04 abril 2013

Há 45 anos

Ele tinha um sonho
e por isso o mataram


e, como é sensacional tradição nos EUA,
disseram que foi um acto isolado de um tipo


03 abril 2013

Uma grande e significativa diferença !



Em 4 de Outubro de 2012:

 Jerónimo de Sousa, hoje na AR,
indiciando o voto favorável do PCP
à moção de censura do PS


Imodéstia à parte

«o tempo das cerejas»
como serviço público





Na sua crónica de hoje no Público, Rui Tavares escreve a dado passo :«(...) Também a oposição, de uma outra forma, terciarizou as suas obrigações para o Tribunal Constitucional. Ao serem incapazes de se  coordenar para oferecerem uma alternativa de governação, ou declararem ao Presidente que já não se verificam as condições para que a legislatura se cumpra, os partidos da oposição esperam de fôlego suspenso, que sejam os juízes do Tribunal Constitucional a fazer cair o Governo».

Porque não seria de estranhar que muitíssimos portugueses não dominem completamente os mecanismos institucionais e constitucionais da democracia portuguesa, julgo ser de prestar o serviço público que consiste em informar:

1.  Deixando agora na penumbra o que em outras ocasiões tenho escrito sobre o assunto, esclareço que mesmo que PS, PCP, BE e Verdes se tivessem coordenado para oferecer uma alternativa de governo nem por isso a sua minoria na AR passaria milagrosamente a maioria;

2. De acordo com a Constituição, o governo só pode cair ou ser derrubado por uma destas quatro vias: apresentar a demissão por motu proprio, ver aprovada uma moção de censura por uma maioria de votos (que ele é que tem neste momento), ser atingido por uma decisão presidencial de demissão do governo ou de dissolução da AR, o que, tudo visto, dá como resultado que os partidos sa oposição não dispõem de meios próprios para fazer cair o governo e provocar eleições.

3. Sem necessidade de postais mails ou audiências em Belém, o Presidente da República sabe perfeitamente que o PCP, o BE e  os Verdes reclamam a realização de eleições antecipadas.

Desculpem a arrogância mas...

... já não argumento, só pergunto:
em que mundo vive esta gente ?


É sobre a França mas...

Vale a pena ler



 ler continuação aqui 


E agora os escoceses

Scott Hutchison e
os Frightened Rabbit



02 abril 2013

Sobre uma frase de José Vítor Malheiros

Falar é bom e eu gosto mas...



Para que não haja confusões, lembro que já aqui expressei em diversas ocasiões a minha consideração e estima por José Vítor Malheiros e agora acrescento mesmo que ele, Manuel Loff e André Freire são praticamente as únicas vozes de esquerda nas colunas de opinião do Público, o que não é coisa despicienda. Entretanto, isso não me tem naturalmente impedido de formular reservas ao que por vezes escreve ou de lhe lançar desafios como aconteceu aqui (para ir aqui).

É o que hoje volto a fazer assinalando que, no seu texto no Público de hoje, a dado passo e como "alinea d)", integra na «comédia dos enganos da vida política nacional» o seguinte elemento de (sublinhados meus) «um PCP e um BE tão preocupados com a sua identidade que receiam transformar-se em estátuas de sal se fizerem uma frente comum contra o Governo e perderem a pilinha se falarem com o PS».

Ora, se eu ainda fosse dirigente do PCP e sobre isso obtivesse acordo dos meus camaradas, mandaria a seguinte carta a José Vítor Malheiros:

«Caro José Vítor Malheiros:

Tendo em conta uma passagem do seu artigo no Público de hoje, apresso-me a informá-lo de temos um diálogo muito frequente com dirigentes do PS, designadamente em sede de AR, e que ele abrange não apenas as matérias ou iniciativas ali em discussão (sendo públicas as diferenças de comportamento ou atitude dos dois partidos sobre elas) mas também as questões mais globais atinentes à perspectiva política.

E se não temos dado satisfação aos que mostram uma especial predilecção por encontros publicamente anunciados e objecto de cobertura pela comunicação social é precisamente porque, no estado actual das artes, isso seria trazer ainda mais fortemente para a opinião pública uma imagem de falta de entendimento e de graves divergências.

De qualquer forma, posso relatar-lhe que, usando por uma vez palavras de uma violência que não faz parte do nosso estilo e postura, a conclusão que temos tirado desses contactos é, para partir de um exemplo recente, que a ambiguidade deste papel de Sócrates, comentador-que-vai-ser-oposição-mas-sem-ser-oposição-, articula-se com a de Seguro, o-líder-da-oposição [?!!!]- que-não-se-opõe-a-nada, o opositor de triste figura, que se abstém violentamente, que só censura quando não tem saída, que repete banalidades com cara de menino mimado, que se queixa da austeridade mas promete vassalagem à troika, que quer unir a oposição mas tem medo do PCP e vergonha de falar com o BE, que diz que é de esquerda mas só namora a direita.

Certo de que compreenderá como, nestas circunstâncias, a «frente comum» está algo dificultada, receba as cordiais saudações do

Vítor Dias
»

E, pronto, agora só me falta acrescentar, sempre com simpatia e cordialidade, que toda a parte anteriormente sublinhada a castanho é da autoria de José Vítor Malheiros e consta do seu artigo de hoje no Público.

Descoberta tardia (sorry) de ...

Anne Sexton





Uma página inteira do El País  dedicada a edição espanhola da sua obra completa (ed. Linteo Poesia , 988 pags, 39 E) faz-me descobrir Anne Sexton (n. 1923), uma consagrada poetisa norte-americana, amiga de Sylvia Plath e que, tal como ela, também  se suicidou (em 1974).



PALAVRAS

Tem cuidado com as palavras
mesmo as milagrosas.

Pelas milagrosas nós fazemos o melhor possível,
por vezes são como uma multidão de insectos
que não nos deixa uma picada mas um beijo.
Podem ser tão boas como dedos.
Podem ser tão seguras como a rocha
onde te sentas.
Mas também podem ser ao mesmo tempo margaridas e amachucadas.

Contudo, estou apaixonada pelas palavras.

São pombas que caem do tecto.

São seis laranjas santas pousadas no meu regaço.
São as árvores, as pernas do verão,
e o sol, seu impetuoso rosto.


No entanto, falham-me com frequência.

Eu tenho tantas coisas que quero dizer,

tantas histórias, imagens, provérbios, etc.

Mas as palavras não são suficientemente boas,

as erradas beijam-me.

Por vezes voo como uma águia
mas com as asas de uma carriça.

Mas tento ter cuidado
e ser amável com elas.

As palavras e os ovos devem manipular-se com cuidado.
Uma vez partidas há coisas
impossíveis de reparar.


DEPOIS DE AUSCHWITZ

Raiva
tão negra como um gancho,

alcança-me.
Cada dia,
cada nazi
pega, às oito da manhã, num bebé
e serve-o para o pequeno-almoço
com pão frito.
E a morte olha despreocupada
e limpa a sujidade que tem debaixo das unhas.

O homem é maldade,
digo em voz alta.
O homem é uma flor
que poderia ser queimada,
digo em voz alta.
O homem
é um pássaro cheio de barro
digo em voz alta.

E a morte olha despreocupada
e arranha o ânus.

O homem, com seus pequenos e rosados dedos dos pés,
com seus dedos milagrosos
não é um templo
mas um anexo,
digo em voz alta.
Que o homem nunca mais levante sua chávena de chá.
Que o homem nunca mais escreva um livro.
Que o homem nunca mais calce um sapato.
Que o homem nunca mais eleve seus olhos
numa suave noite de junho.
Nunca. Nunca. Nunca. Nunca. Nunca.
Digo isto em voz alta.
E suplico ao Senhor que não ouça

Versão dos poemas “When man enters woman”, “Words” e “After Auschwitz” de Anne Sexton(a partir de uma tradução espanhola e do original) por ASM

Poemas  colhidos aqui em  
http://discursodosdias.blogspot.pt/2009/02/traducoes-1tres-poemas-de-anne-sexton.html

Uma grande vergonha no nosso tempo

Contra o esquecimento




01 abril 2013

Breve demonstração de ...

... como estamos no reino da
superficialidade e da ligeireza 



O diário i teve hoje esta boa ideia de nos recordar o que está aí em cima. Mas agora queiram os leitores comparar o meu sublinhado a vermelho com o que se diz no link do jornal para esta sua notícia:
 

Ou seja, a notícia é sobre Passos Coelho mas o que o link nos diz é que «os políticos mentem ou não falam verdade».


Como é bom de ver, o link integra-se na perfeição no verdadeiro tsunami que, não sendo totalmente novo, tem tido nos últimos anos, uma expressão devastadora no sentido de decretar, pela voz ou escrita de dezenas de jornalistas, comentadores, sociólogos e politólogos, que existe em Portugal uma desconfiança geral em relação aos partidos e aos políticos e uma dramática crise de representação política.

Para que não haja confusões, esclareço que a mim não me passa pela cabeça negar  o êxito que tiveram décadas de intoxicação sobre «os partidos (e os políticos) são todos iguais», ignorar a existência significativa de fenómenos de desafeição que, em dadas circunstâncias históricas, levam muitos cidadãos a cair (ou refugiar-se)  em arrasadoras generalizações ou a não prestar a devida atenção às interpelações que isto coloca em cima da mesa.

Não, o que venho dizer é que há nestas sentenças ou «análises, também muita superficialidade e muita ligeireza (estou a escolher termos brandos) que não têm em conta nem a volatilidade de muitas opiniões populares nem sobretudo a sua frequente ambivalência.

Fazendo o boneco, apetece-me dizer que, se as coisas fossem exactamente tanto como se diz, e para já não falar em intenções de voto, o que apareceria nas sondagens do Expresso sobre a «popularidade» dos principais políticos portugueses (atenção que, na verdade, a pergunta feita é sempre sobre que opinião se tem da actuação desses políticos), o resultado devia ser algo assim:


Ora a verdade é que o que a sondagem do Expresso tem dado é algo assim:

Conclusão: nesta cassete cansativa mas poderosa e enganadora sobre a crise de confiança nos partidos e nos políticos há algo que está mal contado. Quem achar que não é assim, que dê um passo em frente. Mas se não der, também não faz mal. Ao fim e ao cabo, a maior parte das vezes já só quase escrevo para deixar uns frágeis sinais de que o espírito crítico ainda mão foi completamente exterminado.