10 novembro 2019

No «DN» com Jerónimo de Sousa

Uma grande entrevista
«(...) Quanto à comparação com os resultados que a CDU teve, que foram resultados que ficaram muito aquém daquilo que nós perspetivávamos, há causas: naturalmente existirão deficiências nossas, dificuldades, mas pesou muito neste resultado a campanha brutal a que o PCP foi sujeito, não por razões de ordem política ou ideológica, mas com recurso à mentira, à calúnia, à difamação, por parte de alguma comunicação social, não digo toda, mas alguma. Uma das televisões chegou a dar três horas de entrada de telejornais com o processo das câmaras e o que tentou ofender o secretário-geral do PCP e o primeiro candidato ao Parlamento Europeu, o camarada João Ferreira. É daquelas coisas que mais magoam, porque com a idade que tenho e os anos que aqui ando sou uma pessoa normal, com virtudes e com defeitos, mas tenho da política uma visão que sempre marcou a minha conduta - a de procurar sempre servir os interesses dos trabalhadores e do povo e não servir a mim próprio. Esta marca da diferença foi contaminada por essa calúnia, por essa mentira, aliás comprovada até por um parecer, embora tímido, da própria ERC, que reconhecia a razão ao PCP. Isso marcou muito, porque a semente da dúvida, do boato, projetada à escala de milhões, naturalmente teve reflexo no nosso resultado.

Está cansado?

Não, cansado não. Há o cansaço natural da campanha eleitoral, mas isso é facilmente compreensível. Não me sinto cansado, não me arrependo da contribuição que dei mas, naturalmente, neste processo fiquei magoado porque me atingiu no plano ético, no plano moral, que era para mim um bem adquirido, o prémio, se quisermos, desta vida intensa que tive nestes anos de Abril e que foi atingido por essa campanha insidiosa que naturalmente deixa sempre marcas.

 E a que o partido não conseguiu reagir a tempo e horas.

Não porque a campanha não era para ouvirem o PCP ou para me ouvirem, era uma campanha para me perguntarem: "O fulano de tal é seu genro?", " O fulano de tal é pai do João Ferreira?". Era isto que perguntavam.

Tinha quase um lado de ataque pessoal?
Era pessoal, naturalmente, mas com objetivos políticos muito mais vastos. Ou seja, este bem precioso de não sermos iguais aos outros, de estar na política de facto para servir e não para nos servirmos ficou abalado porque foram muitos os portugueses que, pelo menos, ficaram com a dúvida.


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