«O roubo do século»
chamou-lhe a insuspeita
«The Economist»
COMUNICADO 02/2020
MPPM denuncia o «embuste do século» que os EUA
querem impor aos palestinos
«O Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) condena firmemente o conteúdo do chamado «acordo do século» para a resolução da questão palestina, apresentado no dia 28 de Janeiro pelo presidente dos EUA, Donald Trump, acolitado pelo ainda primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
Apresentado com soberba imperial, o mal designado plano «Paz para a Prosperidade» rasga todas as resoluções aprovadas ao longo de décadas pela ONU sobre a questão palestina, e rasga mesmo os acordos, como Oslo, promovidos sob a égide dos Estados Unidos da América desde a década de 90. O «Plano» acompanha inteiramente as posições da extrema-direita israelita e assume a forma de um diktat que pretende impor ao povo palestino, cujos representantes não foram sequer considerados dignos de consulta, a total renúncia aos seus direitos nacionais, reconhecidos e consagrados pelo direito internacional.
A legitimação da anexação e o prosseguimento da limpeza étnica dos palestinos
O «acordo do século» proclama (de novo) Jerusalém indivisa como capital do Estado de Israel; promove a anexação por Israel de todos os colonatos judaicos na Cisjordânia ocupada; reconhece a anexação do Vale do Jordão por Israel; nega aos refugiados palestinos, expulsos em sucessivas campanhas de limpeza étnica pelas forças sionistas e depois por Israel, o direito ao retorno. O mapa que acompanha o «Plano» traça uma fronteira que anexa a Israel os Montes Golã sírios, ao arrepio de toda a legitimidade internacional.
O arguido por corrupção Netanyahu não perde tempo: abençoado por Trump, quer que o governo de Israel discuta a primeira fase da anexação já no próximo domingo.
Em contrapartida, aos palestinos caberia aceitar um «Estado» de farsa, ainda assim remetido mais uma vez para as calendas gregas: uma entidade informe, fragmentada em guetos descontínuos que fazem lembrar os planos de bantustões da África do Sul do Apartheid, sem controlo das fronteiras, sem controlo do espaço aéreo e das águas territoriais, com capital num arrabalde de Jerusalém Oriental, sem o direito a ter forças militares próprias mas sujeita à eterna presença militar de Israel. Além disso, os palestinos teriam de renunciar aos subsídios financeiros às famílias dos presos e das vítimas mortais da repressão israelita; de reconhecer Israel como «Estado-nação do povo judeu», ou seja, a discriminação dos palestinos cidadãos de Israel; e de aceitar o desarmamento dos movimentos da resistência palestina.
Uma parte dos palestinos cidadãos de Israel estariam destinados a ser anexados à força ao pseudo-Estado palestino. A coberto do falacioso argumento de um Estado-nação para os judeus e de um Estado-nação para os palestinos, a pretexto de «compensação territorial» pelos colonatos implantados no coração da Cisjordânia, trata-se na realidade de mais uma medida de limpeza étnica, visando aquilo que o sionismo não conseguiu realizar em 1948: um Estado judaico «etnicamente puro», desembaraçado dos seus habitantes palestinos, muçulmanos e cristãos.
Na linha directa de medidas anteriores da administração Trump — reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel e transferência para aí da embaixada dos EUA; corte do financiamento à UNRWA, a agência da ONU de assistência aos refugiados palestinos; anexação dos Montes Golã sírios ocupados em 1967; negação do carácter ilegal dos colonatos israelitas nos territórios palestinos ocupados —, o plano estado-unidense parece saído da pena dos sionistas mais radicais, dos colonos mais extremistas. E não por acaso: é significativo que Trump e Netanyahu tenham ambos saudado o papel desempenhado neste processo por David Friedman, embaixador dos EUA em Israel, por Jason Greenblatt, enviado especial para o Médio Oriente, e por Jared Kushner, genro de Trump e principal autor do plano, todos sionistas assumidos com ligações estreitas ao movimento dos colonos. (...)»