Lúcidas palavras
sobre a pobreza
no «Público» de 9/12
(...)«Durante boa parte do século XX, a generalidade dos governos europeus reconheceu o carácter multidimensional da pobreza e a sua tendência para se perpetuar, adoptando um conjunto interligado de medidas para lhe responder. Políticas macroeconómicas promotoras do pleno emprego, protecção social abrangente, educação gratuita e de qualidade, sistemas de saúde universais, habitação a preços acessíveis, redistribuição dos rendimentos por via fiscal, regulação do mercado de trabalho e investimento em infra-estruturas nos territórios mais desfavorecidos eram tidos como pilares fundamentais para qualquer estratégia de redução estrutural da pobreza.
A redução dos ritmos de crescimento económico na generalidade dos países ocidentais a partir da década de 1970 – independentemente dos modelos de Estado social que haviam adoptado – dificultaram o financiamento das políticas sociais. A globalização económica intensificou a concorrência internacional, criando pressões acrescidas nas relações laborais e na fiscalidade. O envelhecimento populacional reflectiu-se nos maiores custos dos sistemas públicos de saúde e de protecção social. As regras orçamentais da União Europeia conduziram em várias ocasiões a um prolongamento e aprofundamento desnecessário das recessões e do desemprego. A estratégia de austeridade adoptada durante a crise do euro (2010-2012) acentuou os cortes nos serviços públicos e nos investimentos sociais, as dificuldades financeiras dos Estados, a precariedade e a desestruturação das relações laborais.
Por detrás disto tudo não estão apenas tendências pesadas e dificuldades financeiras objectivas. Há também muita ideologia, mais ou menos disfarçada. (...)»
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