28 agosto 2019

Rui Rio e a «reforma» do sistema político


" E por que reparas tu

 no argueiro que está no
 olho do teu irmão e não 
vês a trave que está
 no teu olho?"

Há tantas décadas que ouço esta conversa mole que, agora, francamente nem sei o que dizer sobre as propostas de Rui Rio para uma «reforma» do sistema político, sem a qual segundo o tribuno laranja viria nem mais nem menos que «a ditadura». Mas, embora a muito custo e sem gastar explicações e argumentos que se devem guardar para os momentos decisivos, sempre me atrevo a dizer que é absolutamente estapafúrdia a ideia de os votos em branco também elegerem cadeiras vazias. Que a diminuição do número de deputados e a criação de círculos uninominais só pode conduzir a uma subrepresentação dos partidos mais pequenos. Que restituir ao PR poderes para demitir um governo fora da situação de não «funcionamento regular das instituições» até pode agradar a Marcelo mas não faz nenhuma falta à democracia portuguesa. E que, contra o clamor populista o digo, mesmo a limitação dos mandatos dos deputados também é uma forma de cavalgar a onda anti-parlamentar pois significaria que pessoas com comprovado talento e competência políticas se veriam impedidos de continuar a exercer a sua nobre função. Em síntese, Rui Rio julga que o mal da democracia está nas actuais leis que organizam o sistema político e não percebe que o desafecto em relação à política e aos políticos é um fenómeno bem mais complexo em que entra seguramente a espiral de promessas feitas e não cumpridas (lembre-se a campanha de Passos Coelho de 2011 e o que fez depois), a mistura com os negócios e interesses condenáveis, a politiquice mais ostensiva e o desprezo pelo interesse público.  E tenho a presunção de que o essencial que tinha para dizer sobre estas propostas de Rui Rio está no título deste post.

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