Respeitando todas as opiniões diferentes e saudando abertamente a lei hoje aprovada sobre a Procriação Medicamente Assistida, mesmo que me venham dizer capciosamente que estou a usar argumentos «à D. Manuel Clemente», não posso deixar de expressar a minha frontal e indignada oposição à aprovação também hoje da «gestação de substituição».
Considero um mero voto pio que se escreva na lei que esta gestação não poderá ser remunerada porque se sabe que não há nenhuma forma de controlar isso e que não haverá uma maioria de mulheres que, apenas por solidariedade, criarão durante nove meses na sua barriga uma futura criança cujos pais biológicos são outros.
Estranho que tantos tenham fechado os olhos aos dolorosos conflitos e traumas que se conhecem da experiência internacional que, durante a gestação e no final,, tantas vezes se desencadeiam entre gestantes e pais biológicos.
Estranho que tantos (até feministas) não vejam nisto uma porta aberta para casos de indecente mercantilização e coisificação do corpo da mulher.
E, embora respeite e compreenda o anseio de maternidade e paternidade e os sofrimenrtos que a infertilidade causa, tenho pena que casais não consigam sentir a grandeza humana da adopção de tantas crianças que a esperam.
Até posso estar errado mas que ninguém duvide da sinceridade deste grito de alma que vai contra a corrente da opinião publicada.
subscrevo, sublinhando a hipocrisia de se esconder que se vai tratar maioritariamente de um negócio.
ResponderEliminarApesar de o assunto merecer de todos uma reflexão que não se compadece com demagogia, eu próprio tenho dúvidas, mas estou nos antípodas de utilizar argumentos da OPUS -DEI, como falar em negócio. Só pode falar em negócio quem não se informou do que foi aprovado, ou pior sabendo o que foi aprovado , e por discordar , por orientação partidária. não hesita em truncar o que foi aprovado, para fazer conincidir com a sua oposição. O PCP discorda tudo bem está no seu direito, mas não deturpem o que foi aprovado. Dentro em breve quando possivelmente vier a ser discutida a possibilidade da eutanasia, não venham com exemplos extremos da Holanda ou da Bélgica. Todas as dúvidas são justas, mas não transformem a lei nas sete pragas do Egipto, deixem isso para as Isildas Pegados e outros aderentes da OPus-Dei. Augusto Pacheco
ResponderEliminarNão deturpei nada do que foi aprovado, Tenha então a coragem de me dizer qual é a possibilidade de se controlar se há negócio remuneratório ou não.É que sendo consabidamente evidente que não é possível assegurar qualquer controlo disso, então está na cara que, na maioria dos casos, vai mesmo haver «negócio».
EliminarOu acha que as mulheres da classe média alta vão-se oferecer para ser gestantes por conta de um casal com o ordenado mínimo ?
Vamos la a ter calma, a minha geração que é também a sua estranha estas leis, e o que elas representam, sabe certamente ao que me refiro, no entanto TODAS estas leis aprovadas nunca tiveram os vícios que sobretudo os sectores mais conservadores lhes apontavam . A lei só vai atingir um pequeno número de pessoas, e não é permissiva, como não foi permissiva a lei das adopções e a lei da despenalização do aborto , só para citar estas, quem as elabora e quem as vota não são uma cambada de irresponsáveis , que querem " destruir os fundamentos da civilização ocidental" como já vi escrito, são partidos e deputados que o fazem depois de ouvir os principais interessados e organizações que directamente lidam com estes problemas. O Vitor Dias e o seu PCP têm todo de discordar, mas não utilizem por favor, os argumentos da Isilda Pegado e dos outros figurões da Opus Dei. Augusto Pacheco
EliminarUma coisa/Lei, desgarrada de sentido humanitário, que só pode resultar de interesses egoístas aproveitando miséria alheia. Os que não podem conceber por a natureza tal não os permitir, e mesmo com os avanços científicos da medicina os não consigam ultrapassar, então agora podem "legalmente" conceber....
ResponderEliminarEnfim ressalve-se a protecção (?) às mulheres que entrem neste "negócio"...coisa de que não estou certo.
Caro Vítor Dias
ResponderEliminarA questão já é colocada há muito: "aqueles que o que melhor têm para dar é o corpo, são por natureza escravos" (Aristóteles, Política). Nos dias de hoje a formulação seria diferente, porque não se trata de "natureza" mas de uma sociedade que naturaliza a mercadorização de tudo (e que consegue argumentos "progressistas" para o fazer). O mesmo se aplica à conversão da prostituição em "trabalho do sexo".
Filipe Diniz
Camarada,
ResponderEliminarestou completamente de acordo com as dúvidas e reticências que colocas no que diz respeito à «gestação de substituição».
Imagino que não seria muito difícil encontrar formas práticas de fomentar e apoiar a adopção de tantas crianças e jovens que precisam de ter uma família que os ajudem a tornarem-se homens e mulheres felizes, empenhados e solidários.
"Alugar barrigas" só pode ser negócio degradante, não só para quem se deixa alugar, mas também para todos os que se calam e conformam com essa "coisificação" do corpo da mulher.