01 dezembro 2012

Vejam lá se está bem assim

Um adjectivo só para o PCP


O editorial do DN de hoje , dedicado ao Congresso do PCP, e de feição apesar de tudo moderada, intitula-se «o partido prevísivel». O editorial obviamente não se dá ao trabalho de me explicar e demonstrar em que é que o PSD, o CDS, o PS e o BE são imprevísiveis, coisa que me dava jeito porque eu, em 90% dos casos, consigo sempre prever o seu discurso, atitudes e orientações.

De qualquer modo,   atrevo-me a imaginar uma notícia de jornal sobre a abertura do Congresso do PCP que teria poupado o PCP a este labéu de «partido prevísivel». Rezaria assim :

"FINALMENTE, UM PARTIDO IMPREVÍSIVEL-
Jerónimo anuncia viragem de 180 graus na política do PCP


Talvez sinal dos tempos que vivemos, o «impossível» ou «imprevísivel» aconteceu ontem na abertura do XIX Congresso do PCP com uma fria e surpreendida reacção dos delegados ao discurso de abertura do Secretário-geral. 

Com efeito, o primeiro sinal foi logo dado no quinto parágrafo do longo discurso de Jerónimo de Sousa quando este afirmou que «nos dias de hoje, ser revolucionário e consequentemente de esquerda não é construir um mundo imaginário de objectivos que se chocam com a realidade mas sim ter em conta e promover as adaptações necessárias aos factos consumados por mais que tenhamos lutado contra eles e os tenhamos considerado indesejáveis e condenáveis».

Mais à frente, uma corrente gelada percorreu o Congresso quando Jerónimo de Sousa explicou que «perante os perigos imensos e o terrível processo de empobrecimento nacional contido nas orientações e medidas governamentais, a grande e  realista tarefa e objectivo não pode ser a urgente derrota desta política e deste governo mas apenas a contenção de alguns dos seus aspectos mais gravosos,  não pode ser a recusa global do memorando com a troika mas a conquista dos ajustamentos e rectificações possíveis».
E, logo a seguir, numa declaração que deve ter provocado calafrios na delegação da CGTP que assistia aos trabalhos, o Secretário-geral do PCP, embora reafirmando a solidariedade do PCP com as lutas dos trabalhadores, salientou ser necessário que «a par delas, seja dada uma nova centralidade ao diálogo na concertação social».

Também em matéria de alternativa política, o Secretário-geral do PCP surpreendeu os delegados ao afirmar que «na situação de emergência nacional que vivemos e com vista à conquista de um futuro governo patriótico e de esquerda, o PCP está disponível para começar do zero o seu diálogo com o PS, esquecendo todas as medidas gravosas adoptadas nos governos de Sócrates e todos os acordos e convergências já verificados entre o PS e o actual governo, não pretendendo colocar em cima da mesa de eventuais negociações com o PS a questão da revogação dessas medidas já entradas em vigor».

Ao intervalo, as conversas dos delegados e as expressões destes faziam prever uma sua viva contestação  na sessão da tarde a esta anunciada viragem na orientação do PCP que, por esta via e ao menos por uma vez, o transformaram finalmente num «partido imprevísivel.»


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