26 setembro 2011

60 minutos com os...


Wilco




... no David Letterman Show (CBS)

Na União Europeia


Crise e mudanças de opinião



Durante muitos e muitos anos, eu costumava dizer, acreditem que mais por graça do que por presunção, que pertencia ao selecto grupo dos 27 portugueses que consultava com alguma atenção e detalhe os Eurobarómetros publicados duas vezes por ano pela Comissão Europeia. Depois, vá-se lá saber porquê, isso passou-me mas, a não ser que tivessem sido os banhos estivais que me distraíram, também me parece que a imprensa portuguesa não reparou bem nos resultados do Eurobarómetro nº 75, com trabalhos de campo feitos na Primavera e divulgados em Agosto. Recomendando aos mais interessados a consulta do documento na íntegra, o que posso aqui deixar é que me pareceu que, sob o impacto da crise, esta sondagem apresenta assinaláveis mudanças na opinião pública europeia em numerosas matérias, de que dou aqui quatro exemplos, pedindo desculpa pela má qualidade de três das imagens:



Aqui a pergunta era sobre se os inquiridos tinham
sobretudo " confiança" na União Europeia
ou sobretudo "não confiança"
:


A azul a "confiança", a vermelho a "não confiança" e a cinzento os «não sabem não respondem». Dos inquiridos portugueses 44% pronunciaram-se pela "confiança" e 46% pela "não confiança" o que, na minha memória e opinião, é coisa nunca vista desde que Portugal aderiu à CEE em 1.1.1986.

aqui a seguir, a evolução desde 2004
da média
europeia sobre a mesma questão


25 setembro 2011

França - eleições para o Senado

Um bom sinal e uma bela frase



Voltando à vaca fria ou até enjoa


Lamúrias

e autoflagelação (arrastando outros)


Só mesmo a falta de assunto mais vivo e interessante pode ter levado Vasco Pulido Valente a, na sua crónica hoje no Público, voltar a remoer lamúrias e a exercitar autoflagelações em relação à chamada «geração de 60», a dele, a minha, a de tantos outros, a que ele chama tristonhamente «uma geração perdida» . E também só por falta de assunto, e para supremo aborrecimento de leitores mais fiéis é que, num dia tão bonito como este, volto a responder a uma mistificação e a uma descarada e absurda amálgama em torno da «geração de 60», coisa que aliás já fiz há tempos no perdido «tempo das cerejas», mas em resposta a Helena Matos, sob a fictícia e irónica forma de «carta aberta à geração de 60» (e antes disso, em 2006, em artigo no Público)

É que, francamente, parece que vou morrer sem conseguir entender porque é que cidadãos e cidadãs diversos, com orientações e percursos políticos e ideológicos tão variados hão-de entrar, quase quatro décadas depois, na mesma caldeirada de culpas, responsabilidades e fracassos só porque nasceram entre 1940 e 1950 e tiveram na década de 60 e pelo menos até ao 25 de Abril um determinado protagonismo cívico e político (ele mesmo com traços diversos) de sentido antifascista.

Vasco Pulido Valente, metendo tudo no mesmo saco, chama-lhe pois «uma geração perdida». Eu, por mim, limito-me a plagiar Pablo Neruda ditando modestamente para a acta que «confesso que vivi». E, naturalmente, de modo diferente de Vasco Pulido Valente.

Para o seu domingo, um disco de homenagem

La Habana canta a (Joaquim) Sabina






24 setembro 2011

A retirada de Cesária Évora

Sódade mas haja saúde !




Palestina


Política justa, território
estran
ho, escasso e esfacelado



Nenhuma dúvida quanto a mim sobre o acerto e a importância políticas da apresentação pela Autoridade Palestiniana da mais que justa pretensão de que aquele território seja admitido como membro de pleno direito da ONU.
Entretanto,ao contrário do Público, andou bem o El País ao, neste dia, publicar não apenas uma mapa genérico da zona mas a cartografia do território da Palestina que desenha um Estado palestino fragmentado e sem continuidade territorial, interrompida estas por território sobre controlo israelita, colonatos judeus em barda, muros e check-points. (Pedindo desculpa pela má qualidade da imagem, retenha-se ainda assim que a castanho estão as zonas controladas pelos palestinianos, a azul as controladas por Israel e sua «propriedade» e ainda se pode ver o muro já construído e o planeado).



Porque hoje é sábado (306)

Tori Amos


A sugestão musical de hoje distingue
a pianista e songwriter norte-americana
Tori Amos e o seu singular novo
álbum Night of Hunters
baseado em variações sobre temas
de música clássica (ler aqui)


The Night of Hunters


Shattered Sea



Your Ghost


23 setembro 2011

Nada de comparações globais mas...

... atenção a certos factos !


 
Quem, por azar seu, acompanhar por alto ou por perto, o que escrevo há muitos e muitos anos reconhecerá certamente pelo menos duas coisas: uma é que não sou dado a tremendismos e outra que não dou nem um cêntimo para  um recorrente peditório a favor da reabilitação do fascismo português.
Dito isto, creio não estar proibido, atenta até a experiência profissional que aqui evoquei, de achar, sentir ou pensar que estão em curso ideias e projectos no âmbito da legislação laboral que são um recuo mesmo em relação a regras e disposições legais vigentes antes do 25 de Abril de 1974, o que não pode deixar de constituir um acrescido motivo de indignação e raiva.
Infelizmente, os tempos que correm e os habituais vícios de manipulação por parte de alguns obrigam-me a acrescentar que esta anotação não visa manifestar saudades de nada, não pretende estabelecer nenhuma comparação global entre o regime de hoje e o regime que, em boa hora, derrubámos em 25 de Abril de 1974. Visa sim, e isso assumida e frontalmente, salientar que isto tem um profundo significado histórico, que é uma revanche brutal sobre as aspirações e conquistas dos trabalhadores e que só pode estar em marcha por força de pessoas, concepções e culturas políticas que não entenderam nadinha de nada, ou entenderam bem de mais, o que revolução do 25 de Abril (e até certos pequenos avanços alcançados anteriormente) significaram na sociedade portuguesa.

E agora ...

Brett Anderson em Brittle Heart


Dirigente da Federação dos Estudantes Chilenos

A valente Camila Vallejo

Rafael Argullol em "El País"

Palavras de um escritor espanhol
contra esta comédia de enganos

Rafael Argullol aqui em El País, em artigo intitulado «La verdad de los mentirosos»:«(...)¿qué es la verdad? Quid est veritas? Una pregunta con una respuesta difícil, quizá la más difícil de todas las que podemos plantearnos. Y, sin embargo, en los últimos tiempos estamos cansados de escuchar a personajes públicos que, ante cualquier dificultad, responden machaconamente: "Nos limitamos a decir la verdad". Y también los derivados más crudos de esta afirmación: "Es lo que hay" o "así es la realidad".

No pasa día en que alguna de estas tres frases -y a menudo las tres- sea pronunciada por consejeros, alcaldes, presidentes autonómicos, ministros y jefes de Gobierno. A partir de ahí el dominio de lo que es la verdad, presentada asimismo como revelación de lo que era la mentira, justifica cualquier acción, pues el responsable público, amparado por lo inevitable de la situación, acaba presentándose, ya no como un servidor sino como un salvador de la comunidad o, para los que prefieren una mayor grandilocuencia, como salvador de la patria. Una de las más grotescas paradojas de la situación actual es que la "verdad sobre lo que hay" (arcas vacías, deudas insostenibles) sea el argumento para agredir los dos territorios más sensibles de la sociedad, la educación y la salud.

El embuste implícito a esta verdad con que ahora se nos abruma está originado, cuando menos, en dos fuentes: quiénes son los albaceas de aquella supuesta verdad y cómo se forjó la mentira de la que ahora quieren liberarnos. No obstante, ambas fuentes confluyen en el hecho de que quienes ahora dicen revelarnos la verdad son los mismos que estaban en condiciones, durante años, de desentrañar la mentira. Me cuesta encontrar un solo responsable político actual de envergadura que no haya estado comprometido con aquella ocultación, ni en el partido del Gobierno ni en los principales de la oposición. Esta complicidad en la mentira o, si se quiere, en el mantenimiento de una opacidad culpable, es la que ha creado un clima moralmente inquietante, en el cual no solo hemos contemplado la corrupción de políticos sino de amplias capas de la ciudadanía, que han premiado la corrupción con vergonzosos respaldos electorales. En las próximas elecciones la mayoría de los candidatos están atrapados en aquella complicidad pues, a pesar de los desastres económicos de los que venimos hablando desde hace unos tres años -pero no antes, el detalle es importante-, no se ha producido autocrítica real ni catarsis colectiva. Es fácil tener la verdad hoy; lo auténticamente difícil era denunciar la mentira ayer.(...)»

A América que eu detesto

Troy Davis

A ler aqui
 e a ler também 18 perguntas de Dave Zirin
em The Nation

After Troy Davis's Death,
Questions I Can't Unask

1. Can Troy Davis, who fought to his last breath, actually be dead this morning?
2. If we felt tortured with fear and hope for the four hours that the Supreme Court deliberated on Troy’s case, how did the Davis family feel?
3. Why does this hurt so much?
4. Does Judge Clarence Thomas, once an impoverished African-American son of Georgia, ever acknowledge in quiet moments that he could easily have been Troy Davis?
5. What do people who insist we have to vote for Obama and support the Democrats “because of the Supreme Court” say this morning?
7. Why does the right wing in this country distrust “big government” on everything except executing people of color and the poor?
8. Why were Democrats who spoke out for Troy the utter exception and not the rule?
9. Why didn’t the New York Times editorial page say anything until after Troy’s parole was denied, when their words wouldn’t mean a damn?
10. Why does this hurt so much?
11. How can Barack Obama say that commenting on Troy’s case is “not  appropriate” but it’s somehow appropriate to bomb Libya and kill nameless innocents without the pretense of congressional approval?
12. What would he say if Malia asked him that question?
13. How can we have a Black family in the White House and a legal lynching in Georgia?
14. Why does this hurt so much?
15. Can we acknowledge that in our name, this country has created hundreds of thousands of Troy Davises in the Middle East?
16. Can we continue to coexist peacefully in a country that executes its own?
17. What the hell do I tell my 7-year-old daughter, who has been marching to save Troy since she was in a stroller?
18. If some of Troy’s last words were, “This movement began before I was born, it must continue and grow stronger until we abolish the death penalty once and for all”, then do we not have nothing less than a moral obligation to continue the fight?

22 setembro 2011

Desculpem lá, não faz o meu género, mas...

... isto é uma escabrosa filha da putice



Não é preciso ser especialista em direito de trabalho ou sequer ter, como eu, trabalhado de 70 a 74 no contencioso de um sindicato corporativo já conquistado pelos trabalhadores para perceber que a nova ideia governamental de contornar o impedimento constitucional de despedimentos sem justa causa criando a figura da legitimidade de despedimentos por «incumprimento de objectivos» é uma filha da putice de bradar aos céus e de alto calibre que representaria um intolerável retrocesso e um ainda maior desequilíbrio nas relações entre o capital e o trabalho dentro das empresas.

Começa desde logo que a definição de objectivos (e o seu correspondente realismo ou irrealismo) é obviamente monopólio e prerrogativa do patronato e para o qual os trabalhadores não riscam nada.
Segue-se que o suposto «incumprimento de objectivos» é, no mundo do trabalho, das coisas mais subjectivas e sujeitas a juízos mais arbitrários que imaginar se pode. E a ir por diante tal monstruosidade, já se sabe qual seria o filme seguinte: primeiro os trabalhadores «incumpridores de objectivos» iriam para o olho da rua e depois passariam anos a  lutar nos tribunais.
E, entre tanta agressão, desumanidade e recuo para tempos tão remotos que até dá vergonha, ai está mais uma razão para engrosssar as manifestações de Lisboa e Porto no próximo dia 1 de Outubro.



Pois, pois, em 2016 ...

Previsões à Lagarde(re)


No Público de hoje, uma desenvolvida notícia arranca assim: «Em 2016, já não vamos ser o país da União Europeia  que vai crescer menos, nem teremos o pior défice orçamental dos 27 países da região. O Fundo Monetário Internacional (FMI) mostra-se confiante nos resultados do programa de ajuda externa e, nas suas novas previsões, coloca Portugal a crescer mais que a Alemanha e várias outras economias europeias daqui por cinco anos. Mas nem assim o país conseguirá recuperar os postos de trabalho perdidos durante a crise financeira e económica de 2008-2009 e durante a crise da dívida actual.»

E depois de ter listo isto, só tenho vontade de desabafar assim:
1. Não seria melhor o FMI e outras instituições internacionais deixarem-se de tantas previsões que, pelo menos desde 2007, têm tido falhanços tão espectaculares, sempre explicados pelos surpreendentes humores dos «mercados» e pela sua extrema volatilidade ?
2. Imaginarão a srª Lagarde e outros génios da economia mundial que os portugueses que deitam diariamente contas à sua amarga vida e nunca viram o mês sobrar tanto e os salários chegarem tão pouco esboçam ao menos um meio-sorriso de esperança ou consolação quando lhe vêm dizer que daqui por cinco anos (6o meses) Portugal vai crescer mais que a Alemanha ? (e mesmo que assim viesse a ser, qual seria o excepcional significado disso tendo em conta que Portugal partiria de um ponto muito baixo ?).
3. Se a gente como a srª Lagarde e o pessoal do FMI & Cia. restasse um pingo de humanismo deviam então era reconhecer a estupidez e a barbaridade destas receitas que trazem no seu bojo a radiosa promessa de que, nem daqui por 5 anos, recuperaremos os níveis de emprego anteriores à crise.
4. Por fim, porque raio é que havemos de levar a sério as previsões do FMI, do BCE, da UE e tutti quanti se estas instituições não quiseram propositadamente levar a sério as advertências e previsões de tantos respeitados economistas e institutos que, logo no Inverno de 2007, avisasram que, a seguir, viria aí uma coisa chamada «crise das dívidas soberanas» e caracterizaram como «sistémica» aquela crise nascente, coisa que Durão Barroso demorou quatro anos a descobrir ?


E pronto, agora vou ali ao Prof. Karamba e já volto.

A «Time» despede-se assim dos...

R.E.M.

They Stood in the Place Where They Lived (VIDEO)
By
James Poniewozik

are breaking up. Get ready for the reminiscences: this is an unprovable thesis, but R.E.M.'s music was especially intimate and inward-looking for a supergroup's (compare U2, for a contemporary), so it feels to me like my generational peers will feel this one especially personally.
I will save for the unfortunate Tuned In Jrs. the reminiscences of Daddy learning the intro to "Driver 8" on his first guitar in high school, or seeing them (with the dBs opening!) on the Document tour. But for the purposes of this blog, it's worth noting that there was a period, around the band's peak of popularity, that it was not just an omnipresence in music but also a presence on TV.
The first thing that comes to mind is "Stand," which became perhaps the best repurposed pop-song-as-TV-theme when it was adopted by Chris Elliott's Get a Life. I know there's a lot of competition in that category: "Rock Around the Clock" for Happy Days, "Bad Reputation" for Freaks and Geeks, and I'm sure you have many other candidates. But this felt like a particularly fitting pairing of band and TV show. The series launched in 1990, when R.E.M. was a major success but was still at the cusp of indie and mainstream success (at a time, a year before Nirvana's Nevermind, when that boundary was more pronounced).
There isn't, and wasn't then, exactly a TV equivalent to indie music, but you could argue that the weird, brilliant Get a Life was the closest thing to it in audience and sensibility. It aired on Fox, which was just breaking out with The Simpsons and was making its reputation by putting things on the air that other networks wouldn't. It starred Elliott, who was known from Late Show with David Letterman, which established the genre of the late-night talk-show with an experimental, not-quite-broadcast sensibility. Getting R.E.M.'s "Stand" as its theme—a poppy tune as upbeat as any TV theme, yet that didn't quite sound like a TV theme—lent the show a kind of indie cred. (Getting  cancelled after 35 episodes cemented it.)
It also underscored something about R.E.M.: that for a band that wrote cryptic songs that referenced falling skies and Joseph McCarthy, they had a sense of humor. Another bit of TV trivia that underscores that is Michael Stipe's appearance on Nickelodeon's Adventures of Pete & Pete as salty ice-cream man Capt. Scrummy (a kind of spiritual predecessor to Yo Gabba Gabba's parade of indie musicians).


Stipe was evidently also a voice in the J. Otto Seibold holiday special Olive, the Other Reindeer, a special I remember, though I'd forgotten Stipe's role. Update: Here's the video, courtesy of Bill Goodykoontz of the Arizona Republic:


But I suspect the R.E.M./TV intersection that's embedded most deeply in my generation's subconscious is the central use of "Everybody Hurts" in the pilot of the other '90s pop-culture work that we all took deeply and personally, My So-Called Life. It comes around 3:50 in the clip below, and it's so beautiful, it hurts to look at it:

Em complemento ao «post» anterior

Não, não é o «barco do amor»

Nova dose em curto

"The poverty crisis is
devastating young Americans"


Os que porventura tenham encolhido os ombros com este post anterior, podem ler aqui as ralações, tontas já se vê, do jornalista Eliot Spitzer na Slate.com.

21 setembro 2011

Mérito hoje do «Público»

Quando o real irrompe
na primeira pessoa

O Público teve hoje a feliz ideia de associar a foto de Nuno Crato a testemunhos de professores sem colocação. Aqui fica um deles:
«Apenas concorri a horários anuais
porque todos os anos assim o faço,
visto já ter algum tempo de serviço
que o permite. Obtive sempre colocação,
umas vezes mais tarde, outras mais cedo,
enfim. Este ano vejo-me encurralada
por directrizes que surgem de um dia
para o outro sem dar espaço para respirar.
Não percebo como podem brincar com a
vida de milhares de seres humanos.
O mais grave é que estão a tirar da boca
dos meus filhos o pão que os alimenta.»
Ana Álvaro

E nada mais preciso de acrescentar.