21 março 2012

E hoje também o


Lendo poemas em Occupy Wall Street

LENA RETAMOSO URBANO
(n. 1971, Perú)

BRANCO É O SONHO DA NOITE 
Tradução de Antonio Miranda 

branco é sonho da noite que ruge quando fechas os olhos
oculto 
gesto de flor antes de nascer


a noite repousa no colmilho de uma luz prodigiosa
aspira o coração de sua viagem interminável 
sonha o alento que o ar desconhece
branca a pele que o horizonte abandonando-se em seus contornos
branco o grito de Narciso diante do espelho branco
o dia em que teu corpo 
fez de minhas espinhas dorsais um ramo de flores
branco o desejo que no amar-te lacera sua vontade
branca sua impaciência de onda após onda 
branca a distância entre a terra 
branca a sede que em seus lábios 
o mar infatigavelmente desposa
branca a lembrança ondulante de um peixe dormido 
apaixonado pela areia que espreita sua morte
branco o silêncio que o homem confunde com sua voz
branca a tarde em que caminho para esquecer que te encontro 
e que no ar os beijos são sepulcros alegres
branca a noite em que recordo 
tuas mãos virem como sedas vertiginosas 


o lago avança até a luz 
seu corpo escurece
minha voz é crepúsculo na irmandade de suas águas
árvores desnudas estampam 
a fuga de teu corpo

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