Comentário a um
artigo de Pacheco Pereira
Em artigo no «Público» de sábado, José Pacheco Pereira dedicou-se a desmontar e a negar, com inegável cultura política como seria de esperar, as pretensas equivalências que muitos pretendem consagrar entre, de um lado, o PCP e o BE e, do outro, o Chega.
Mas creio que, nessa tarefa, acabou por usar argumentos e paradigmas que não fazem sentido e deixam na sombra coisas importantes.
Primeiro que nada, sigamos com alguma demora o pensamento exposto por Pacheco Pereira.
O referido intelectual começa por distinguir « entre a tradição e o programa genético dos partidos e aquilo que é hoje o seu “programa activo”» .
Explica depois que para si «programa activo» é «o que um partido faz de facto, como actua, (...) que imagem tem na sociedade e junto dos seus militantes», considerando que isto é que verdadeiramente importa ter em conta na questão das equivalências no sentido de as não autorizar.
Mais à frente sustenta que «de há muito que quer um, quer outro têm “programas activos” bem longe dessa tradição. Não vemos nem o PCP nem o BE preparar-se para a revolução, inevitavelmente armada e violenta, nem a organizar um sector militar clandestino nem a cumprir nenhuma das explícitas obrigações de um partido comunista traduzidas nas célebres 21 condições da Internacional Comunista. E sempre foi claro desde Lenine que estas condições são [verbo no presente do indicativo] para cumprir, sob pena de estarmos a falar de partidos que se “social-democratizaram” ou se “aburguesaram”. »
Tudo visto e considerado, creio que Pacheco Pereira se equivoca nomeadamente nos seguintes pontos :
- ao distinguir somente entre «tradição e programa original» e «programa activo», esquecendo e desvalorizando que, por cima de um e de outro, os partidos tem sobretudo programas actuais aprovados em Congressos que definem, de foma solene e insuperavelmente autorizada, o seu posicionamento e projecto político perante a sociedade e os cidadãos;
- ao esquecer, em concreto, que o PCP tem um Programa intitulado «Uma democracia avançada – os valores de Abril no futuro de Portugal» em que, ao contrário do que diz Pacheco Pereira, a «democracia avançada» não é um «eufemismo» para esconder a «ditadura do proletariado», é mesmo um projecto de desenvolvimento e enriquecimento do regime democrático, representando uma fase ou estádio diferente e anterior ao socialismo.
- ao invocar, a meu ver absurdamente, «as 21 condições da Internacional Comunista» e ao dizer que «são para cumprir», esquecendo-se que elas tem exactamente 100 anos, que a Internacional Comunista acabou em 1943 e que, entre muitas outras evoluções, a aceitação da diversificação das vias de passagem ao socialismo é um património adquirido pelo movimento comunista, se não antes, pelo menos desde a década de 50 do século passado.
Isso mesmo. Bom post. A lembrar o fôlego dos melhores momentos do blog.
ResponderEliminarO que sabe o Pacheco Pereira? Se soubesse alguma coisa nunca tinha ido para o PPD.
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