antiga evocação de Pires Veloso
Na desaparecida e perdida 1ª série de «o tempo das cerejas» publiquei há uns anos uma evocação sobre o meu conhecimento pessoal do general Pires Veloso. Fi-lo então sem qualquer ideia de ajustes de contas e sobretudo apenas porque, com mais algumas personalidades, ele era uma das melhores ilustrações que eu conhecia de como o 25 de Abril modificou algumas pessoas.
Na verdade, quem apenas tenha conhecido a intervenção pública e política de Pires Veloso depois do 25 de Abril não pode deixar de ter a ideia de um militar impulsivo, espalha-brasas, algo destemperado.
E foi por isso que eu decidi contar que o Major Pires Veloso, quando foi meu chefe na secção de Oficiais do Quadro Permanente da Repartição de Oficiais do Ministério do Exército, era um militar de que se dizia não estar bem visto para os lados da Secretaria-Geral da Defesa Nacional e era sobretudo um homem de trato cordial e suave mas muito tímido, inseguro e muito assustadiço face ao temivel chefe de Repartição, o coronel Delgado (um baixinho que usava tacão alto e tinha ligações à Torralta).
De cada vez que este o chamava pelo telefone, Pires Veloso tremia e não poucas vezes foi aqui o então alferes Dias que lhe procurava incutir alguma serenidade e fornecer a argumentação que devia usar em relação a certas questões em concreto sobre as quais ele ia ser chateado.
E também nunca esquecerei do dia em que entrei de serviço de manhã e lá do fundo da sala vazia (só se trabalhava à tarde), logo o Pires Veloso me gritou «ó Dias, ó Dias, chegue aqui, venha ver isto». O «isto» era nem mais nem menos a primeira página do Diário de Notícias toda ela ocupada com o atentado da ARA em Tancos. E eu, embaraçado até ao pescoço e com vontade de celebrar, só lhe disse «pois é, meu major, que grande bronca». E zarpei dali o mais depressa que pude pois, sobre aquele assunto, não tinha mesmo mais conversa para fazer com Pires Veloso.
Pires Veloso fez um trabalho meritório aquando da sua passagem por S. Tomé, depois do 25 de Abril.
ResponderEliminarNão foi este "o"atentado" da ARA , que gerou uma troca de acusações, com um dos Movimentos de Libertação da Colónias, sobre quem estaria na genese dessa acção anti-colonial?
ResponderEliminarPosso estar equivocado mas o Vitor Dias á época, ainda não era militante do PCP.
Nunca vi a autoria este atentado - que provocou a destruição de numerosos aviões e helicópteros - ser objecto de qualquer polémica. Há o comunicado emitido pela ARA e a sua preparação está minuciosamente descrita nos livros do Raimundo Narciso e do Jaime Serra.
EliminarNão percebo a que propósito vem a referência ao facto de à época eu ainda não ser militante do PCP (embora já levasse cerca de 6 anos de estreita colaboração com membros do PCP)
Pois... Há sempre perspectivas e pontos de vista alternativos (mas muitas vezes complementares) sobre as personalidades que, por qualquer razão, acabam por «ganhar» exposição mediática...
ResponderEliminarCaro Guilherme : o que eu quis pôr em evidência foi unicamente o caso de como determinadas circunstâncias históricas podem vir a mudar o padrão de personalidade ou atitude de certas pessoas. Da tropa então sempre se disse que os que foram mandados se vingam quando passam a mandar.
EliminarO militar Cunhal de Penamacor também se vingou ?
ResponderEliminarA sua observação numa parte não tem razão de ser pois A. Cunhal não seguiu nenhuma carreira militar. Noutra parte, concedo que deveria antes ter escrito qualquer coisa como « Da tropa então sempre se disse que ALGUNS dos que foram mandados se vingam quando passam a mandar.»
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