03 dezembro 2012

Um post de Daniel Oliveira

Um péssimo arranque




Um post de Daniel Oliveira no «arrastão», substancialmente dedicado a questão do peso dos funcionários nas direcções partidárias - matéria que talvez discuta em outra altura - arranca, quanto a mim, espantosamente, assim (sublinhados meus):

«Quando vi que o Congresso do PCP começava numa sexta-feira, de dia, não pude deixar de pensar: como pode um partido político juntar os delegados a um congresso num dia de semana? Só de uma forma: se uma parte significativa desses delegados trabalharem para o partido, forem eleitos para cargos políticos com disponibilidade a tempo inteiro ou forem assalariados de organizações que lhe são próximas. ».

Sobre isto, apenas quero deixar quatro notas:

1. Como é sabido, o que não têm faltado são manifestações promovidas pelo movimento sindical em dia de trabalho (14 de Novembro foi a última e até contou  com afluentes de outros movimentos,  e também manifestações «inorgânicas» em iguais dias de trabalho e nunca vi Daniel Oliveira sentenciar que isso só era possível porque parte significativa dos participantes dependia financeiramente dos sindicatos ou de quem quer que fosse.

2. Daniel Oliveira parece ignorar que mesmo os que são trabalhadores por conta de outrem podem, ao abrigo da legislação em vigor, pedir dispensa de um dia de trabalho e descontá-los nas férias.

3. Ao longo de três décadas, assisti a muitas eleições de delegados a Congressos do PCP e nunca vi as candidaturas de delegados serem justificadas pela disponibilidade resultante das situações profissionais elencadas por Daniel Oliveira.

4. De momento, não tenho à mão  os elementos probatórios mas aposto dobrado contra singelo que a maioria dos delegados ao XIX Congresso do PCP não corresponde aos perfis profissionais desenhados por Daniel Oliveira. E, ainda que correspondessem, é saber muito pouco do «povo comunista» supor que isso seria qualquer séria condicionante à sua liberdade e vontade.

6 comentários:

  1. Colabora no Expresso
    E segue o passo do texto
    do Vice-Monteiro

    O Daniel cumpre o papel
    (e transpira fel)

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  2. Meu comentário à prosa do DO

    Jorge
    A demagogia anticomunista de dois colegas


    Começa Daniel Oliveira por estranhar que o Congresso do PCP tivesse começado a uma sexta-feira. E se fosse ao sábado? já estava bem? desconhece DO que os operários em Portugal também trabalham ao sábado? que muitos nas fabricas trabalham por turnos e que a folga é quando calha? que os operários agrícolas e o trabalho no campo a folga é quando o tempo manda? que os empregados do comercio trabalham ao sábado e outros até ao domingo? É normal que nao saiba pois nunca entrou numa fabrica e pensa que toda a gente é profissional liberal e trabalha no Expresso . E os outros?pensara o DO. Pois os outros ,DO tiraram um dia de ferias como o fazem quando preparam a festa do Avante. Sabe a dedicação revolucionaria é uma coisa muito bonita. E os estudantes ? pensara DO . Pois se tinham aulas faltaram às aulas, mas olhe que os estudantes comunista sao geralmente os que têm melhores notas, nao se "preocupe."


    Depois vem a "preocupação "com o número de funcionarios e a burocratizarão e o afastamento da vida. O anticomunismo tem esta "preocupação "que ate chega a dizer o que os comunista devem fazer e como devem ser. Nao se "preocupe "DO , os trabalhadores e a classe operaria (maioritaria nos órgãos dirigentes do PCP) estão bem entregues. Já no tempo da clandestinidade e com todos os dirigentes funcionarios as lutas dos trabalhadores nao deixaram de se fazer .


    Vem ainda a "preocupação "com a independencia dos funcionarios porque dependem do salário do partido. Nao se preocupe DO, a procura é grande e geralmente muito bem remunerada por excomunistas que venderam a alma . Lembra se de Pina Moura, de Zita Seabra, só para citar alguns? Estão bem na vida nao se "preocupe "e a folha de salarial é directamente proporcional ao nível de anticomunismo mostrado.


    Citando Alvaro Cunhal (outro funcionário do partido) " o próprio facto de existir, como partido operário, como partido marxista-leninista, é a maior prova de independencia do Partido" e ainda " Ser comunista nao consiste apenas em ter um objectivo político e lutar pela sua realização. Ser comunista nao é apenas uma forma de agir politicamente. É uma forma de pensar,sentir e de viver. E isto significa que os comunistas , nao só têm objectivos políticos e sociais , nao só têm uma ideologia e um ideal de transformação da sociedade , como têm uma moral própria , diferente da moral burguesa e superior a ela."


    Fique descansado

    deixado a 3/12/12 às 14:44
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  3. Não exageremos: "mas olhe que os estudantes comunista sao geralmente os que têm melhores notas".

    Regressei à faculdade para um segundo curso e não é bem assim. (pronto, no meu caso é, mas eu sou só votante e no primeiro estava longe de ter boas notas: fui mesmo bastante bera)

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  4. E o que tem esse DO a ver com o congresso do PCP, com o seu horário, funcionamento e com a disponilibilidade dos que lá vão? Sai prejudicado na sua vidazinha porque o congresso começa a uma sexta-feira? Preocupam-no as imagens mostradas da nave e das bancadas plenas de jovens, mulheres e homens que não arredam durante os trabalhos porque de lá saem mais esclarecidos e capazes de explicar onde quer que se encontrem que por todo o país e na emigração a voz e a luta dos militantes e dos amigos do PCP se faz sentir na primeira linha? Neste PCP com mais de noventa anos de vida e de história quem decide é a sua direção e os seus militantes. O resto é a nervoseira aguda de quem vaticina o fim deste PCP e não o vê chegar. De Loures, um abraço aos que participaram no congresso e me dão contributos valiosos para lutar: pelo PCP e por Abril!

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  5. Nestes tempos do "politicamente correcto" que, normalmente, funciona como seguro contra acidentes mas, pelas circunstâncias da própria vida, obriga também a cuidadoso equilíbrio, a vara que o artista segura vai atirando setas (ferroadas)que ajustam (o termo está em voga) melhor o centro de gravidade.
    "Ser de esquerda" vende-se bem mas, por enquanto, infelizmente, ainda há quem prefira o produto contrafeito.

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