É bom não esquecer
Manuel Loff no «Público» de 17/4
(...)«O 25 de Abril não foi de forma alguma um “golpe de Estado” clássico. Resultou da iniciativa de uma geração de jovens capitães, 30 e poucos anos, formados todos nas escolas militares impregnadas de colonialismo, nacionalismo autoritário e lições mal aprendidas da Argélia e do Vietname, valores que, em África, na guerra, começaram a repudiar. Derrubada a ditadura, sustentada, afinal, apenas sobre o medo da repressão e a opção irreversível pela guerra, mas sem que ninguém se quisesse bater por ela, a Revolução irrompe pela força irreprimível de todo aquele povo que, contra a vontade (ou a expectativa) do MFA, invadiu não apenas as ruas, entre cravos e aplausos, mas cercou a sede da PIDE/DGS e as prisões políticas para exigir a libertação dos presos. Da mesma forma, se se chegou, ao fim de poucos dias, a um cessar-fogo nas colónias, foi por vontade dos oficiais e soldados que, na mata, desesperavam por uma solução política para a guerra, e dos guerrilheiros africanos que não ficaram à espera do que se decidisse em Lisboa. O MFA vinha prometer o fim da guerra (era essa a mensagem essencial do seu programa); mas o calendário que alguma vez terá imaginado foi antecipado pela vontade das centenas de milhares de jovens empurrados, ano após ano, para África. O 25 de Abril foi a vontade simultânea dos capitães de fazer a paz e a perceção do povo português de se ter aberto uma oportunidade única de democracia genuína, sem medo e sem guerra.» (...)
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