António Barreto ou como
o pior se agrava com a idade
« Outros acontecimentos recentes puseram em causa a democracia, sobretudo o receio dos democratas. Estes têm medo do partido comunista que quer fazer uma festa em condições de privilégio quando as actividades colectivas culturais, religiosas, recreativas, associativas e outras estão praticamente interditas! Não é evidentemente a provocação deles que é uma ameaça, o que é perigoso é a reacção das instituições. Os comunistas sempre tiveram a certeza de merecer um estatuto especial na sociedade e um privilégio indiscutível. Nunca se imaginou que esse conceito fosse tão alargado até englobar regras sanitárias especiais! Nem que as autoridades cedessem.»
Este envinagrado naco de prosa faz parte do artigo que António Barreto perpetrou no «Público» de domingo. Podia ignorá-lo porque pouca gente o terá lido num domingo mas resolvi oferecê-lo na integra aos leitores para que, em consciência, possam avaliar até onde pode ir o fanatismo contra os comunistas e a desonestidade intelectual.
Na verdade, A. Barreto começa por cometer a inolvidável façanha de considerar que a Festa do Avante! 2020 põe «em causa a democracia» quando a mesma, divergências à parte, constitui uma forma de exercício de liberdades democráticas que, recorde-se, não estão nem suspensas nem canceladas.
Depois acusa os comunistas de, com a realização da Festa,estarem a gozar de «privilégio» por supostamente a generalidade das actividades colectivas estarem « praticamente interditadas». Acontece que tal afirmação constitui uma rematada mentira porque «as actividades colectivas» não foram interditadas, estão sim sujeitas a regras de segurança sanitária que a Festa do Avante assegura cumprir escrupulosamente.E, se há actividades (como os mais conhecidos festivais de verão) que foram canceladas, foi apenas porque os seus promotores entenderam voluntariamente que o respeito dessas regras inviabilizavam economicamente os seus projectos.
Mais à frente, vem A. Barreto falar como se a Festa fosse de beneficiar de «regras sanitárias especiais». Só que ele o escreve a pensar em regras mais ligeiras e mais atenuadas quando a verdade é que as terá com um carácter mais limitativo e exigente.
Finalmente é verdadeiramente assombroso que A. Barreto consiga achar que o PCP sempre reclamou «um estatuto especial na sociedade» pela simples razão de que, passando em revista 46 anos de liberdade, o que ressalta não são «privilégios » dos comunistas e do PCP mas sim insistentes marginalizações e discriminações. como é patente, por exemplo, no espaço mediático que A. Barreto e outros hegemonizam há décadas.
Em resumo, A. Barreto soterra os factos reais como forma de poder dar livre curso aos seus preconceitos. Esmaga e sonega verdades essenciais para poder exibir os fantasmas que lhe povoam as meninges. E,talvez pior que tudo, chega ao ponto de, qual menino queixinhas, fazer pressão sobre as autoridades de saúde e o governo para que façam o que, em termos democráticos. seria um escândalo que fizessem.