Vaca fria em assunto quente
Num artigo no Expresso online e colocado no «arrastão», Daniel Oliveira analisa detalhadamente, com uma opinião tendencialmente negativa, a hipótese recentemente levantada por Rui Tavares da criação de um novo partido à esquerda. Não vou agora debater essa questão mas não posso deixar de registar, por mais que isso seja cansativo para os leitores, que entre os pontos de partida de Daniel Oliveira está aquilo a que tenho chamado o «voo de planador» que ele e tantos outros têm empreendido e que volta a ser espelhado nesta afirmação : «Mas a questão é, hoje em dia, outra: o sistema partidário está
bloqueado. Está bloqueado pela incapacidade da esquerda convergir numa
verdadeira alternativa à austeridade (e não uma mera alternância na
gestão da austeridade) capaz de chegar a um governo».
Apesar de ser a terceira ou quarta vez que, sem qualquer sucesso o faço, volto a insistir que só posso entrar nesta discussão quando os tripulantes do «planador» corresponderem a este meu velho desafio agora reeditado sob uma fórmula gráfica que espero seja mais convincente:
bom, há uma coisa em frança chamada frente de esquerda que tem o seu interesse, como saberá o vítor dias. Em Portugal (como na Grécia) há uma frente de esquerda inorgânica, cujas componentes e aliados estão desconjuntados, em permanente concorrência pelo primeiro lugar de ninguém sabe bem o quê (do teste de autonomia política?). Na verdade, o que se passa em frança nos últimos 4 anos com a frente de esquerda podia inspirar as lideranças políticas dos partidos da esquerda (radical). A situação é demasiado urgente para que alguém com bom senso se contente com o que existe. Um polo politico forte à esquerda do PS teria outras condições para agregar gente, massa crítica, proposta politica, esperança. Mas não acontece, não há passos, não há vontade, não há condições (?). A frustração cresce. Não há saída nem perspetiva de saída, e tenho a impressão que os atores políticos, sindicais, movimentos mais ou menos inorgânicos, ONG, etc à esquerda (esqueçamos o PS) não estão especialmente interessados em encontrar essa saída. E isso, caro Vítor Dias, desculpe lá, diz-lhe alguém que não papa grupos (por assim dizer) nem sequer atribui especiais responsabilidades a um ou outro, é trágico. No limite, é incompreensível. Talvez o vítor possa avançar duas ou três frases sobre essa impossibilidade. Como é possível? (pergunto com a honestidade de quem não participa e não sabe o que se passa nos círculos onde se decidem estas coisas). Estamos no limiar da destruição das últimas conquistas de abril, e não há um gesto que junte sustentavelmente o núcleo daqueles que as querem defender num projeto comum. Interrogo-me o que seria deste país de existisse entre nós a cultura/pulsão política do racismo/fascismo?
ResponderEliminarJá agora, chamo-me Álvaro Carvalho.
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