01 dezembro 2011

Francisco Assis

Cantas bem mas não me encantas



Em artigo de opinião de página inteira  no Público de hoje, Francisco Assis perpetra um rasgadíssimo elogio a Manuel Carvalho da Silva, a pretexto de uma sua recente entrevista ao Expresso. Abstendo-me deliberadamente de comentários sobre as reais intenções ou sinceridade deste elogios vindos de quem vêm, limitar-me-ei a transcrever uma passagem desse artigo e a fazer depois uma curta pergunta final.

Assim, escreve Assis:
« Tenho, de há muito, grande admiração por Manuel Carvalho da Silva, pelo seu percurso individual, pela natureza da sua intervenção cívica que extravasa largamente o universo sindical e pela sua acção enquanto sindicalista. (....) Se a invoco aqui [à entrevista] é porque ela me parece constituir um verdadeiro manifesto de enaltecimento do valor fundacional do trabalho, entendido como categoria imprescíndivel à afirmação da dignidade humana. E é esta articulação entre o trabalho e  a dignidade que precisa de ser relembrada. Prevalece, nos tempos que correm, um retórica muito básica, proveniente da vulgata neoliberal, que tende a fazer a apologia do trabalho sem regras, com escassos direitos e limitado reconhecimeno social. Manuel Carvalho da Silva, com uma espantosa simplicidade conceptual, só possível porque resultante de uma reflexão profunda, recoloca o problema nos seus termos adequados - a necessidade de revalorização de todo o tipo de trabalho, o reconhecimento da sua dignidade que terá de estar associado ao seu estatuto e à natureza da sua remuneração. Pelo meio relembrou a importância do movimento sindical nos últimos dois séculos e desmontou a tese falaciosa e cínica dos que tentam estabelecer uma oposição entre as legítimas reivindicações sindicais e a promoção dos direitos dos desempregados. Aí, Manuel Carvalho da Silva toca num ponto fundamental - só a existência de fortes estruturas organizadas a partir dos trabalhadores no activo pode concorrer para a salvaguarda dos direitos fundamentais que não podem ser defendidos por um exército de indivíduos atomizados, socialmente desenraizados (...)».

Feita honestamente a citação que me importava, agora só me resta perguntar com uma inexcedível bondade e candura: mas o que é que todos estes belos, acertados  e justos conceitos têm a ver com a política dos últimos governos do PS de que Francisco Assis foi destacado apoiante e protagonista ou, só para dar um exemplo, com a aprovação de um Código de Trabalho bem pior que o de Bagão Félix ?

3 comentários:

  1. Home, podem nada ter a ver, e não tem, mas parecem configurar uma aproximação do PS a um candidato presidencial vindo das bandas do PCP.

    Fará a justiça a muitos eleitores do PS de que, embora votando nesses cancros que aí têm estado a governar, são de facto eleitores com o coração à esquerda. Isso não evita, no entanto, que na hora de votar o seu deles raciocínio ideológico seja vítima de clubite.

    Não incluo Assis no lote (tem tido demasiadas responsabilidades) mas a aproximação a um PCP tem algo de positivo, E não parece que Carvalho da Silva seja homem que se meta no bolso seja de quem for.

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  2. Boa pergunta!!! A resposta, ele terá a desfaçatez de arranjar uma, ou então calar-se-á porque não a encontra.

    Um beijo.

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  3. Gabo-lhe a pachorra, Vítor Dias, de ler um texto de página inteira de F. Assis. A mim, ela faltou-me...

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