30 maio 2013

Palavras medidas no dia de hoje

Precisamos, é claro, de esperança
mas também precisamos de verdade


É claro que o tratamento dado pelos media e por alguns protagonistas políticos à iniciativa que, com natureza positiva (além do mais, «Libertar Portugal da Austeridade» não é o mesmo que «Libertar Portugal da austeridade excessiva» e muito menos «Combinar austeridade e crescimento em Portugal»), hoje decorrerá na Aula Magna só podia, nas condições em que o debate político ocorre hoje em Portugal, ter a  sobredose de exagero ou voluntarismo que está  ter e quem contrariar isso arrisca-se a ser trucidado e tratado como um sectário que, à esquerda, quer matar  esperanças tão generosas e aspirações tão respeitáveis.

Por mim, que estarei na Aula Magna, neste dia e nesta ocasião quero registar que, por entre anotaçõe acertadas, uma passagem de um artigo de Boaventura Sousa Santos no Público de hoje volta a mostrar que o vento continua de feição para os que gostam de planar sobre os factos e as realidades para poderem debitar generalizações sobre os partidos da oposição. Com efeito, num contexto de viciada contraposição entre o chamado «movimento social» e os partidos à esquerda do actual governo, escreve este  sociólogo que «os cidadãos não têm outro remédio  senão vir para a rua reclamar a queda do governo e forçar os partidos de esquerda e centro-esquerda a assumir riscos, ajudando a minimizar os custos sociais e políticos da turbulência política que se aproxima sem olhar a cálculos partidários».(a propósito, achará Boaventura Sousa Santos que o envolvimento do PS no apoio à movimentação e luta sociais tem alguma parecença com o que lhes têm dado o PCP e o BE ?).

E pronto, no quadro do dia de hoje, o mais que posso fazer é, a pensar agora em Boaventura Sousa Santos, estender-lhe o repto que, sem êxito, já lancei a outras estimáveis personalidades: a saber, que, como são pessoas que devem conhecer perfeitamente as relevantes matérias em que PS, de um lado, e PCP e BE de outro, têm tido posições contrastantes ( e amanhã na AR, por exemplo, vota-se isto) nos venham dizer em relação a cada uma delas com quais posições é que concordam ou das quais discordam. É que, sem isso, estaremos sempre no território das amálgamas injustas e   do cómodo mas deseducativo e algo demagógico cavalgar de aspirações justas e prementes.

Continuarei pacientemente à espera mas não podem estranhar os visados (muitos dos quaissinceramente estimo) que, do seu silêncio perante este convite, eu venha a concluir que há quem reclame dos partidos todas as clarificações, mas não se disponha a clarificar em concreto como se posiciona sobre relevantes questões concretas que emergem do debate político entre PS, PCP e BE.

P.S
. (em duplo sentido): Eu aqui com tantos cuidados por causa do dia de hoje e vai  o líder parlamentar do PS, Carlos Zorrinho, e declara hoje na AR o seguinte:


Olá nova "União Nacional "!

A Itália comovida com...

... a morte de Franca Rame

A actriz italiana num desenho
de Dario Fo, seu marido
.

 

O seu líbelo contra Berlusconi.

Portugal, ano da desgraça de 2013

Quando todos os
comentários são supérfluos


Ler o resto aqui.

Setenta anos depois

Um documentário que
lembra um Programa
que muitos querem esquecer


Depuis plusieurs mois, Gilles Perret filme et recueille les témoignages des acteurs ayant participé à l’élaboration et la mise en place du programme du Conseil National de la Résistance.[ que há 70 anos reunia pela primeira vez em Paris].
Ce documentaire intitulé « Les jours heureux » veut raconter l’histoire de ces quelques hommes sans qui la sécurité sociale, les retraites par répartition, le vote des femmes, les comités d’entreprise et bien d’autres choses n’existeraient pas aujourd’hui en France.
L’occasion aussi de rencontrer des historiens, des journalistes, des analystes spécialistes de la question de la déconstruction de ce programme par quelques uns et de voir que, pour tous, le constat est unanime : le programme du Conseil National de la Résistance est d’une actualité criante et il y a urgence à le rendre visible en le remettant sur le devant de la scène.

Ce documentaire a été proposé à plusieurs chaînes de télévision. Aucune n’a souhaité « prendre le risque » de raconter une telle histoire.


29 maio 2013

Mais fogo de artifício ?

Por uma vez, dou
a palavra a Durão Barroso


Como era de prever, esta provável girândola de fogo de artifício explode hoje nas páginas da maior parte da imprensa nacional e europeia. Perante isto quero humildemente confessar a minha ambivalência: por um lado, tendo presente a imensidão deste flagelo, estou disposto a considerar que tudo o que vier à rede é peixe e melhor que nada; por outro, a minha distância em relação aos altos cumes da sabedoria económica empurra-me para não perceber como é que se combate de forma sinificativa o desemprego juvenil num quadro quase geral de estagnação ou recessão económica, a não ser que, à escala da União Europeia, se desate a criar centenas de milhar de empregos fictícios com salários pagos pelos Estados ou pela União Europeia.

Entretanto, e por uma vez, será de registar que, segundo El País, a este respeito Durão Barroso declarou ontem no Parlamento Europeu o seguinte (tradução minha):« Serei muito claro, há uma proliferação de novas iniciativas quando ainda não se puseram em marcha  as antigas. Isso tira-nos credibilidade. A Comisssão impulsionou em 2011 uma garantia para o emprego juvenil que fracassou pela rejeição de quatro países: Reino Unido, Suécia, Dinamarca e Alemanha».

Com respeito pela presunção de inocência

O meu  suspeito é...

... o Sr. Jacinto Leite Capelo Rego.

nem todo o pequeno comércio está em crise.

Já não há respeito ou...

... proponho o Sec-geral
da ONU para mediador





aqui

Entretanto, como bem se compreenderá, já encomendei um escafandro anti-chamas.

28 maio 2013

Rangel e «a fadiga do regime»

Já que ele não
escreveu, escrevo eu

Com o titulo e a entrada que acima se podem ler, o deputado do PSD no PE, Paulo Rangel, no ponto 5 e final do seu artigo de hoje no Público abre mais o jogo e, referindo-se às presidenciais de 2016, escreve o seguinte (atenção aos meus sublinhados): « Por entre a esquerda e direita, muitos são os que se perfilam e muito mais os que se organizam. Mas, até agora e tanto quanto posso antecipar, todos ou quase todos raciocinam no pressuposto de que o quinto Presidente da República eleito depois do 25 de Abril será mais um - apenas mais um - a somar aos outros quatro. Os efeitos prolongados e dolorosos da situação financeira e económica do país, o descrédito generalizado dos partidos, o enraizamento paulatino da ideia de que subsiste uma crise regime podem, porém, alterar os dados da equação com que tantos se atribulam por estes dias. Um candidato carismático, que ofereça uma solução referendária de mudança de regime, pode alterar por completo as contas que estão feitas e abrir a porta a uma transição constitucional em democracia. É uma das chaves do nosso enigma político, chave essa que tem tanto de perigoso como de atractivo».

Ora, como não ando distraído com o barulho das luzes e não gosto de brincar com coisas sérias, estas palavras do dr. Paulo Rangel suscitam-me desde já as seguintes observações:

1. Longe vá o agouro  de que futuramente uma boa parte dos portugueses transformasse em «fadiga do regime» o que só podia e devia ser uma imensa fadiga das políticas sucessiva e alternadamente  aplicadas  pelo PSD,  pelo CDS e pelo PS.

2. Também eu me preocupo, e muitíssimo, com as hipotéticas, eventuais ou prováveis repercussões sobre o regime democrático que hoje temos de uma indesejavelmente muito prolongada crise social e de um processo de devastação nacional, só que não escrevo sobre isso porque não quero assustar ninguém nem fazer de pitonisa.

3. Mas, se porventura decidisse imitar Paulo Rangel e viesse aludir a um cenário em que um «carismático candidato» presidencial viesse oferecer «uma solução referendária de mudança de regime» pode toda a gente estar certa que logo acrescentaria que essa «chave do nosso enigma» tinha tudo de «perigoso» e nada de «atractivo».

4. Mais e melhor: não deixaria de explicar pormenorizadamente, para vergonha do eminente jurista que Paulo Rangel é, que, mesmo que um candidato presidencial fizesse campanha oferecendo «uma solução referendária de mudança de regime», isso, ainda que eleito, de nada lhe valeria porque, segundo  a Constituição, o Presidente da República não tem o poder de iniciativa em matéria de referendos (mas apenas o de convocar ou não referendos aprovados na AR)  e sobretudo porque a  Constituição proibe referendos sobre si própria ou sobre matérias constitucionais..

5. E dito isto, só falta dizer que, em função do exposto, o cenário tão «neutralmente» enunciado por Paulo Rangel não sõ não constituiria «uma transição constitucional em democracia» como constituiria sim uma afrontosa ruptura com a ordem constitucional e um verdadeiro golpe de Estado antidemocrático. Ou seja, assim escrevo tudo o que Paulo Rangel não quis ou não foi capaz de escrever. Por alguma razão.