A escolha das palavras
António Guerreiro no «Público»
«Livro de Recitações
“Percepção de insegurança”
Expressão que passou a circular com grande frequência no espaço público, com origem no Governo.
Era preciso não deixar o “fenómeno” por conta de uma construção imaginária e dar-lhe um forte teor de realidade. Esta operação linguística, que teve certamente uma razão intuitiva, mostra o quanto a política é sempre uma questão de linguagem.
Quem introduziu, a propósito da questão da insegurança, o termo “percepção” tinha à sua disposição pelo menos outras duas palavras que nomeiam com maior rigor o que se passa: as palavras “sensação” e “impressão”. Se o autor desta fábula escolheu a palavra “percepção” foi porque as outras duas acentuavam demasiado a dimensão subjectiva. A percepção é mais objectiva e racional que a sensação, e ainda muito mais que a impressão.
Sabemos isso desde Aristóteles, desde que ele definiu o homem como um “animal político”, isto é, dotada da razão própria das palavras.»
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