Ana Sá Lopes deve saber
ler mas não entende o que lê
Em editorial no Público de hoje, Ana Sá Lopes, insistindo (como é seu direito) num apoio total e sem nenhumas reservas à actual greve dos motoristas de matérias perigosas, proclama a dado passo que « o Partido Comunista Português aceita as greves desde que sejam dos seus sindicatos e quanto aos outros grevistas acusa-os – sim, aos grevistas – de serem responsáveis pelo Governo limitar o direito à greve.»
Trata-se, nem mais nem menos de uma mentira e de uma deliberada falsificação. Para além de que o PCP não tem sindicatos, o que o PCP afirmou foi que «É neste contexto que é convocada uma greve por tempo indeterminado e com uma argumentação que, instrumentalizando reais problemas e descontentamento dos motoristas, é impulsionada por exercícios de protagonismo e por obscuros objectivos políticos e procura atingir mais a população que o patronato. Uma acção cujos promotores se dispõem para que seja instrumentalizada para a limitação do direito à greve».
Ou seja, não há nesta passagem qualquer acusação aos «grevistas» ou a sua genérica responsabilização. Se houvesse , não se teria usado o termo «instrumentalizando».
Tudo visto, Ana Sá Lopes é livre de não lhe fazer a mínima impressão a duração «indeterminada» desta greve, é livre de nada dizer sobre o porta-voz que diz que a greve pode durar 10 anos, é até livre de ignorar as críticas do PCP à dimensão dos serviços mínimos e à requisição civil e até é livre de, numa matéria de enorme complexidade, ver tudo a preto e branco. O que não pode é pôr na boca de outros o que outros não pensaram nem disseram.
E, afinal, é a ela própria que se aplicam estas suas palavras no mesmo editorial : «a captura da razão em favor da explosão de emoções, delineada por quem tinha responsabilidades especiais, foi demasiado grave e marcará com certeza, para o bem e para o mal, um “antes” e um “depois”.
Adenda absolutamente
necessária (18.40 hs)
No editorial do Público a publicar amanhã na edição impressa, vai escrever o director Manuel Carvalho :
(Público online hoje»
E, face a isto, eu limito-me a dizer que se aplica a Manuel Carvalho tudo quanto escrevi acima sobre o texto de Ana Sá Lopes : o mesmo maniqueísmo, a mesma visão de só preto e branco, a mesma desatenção ao que o PCP realmente escreveu, a mesma ignorância sobre elementares critérios na concepção das formas de luta a adoptar. Por agora, chega !