22 dezembro 2024

Não há palavras que cheguem

O terrível
sofrimento da Palestina
Alexandra Lucas Coelho,
sempre ela!, no «Pú
blico» de 28/12


(...) «Tudo isto já estava documentado, e Mordechai compila muitos exemplos. Mas talvez a parte mais singular do relatório, pelo próprio facto de ser israelita e falar hebraico, seja o que ele expõe sobre Israel, o ponto a que chegou a desumanização dos palestinianos. E eis a chave, diz Mordechai: a desumanização dos palestinianos é o que permite este horror. Resumo: a grande maioria dos israelitas que não quer saber a verdade (as muitas verdades além da propaganda); que nas sondagens acha bem limpar os palestinianos de Gaza; que é contra a entrada de ajuda (e em muitos casos a trava, incendeia); que acima de todas as instituições aprova as Forças Armadas de Israel, acredita que são as mais morais do mundo. Até porque essas forças são ela mesma, a grande maioria dos israelitas, pais e filhos, mães e filhas. Um exército de tiro ao pato, onde é possível matar palestinianos por tédio ou por um post, onde cada um no terreno pode fazer o que lhe dá na telha, como testemunham soldados e oficiais que estiveram em Gaza. Não são excepções, são padrões. Militares que fazem de qualquer civil um terrorista, incluindo crianças e bebés. Que agem como se Gaza fosse um videojogo, planeiam alvos por Inteligência Artificial, dedicam execuções e explosões às namoradas (e namorados). Que fazem dos palestinianos cães. Que filmam e postam o cadáver de um palestiniano a ser comido por um cão, seguido do lindo pôr-do-sol de Gaza. Que filmam e postam palestinianos passados a ferro por veículos militares, palestinianos despidos, atados, vendados, aos montes. Que recitam a Torah e a cada compasso disparam um morteiro. Que grafitam as paredes, incluindo das mesquitas, com insultos ao Islão e símbolos judaicos (fotografei em Jenin). Que posam no Tinder com fardas, armas, troféus da guerra, porque exterminar palestinianos é sexy. Que se postam com a lingerie das palestinianas, nas casas que arruínam. Enquanto a televisão israelita pode, por exemplo, promover um vídeo genocida em que crianças israelitas, com imagens de destruição em fundo, cantam sobre como Gaza será arrasada e em breve Israel vai cultivar os campos lá. Aliás, uma das últimas actualizações de Mordechai diz respeito à limpeza étnica do norte de Gaza, nestas últimas semanas de 2024, depois de uma líder dos colonos ter ido a Gaza, escoltada pelos soldados, para inspeccionar os futuros domínios das 500 famílias israelitas que ela diz que já estão prontas a mudar.(...)»

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