Durante dias e dias, irritou-me solenemente que, tanto quanto eu lesse ou ouvisse, raros ou poucos mais além de mim, se lembrassem de contrariar a ideia quase corrente e impune de que a antecipação das reformas era uma coisa sedutora para a qual se ia alegremente. E foi por isso que aqui lembrei que a antecipação das reformas estava já sujeita a duríssimas penalizações.
Felizmente, hoje no Público, João Ramos de Almeida lembra que por cada ano de antecipação, um trabalhador sofria um corte de 4,5% na reforma (e é bom lembrar que a reforma já é inferior ao último sálário). Ou seja, um trabalhador que que se reformasse aos 61 anos já sofria um corte de 18% em relação à reforma que auferiria se continuasse a trabalhar até aos 65 anos.
E, declaração de interesses, não tenho nenhum problema em confessar que me reformei amtecipadamente aos 63 anos e que, apesar de ter 42 anos de carreira contributiva, sofri a correspondente penalização de 9%. E fi-lo porque era absolutamente absurdo, como trabalhador independente continuar por mais 2 anos a pagar 25% para a segurança social que teriam pouco reflexo na minha futura reforma, uma vez que o governo do PS quebrou o compromisso com os sindicatos de só em 2017 entrar em vigor o sistema de definição do valor da reforma com base em toda a carreira contributiva.
E, atendendo ao que se disse atrás, quando o governo agitou que estavam em perspectiva cerca de 40 mil reformas antecipadas eu pensei para comigo próprio : « se assim é, então isto quer dizer alguma coisa sobre a insegurança quanto ao futuro que estes trabalhadores sentem porque esta vontade de reforma antecipada só pode estar a ser movida pelo medo difuso de que amanhã venha tudo a ser ainda pior».
Ora hoje, na mesma peça já citada de João Ramos de Almeida, refere-se que Manuela Arcanjo, uma das autoras do estudo "Early Retirement in Portugal» (2009) «afirma ao Público que a conjuntura actual é um dos grandes motivos. "Na Função Pública as pessoas estão saturadas". No sector privado, "a expectativa é a de que ainda vai ser pior no futuro e antes que as pensões baixem mais..." »
Estamos pois conversados sobre como a insegurança e o medo incidem hoje em Portugal sobre as decisões individuais e os comportamentos sociais.
Estamos pois conversados sobre como a insegurança e o medo incidem hoje em Portugal sobre as decisões individuais e os comportamentos sociais.
Tantas reformas antecipadas, com medo do que será o futuro, que se querem proibir? Mas, mnesmo assim, algumas se vão fazendo ainda com chorudas pensões.
ResponderEliminarUm beijo.