14 agosto 2019

Varrendo a testada

Ana Sá Lopes deve saber
ler mas não entende o que lê

Em editorial no Público de hoje, Ana Sá Lopes, insistindo (como é seu direito)  num apoio total e sem nenhumas reservas à actual greve dos motoristas de matérias perigosas, proclama a dado passo que   « o Partido Comunista Português aceita as greves desde que sejam dos seus sindicatos e quanto aos outros grevistas acusa-os – sim, aos grevistas – de serem responsáveis pelo Governo limitar o direito à greve

Trata-se, nem mais nem menos de uma mentira e de uma deliberada falsificação. Para além de que o PCP não tem sindicatos, o que o PCP afirmou foi que «É neste contexto que é convocada uma greve por tempo indeterminado e com uma argumentação que, instrumentalizando reais problemas e descontentamento dos motoristas, é impulsionada por exercícios de protagonismo e por obscuros objectivos políticos e procura atingir mais a população que o patronato. Uma acção cujos promotores se dispõem para que seja instrumentalizada para a limitação do direito à greve».

Ou seja, não há nesta passagem qualquer acusação aos «grevistas» ou a sua genérica responsabilização. Se houvesse , não se teria usado o termo «instrumentalizando».

Tudo visto, Ana Sá Lopes é livre de  não lhe fazer a mínima impressão a duração «indeterminada» desta greve, é livre de nada dizer sobre o porta-voz que diz que a greve pode durar 10 anos, é até livre de ignorar as críticas do PCP à dimensão dos serviços mínimos e à requisição civil e até é livre de, numa matéria de enorme complexidade, ver tudo a preto e branco. O que não pode é pôr na boca de outros o que outros não pensaram nem disseram. 
E, afinal, é a ela própria que se aplicam estas suas palavras no mesmo editorial :  «a captura da razão em favor da explosão de emoções, delineada por quem tinha responsabilidades especiais, foi demasiado grave e marcará com certeza, para o bem e para o mal, um “antes” e um “depois”.


Adenda absolutamente
necessária (18.40 hs)

No editorial do Público a publicar amanhã na edição impressa, vai escrever  o director Manuel Carvalho :


(Público online hoje»
E, face a isto, eu limito-me a dizer que se aplica a Manuel Carvalho tudo quanto escrevi acima sobre o texto de Ana Sá Lopes : o mesmo maniqueísmo, a mesma visão de só preto e branco, a mesma desatenção ao que o PCP realmente escreveu, a mesma ignorância sobre elementares critérios na concepção das formas de luta a adoptar. Por agora, chega !

10 comentários:

  1. Dias.
    De vez em quando visito esta tua chafarica, nomeadamente quando vejo no blog do Penim Redondo algum título curioso de post teu. Desde que mudaste de casa, portanto, há anos, não botei aqui qualquer comentário, mesmo que os teus textos por vezes merecessem troco em jeito de comentário jocoso. Cheguei à conclusão que com fanáticos partidários como tu mesmo isso seria uma perda de tempo. Abro uma excepção para este teu texto.
    Dou-te razão numa coisa: a Ana Sá Lopes não foi feliz na forma como se expressou (o que, tal como dar pontapés na gramática, é nela frequente). Mas quanto a formas de expressão o teu partido, nos dois comunicados do secretariado do CC que já emitiu sobre a actual greve dos motoristas, está ao nível da Ana Sá Lopes.
    O que na prosa dela, mera jornalista e comentadora da actividade política, é equívoco, nos comunicados do teu partido, com responsabilidades inegáveis na orientação dos sindicatos afiliados na CGTP (que, é bom lembrar, acordaram o inenarrável contrato do fim de 2018 que estabeleceu o ordenado mensal de 650 euros e a “compensação” mensal de 280 euros por “isenção de horário”, que funciona como pagamento das 7 horas/dia que os motoristas fazem habitualmente além das 8 horas diárias, à média de 1 euro por hora!, que o patronato até nem cumpre), o que se consegue depreender (tal a ambiguidade a que conduz o português arrevesado empregado) é a crítica da “greve por tempo indeterminado”, “impulsionada por exercícios de protagonismo e por obscuros objectivos políticos”, que “procura atingir mais a população que o patronato”, “acção (greve) cujos promotores se dispõem (?) para que seja instrumentalizada para a limitação do direito à greve”.
    O teu partido, de facto, não acusou os grevistas – a Ana Sá Lopes quereria talvez referir-se aos outros “sindicatos grevistas” ou às greves declaradas por outros sindicatos não dominados por teus camaradas militantes – mas à posição do teu partido só faltou secundar a actuação do Governo nas violações do direito de greve (quanto aos excessivos “serviços mínimos” impostos, antes mesmo de qualquer desacordo entre as partes ou à sua fixação judicial, e quanto ao fomento do alarmismo social e à arrogância, ao autoritarismo e à ameaça de prisão para os grevistas que não acatassem a requisição civil), apesar da retórica da discordância que manifestou. Nem ao repúdio da actuação do Governo, mesmo que inconsequente, o teu partido chegou.
    Isto, parece-me, não é apenas motivado pela geringonça a que o teu partido, a troco de migalhas, se amarrou oferecendo o Governo ao PS numa conjuntura que de algum modo lhe era favorável; é pecha antiga do partido pequeno-burguês “de esquerda” que ele sempre foi, antes e depois do 25 de Abril de 1974. E não vou referir o que foi a sua actuação durante o PREC quanto às greves decretadas por sindicatos independentes ou não afectos à então Intersindical e no que tem sido a actuação da CGTP nestes mais de quarenta anos de sindicalismo defensor da “economia nacional”, em vez de defensor dos interesses dos trabalhadores; nem refiro, por estar ainda fresca, a sua actuação quanto às greves dos estivadores e dos enfermeiros. Digamos, para encurtar caminho, que a sua actuação tem sido apenas vergonhosa, agravada pela orientação oportunista dos últimos tempos.

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    1. Eu sou um Anónimo diferente e posso, desde já, confirmar que o comunicado que o PCP emitiu não está ao nível do texto cretino da Ana Sá Lopes.
      Acredito que sejas muito estúpido para entender algo assim, porque as tuas ofensas ao autor deste blog (superior em matéria cultural e política... como também em esclarecimento), ou querem dizer que tens dor de cotovelo (por não conseguir entender a realidade) ou porque és apenas mais um medíocre.

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  2. (cont).
    Haverá ainda gente que fique estupefacta por um partido que se diz defensor dos interesses dos trabalhadores reconhecer a existência de natural descontentamento e indignação dos motoristas, em grande parte provocados pelo frete que os sindicatos de motoristas afectos à CGTP (e, desse modo, sujeitos à orientação do teu partido) têm feito ao patronato do sector, mas vir denunciar a “instrumentalização” desse descontentamento para a declaração da actual greve, vir referir os efeitos da greve para a população (como se uma greve, qualquer que seja, para além dos prejuízos para o patrão não acarretasse sempre incómodos e prejuízos para os consumidores dos produtos ou dos serviços produzidos ou prestados pelos trabalhadores grevistas) ou vir afirmar que o exercício do direito de greve contribui “para a limitação do direito à greve”, em vez de denunciar as violações do direito de greve por parte do Governo e a sua conivência com o patronato neste como noutros sectores de actividade. É claro, ainda há ingénuos, mas uma tal actuação não deixará de ser entendida como reveladora dos interesses defendidos pelo teu partido. Eventualmente, os resultados do próximo acto eleitoral poderão servir de bitola. Veremos se não serão mais outra banhada.
    A campanha mediática de alarmismo antes e durante a greve, assim como a actuação autoritária e mesmo repressiva do Governo, conjugadas com os erros cometidos hoje pelos sindicatos que a decretaram, vão ditar o fim próximo da greve. O fraco nível do consultor jurídico e porta-voz sindical (que estranhamente ninguém impugnou como membro dos corpos-gerentes do SNMMP, mas que o patronato toma como inimigo enquanto porta-voz sindical) e a resposta emotiva dos grevistas ao risco de prisão dos acusados de violação da requisição civil, recusando o acatamento da requisição civil, que irá fomentar o medo de alguns e divisões e desmoralizações, não prenuncia nada de bom para o êxito da greve. Infelizmente, quer a conciliação com os interesses do patronato por parte dos sindicatos da CGTP, quer a inexperiência e a falta de visão estratégica na condução das greves por parte dos sindicatos independentes, é o sindicalismo que temos.
    Em vez de aproveitarem a actual situação de requisição civil a seu favor, que lhes permitiria manter a situação de greve cumprindo os serviços mínimos durante o período de trabalho diário das 8 horas do CCT, ganhando pelo menos os 650 euros de ordenado, o que levaria no curto prazo ao agravamento da situação – pondo a nu que só com as actuais condições de trabalho suplementar não remunerado como tal o patronato assegura o regular abastecimento de combustíveis do país – e à necessidade de o Governo tomar decisões ainda mais repressivas e violadoras da legislação, com a sua impensada decisão os grevistas terão cavado a sua própria sepultura. Com isto, em vez de se reforçarem, exigindo negociação de melhores salários e condições de trabalho, os grevistas fragilizaram-se, já que o patronato não deixará de explorar a situação a seu favor recusando qualquer proposta de negociação enquanto se mantiver a situação de greve.
    Isto acabou por exceder um comentário ao teu post sobre o texto da Ana Sá Lopes. Muito provavelmente irás entendê-lo como mais uma diatribe de um anticomunista assumido, embora votante no teu partido (por pena ou sei lá porquê…), mas não foi essa a intenção. Estás à vontade para não publicares.
    JMC.

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    1. E por aqui, entendi que também existem alguns que dizem votar CDU (como o JMC) e que confessam a sua mediocridade por não estarem esclarecidos e por acharem que são os grandes «donos da verdade». Por falta de esclarecimento intelectual e político, pessoas como o JMC (quando atirados para a realidade e experiência política) tornam-se em corruptos e caciques.

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  3. Aquilo que eu gosto mais de ler no texto enfadonho de JMC, é quando ele conclui: «...embora votante no teu partido (por pena ou sei lá porquê…)»; ao mesmo tempo atacando o autor desta página, como «...é equívoco, nos comunicados do teu partido,...» e «O teu partido, de facto, não acusou os grevistas...»

    Que grande discurso vindo de alguém que diz votar na CDU (PCP)... e com tristeza. Na verdade, o texto mais parece algo preparado e redigido por meninos da JSD ou velhos da Ultra-Direita.

    Em relação a este tema político, JMC não só demonstra mau nível como também rancor e incapacidade para chegar ao esclarecimento. Infelizmente, estas são marcas de trauliteiros e caceteiros da direita, em vez de simpatizantes e votantes da esquerda esclarecida.

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  4. JMC, tens pena de votar CDU?
    Porque é que não desperdiças o teu voto no PSD, PS, BE ou PAN?
    Ou então, porque é que não te estupidificas e deixas de ir votar?
    Há muitas opções para labregos, como tu, que têm pena de votar num bom partido e tratam este blog por «chafarica».
    Nunes

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  5. Dias.
    Não posso dizer que esteja surpreendido com o nível político dos comentários aparecidos na tua chafarica. Mas ainda julguei que a minha “diatribe” pudesse despertar qualquer comentário de refutação do essencial do que deixei dito. Infelizmente, mesmo perante uma situação a todos os títulos ignóbil da corja que está no poleiro, que tomou os grevistas como inimigo a derrotar a todo o custo, violando a constituição e as leis, colocando-se descaradamente ao serviço do patronato, o fanatismo partidário impede os correligionários de pensarem com um mínimo de clareza. E imagino quantos comentários ainda mais ofensivos tiveste o bom senso de não publicares…
    O teu partido, e tu próprio, tiveram o desplante de vir enaltecer o papel da FECTRANS na sabotagem da luta dos motoristas, desempenhando a função de sindicatos amarelos nas faltas de comparência da UGT. Ah!, que falta faz a UGT para continuar a aparecer como bode expiatório para salvar a face dos sindicatos que vocês dirigem, tão apostados no frete ao patronato e aos governos quanto aquela. Quando os amarelos declarados não aparecem, lá estão de reserva os sindicatos da CGTP disponíveis para o frete. Porque tudo o que fuja às greves folclóricas de um dia à sexta-feira (ao jeito da FENPROF) para o teu partido já é demais.
    O teu partido teve estes dias para reflectir um pouco mais sobre os atropelos da Constituição e da lei levados a cabo pelo Governo ao serviço do patronato, mas nem o agravamento da actuação do Governo da corja que ajudou a pôr no poleiro parece ter sido suficiente para alterar o papel que tem desempenhado como sua muleta. E para isso não faltaram oportunidades. Donde se pode legitimamente concluir que a linha política desta direcção de “maioria operária” (julgo eu) já não é mero equívoco ou erro político conjuntural, ainda que de palmatória, mas oportunismo do mais descarado, alicerçado no mais rasteiro reformismo.
    Não corram com eles e daqui por uns tempos arriscam-se a irem para a Assembleia da República numa station de 9 lugares com alguns bancos vazios. Mas vejam que alternativa escolhem, porque o que tem vindo a público, apesar do revivalismo ortodoxo com que se ornamenta, é tão mau que acabará por ser pior do que o actual oportunismo de direita. E acalmem-se os exaltados, ainda irão contar com o meu voto. Por pena e não sei por quanto tempo mais…
    JMC.

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    1. E lá continuamos nós com o medíocre estilo de «O teu partido,...», «O teu partido...» (bem ao estilo de um pequeno bandido).
      Será que a "coisa" que dá pelo nome de «JMC» ainda não percebeu quem é Pedro Pardal Henriques?
      Será que ainda não percebeu que Pedro Pardal Henriques não tem perfil para ser dirigente de um sindicato de trabalhadores? Que o mesmo está ligado à candidatura de outro grande oportunista, chamado Marinho Pinto?

      JMC, as tuas palavras e o teu texto alcoviteiro são o resultado de um enorme desespero de alguém que já não tem nada para oferecer de positivo para esta sociedade (e muito menos ao Mundo).
      No futuro, será melhor atirares com o teu veneno para o género de escumalha que se revê nas tuas palavras e não em pessoas decentes e com nível, como o caso de quem insultas nesta página.

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  6. JMC, é caso para dizer que «vozes de burro não chegam ao céu».
    Nunes

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  7. (Com muita pena) JMC tem uma proposta de lugar de comentador político para a redacção do jornal "O Diabo".
    Infelizmente, por extinção dos jornais «O Dia» e «A Barricada», não pudemos enviar as credenciais de JMC. Sentimos muito a falta desta voz nestes jornais já desaparecidos.

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