elementar prudência
«Escrevo antes do desfecho do referendo da Grécia, na suposição de que o
sim vencerá. Sem esperança de as coisas mudarem no curto prazo, dada a
escassez de força da sua economia para levantar cabeça sem ajuda
externa, o governo grego demitir-se-á, sendo provável a realização de
eleições antecipadas e nelas uma vitória dos defensores do sim.» (...) O não seria ou poderia ser uma rotura, dolorosa no imediato e
nos anos mais próximos, mas talvez salvadora no médio e longo prazo.
Como afirmaram Stiglitz, Krugman e Wolf, com o distanciamento de quem
olha para estas coisas como académicos. Ninguém os vai ouvir. Na hora do
voto, o pensionista e o funcionário lembrar-se-ão das filas para
alcançar três notas de vinte, da incerteza do amanhã, preferindo quem
lhes corte na pensão a quem lha prometa completa, mas a prestações. Puro
raciocínio económico. Este é o cenário, sem juízos de valor.(...)
Os leitores mais atentos terão reparado que sobre o referendo grego exprimi desejos mas jamais fiz previsões sobre o resultado. E, por isso, não posso deixar de considerar relevante e significativo que este destacado membro e ex-governante do PS tenha arriscado um banho avassalador de realidade. Mas o mais importante não é a sua imprudência ou falta de cautela, é o que lhe ia na alma.
É o mesmo que ia na alma do Costa e do PS. Basta ver o incrível comunicado oficial, que consegue não se pronunciar sobre o resultado do referendo, como se tivesse sido escrito na véspera das eleições - e, de facto, como está, podia ter sido lido na véspera -, eventualmente corrigido do regozijo com a vitória do Sim que não se deu.
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