopes) e Pedro Só (Alfredo Tropa) e para cerca de uma dezena de curtas-metragens de Fernando Lopes, Faria de Almeida e António Macedo e que foi professor da cadeira Construção e Análise da Banda Sonora, na Escola de Cinema do Conservatório Nacional (1971/1973), e fez o Mestrado em Realização pela Escola Superior de Cinema e TV de Babelsberg-Potsdam (1978-1984).
Hoje é dia de evocar, entre muitos outros aspectos, a destacada contribuição do militante Manuel Jorge Veloso para a Festa do Avante! designadamente no plano dos espectáculos, aí emprestando o fulgor da sua cultura e criatividade, tendo sido também um crítico de televisão de grande qualidade nas páginas do jornal do PCP.
E, no dia da sua morte, perante tudo isto e muito mais, sinto-me obrigado a dizer que só o preconceito anticomunista explicam que o excepcional valor do Manuel Jorge, em vez de receber a merecida projecção e reconhecimento tivesse sido objecto de uma prolongado silêncio e ostracização.
Por mim, enquanto a minha vez não chegar, jamais esquecerei a sua cultura, o seu humanismo, o seu humor, a sua inteligência, a sua fraternidade, o seu sólido e inabalável empenho na construção de um país mais justo e de um mundo melhor.
Adeus, Manel Jorge, vamos ter muitas saudades tuas.
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Nota: Câmara ardente a partir das 17 hs. de hoje na Igreja de S. Francisco de Assis e cremação amanhã, quinta-feira, às 19 hs. no Cemitério do Alto de S. João.
Manuel Jorge Veloso com José Duarte e Ruben de Carvalho no ciclo «Popologia» organizado em 1968 pela Secção Cultural da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa.
Aqui, no AbrilAbril, um artigo de Manuel Jorge Veloso sobre Thelonius Monk.
Aqui, no Avante!,um artigo de Manuel Jorge Veloso sobre o Hot Clube de Portugal.