29 agosto 2014

Joshua Oppenheimer volta à

Indonésia, 1965


Em boa hora, o Público de hoje dá hoje uma página inteira a uma peça de Vasco Câmara sobre a apresentação no Festival de Veneza do documentário de Joshua Oppenheimer (na foto)  The Look of Silence com o qual, depois de Act of Killing, volta à matança de comunistas e outros progressistas na Indonésia em 1965. Quanto ao mais, permito-me reeditar a minha crónica sobre este tema no Avante! de 19.8.2001.

Indonésia, 1965


Acredite-se que não é por preguiça de Agosto que esta crónica quase se limitará a citar matéria publicada no «Le Monde» de 30/7 e no «Público» de 2/8. É antes porque, às vezes, alargar a circulação de informação e o correspondente conhecimento de certos factos é mais útil do que carradas de comentários.

Para quem não leu aqueles jornais, diga-se então que se trata de arrasadoras confirmações do consciente envolvimento dos EUA no massacre de centenas de milhares de comunistas indonésios na sequência do golpe reaccionário de 30 de Setembro de 1965 que viria a depor o Presidente Sukarno e a instaurar a ditadura de Suharto.

Essas revelações são extraídas de documentação da CIA e do Departamento de Estado que, embora com a enervada oposição destas duas entidades, acabou por ser publicado pelo GPO (algo semelhante à nossa Imprensa Nacional) num volume que se encontra disponível na Net (em www.nsarchive.org) graças à meritória actividade do National Security Archive da Universidade George Washington.

E, nesse âmbito, registe-se então que, em telegrama de 15.4.1966, Marshall Green, embaixador dos EUA na Indonésia, declarava que « nós não sabemos francamente se o número exacto (de comunistas assassinados) está mais próximo dos 100 mil ou do milhão, mas achamos que é mais sensato admitir o número mais baixo, sobretudo face à imprensa».

Registe-se então que a embaixada norte-americana forneceu aos generais indonésios promotores do golpe listas de dirigentes e quadros comunistas que na sua maioria foram executados.

Registe-se que, segundo esta documentação mantida secreta durante 35 anos, a própria CIA considerou que «em termos de número de mortos, os massacres anti-PKI figuram entre os piores assassinatos em massa do século XX», embora na altura a «Time» lhes chamasse «as melhores notícias da Ásia para o Ocidente dos últimos anos».

Registe-se que, em nota de 2.12.65, William Bundy, vice-secretário de Estado para o Extremo Oriente, escrevia que «serve esta para confirmar que fornecemos a Malik 50 milhões de rupias que ele pediu para financiar o movimento Kap-Gestapu» ( apropriado nome de um dos mais eficazes grupos de assassinos).

Prestada a informação essencial, só nos resta registar que este horrível banho de sangue patrocinado pelos EUA nunca é evocado anualmente pelas televisões, ao contrário do que sucede com alguns outros dramas e tragédias do século XX.

E registar que, ao contrário do que injustamente aplicam aos comunistas portugueses, as personalidades e forças políticas nacionais amigas da política norte-americana e defensoras do capitalismo nunca aceitam responder e considerar-se ideologicamente corresponsáveis por esta generalizada matança de comunistas.


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1 comentário:

  1. Há quanto tempo andam os americanos e seus aliados a tentar destruir Os comunistas!!!!!!!!!!
    Um abraço.

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