25 dezembro 2011

Poemas

Dia de Natal

de António Gedeão


Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas


Poema de Natal


de Vinicius de Morais




Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

24 dezembro 2011

21 imagens

O Natal visto
pelas câmaras da Magnum


Nova Iorque, 1990- um pai Natal consulta
o mapa do metro.
(Foto de Erich Hartmann. Slideshow aqui.)

Noite de Natal



1ª página do Público de hoje
... e a sua contribuição para a
ceia de Natal dos desempregados.

Porque hoje é sábado (316)

Miguel Zenon


A sugestão musical deste sábado destaca
o sax alto porto-riquenho
Miguel Zenon


Esta Plena

Olas y Arenas aqui

23 dezembro 2011

Porque tristezas não esticam salário nem encurtam mês

Regresso ao Bucha e Estica

O canal ARTE oferece até 1 de Janeiro cerca de 15 filmes de Laurel & Hardy talvez em pró-memória da nossa meninice.

Baixos salários e competitividade

Onde está boa parte deles ?


Não me custa admitir nem me choca nada que possa haver leitores deste blogue a quem já enjoe a minha insistência em coisas que têm que ver com alguma memória. Paciência, prefiro de longe que isso aconteça do que entrar no grupo daqueles para quem cada dia é um dia, cada semana é uma semana, cada mês é um mês e tudo sem nexos ou correlações.

Vem esta arenga a propósito de que, se bem me lembro, desde há pelo menos 20 anos, deixando de parte eventuais reservas mentais, era extraordinariamente díficil senão quase impossível encontrar um governante ou economista de qualquer quadrante que tivesse a coragem de sustentar que a vantagem, o futuro e a utilidade de Portugal permanecer num modelo de desenvolvimento e competitividade da economia baseado nos baixos salários.

E agora que à redução de salários se junta o aumento da jornada de trabalho e agravadas condições de vida, é caso para perguntar sem dó nem piedade: por onde anda boa parte dos governantes e economistas que então integravam pacificamente o consenso enunciado no segundo parágrafo ? Meteram a viola no saco e andam a morder a língua ?

22 dezembro 2011

Reformas em metade em 2020 ?

A última (se fosse mesmo a última não
me importava tanto) de Passos Coelho




Outros já disseram -e bem - sobre quanto é inadmissível a declaração de Passos Coelho de que em 202o as reformas estarão em metade e em como uma tal afirmação é deliberadamente promotora de medo e insegurança, limitando-me eu a acrescentar que também visa empurrar cidadãos para os sistemas privados de segurança social.

E também quero acrescentar que estas previsões da falência da segurança social pública são velhas e relhas, sem qualquer fundamento sério, e que curiosamente os que as debitam nunca quiseram levar a sério as propostas do PCP de, de forma gradual e ponderada, criar novas fontes de financiamento baseadas no Valor Acrescentado criado pelas empresas em vez de baseada apenas no número de trabalhadores.

Mas, admitindo por absurdo, que a previsão-ameaça do primeiro-ministro tivesse algum fundamento, caberia perguntar a respeito de duas coisas que são da directa responsabilidade do seu governo. A saber: a crescente e exponencial despesa com os subsidios de desemprego (pagos pelo Orçamento da  segurança social) e a bomba de retardador que é a transferência dos fundos de pensões da banca para a segurança social não têm nada que ver com cenário que a sua irresponsabilidade criou ?.

Atrevo-me entretanto a pensar que há muito tempo que não tinhamos um primeiro-ministro tão ligeiro, tão de plástico e tão marioneta do que, em cada momento, Relvas, Gaspares e Álvaros lhe sopram aos ouvidos.

Tocando "Prelude #1" de H. Villalobos

Milos Karadaglic

21 dezembro 2011

Novas da cruzada pelo federalismo

Uma proposta para
Paulo Rangel levar ao PSD


Em artigo de opinião no Público de ontem, Paulo Rangel, deputado do PSD ao PE, prosseguia a sua litania sobre o fim das soberanias nacionais e a excelência do federalismo europeu, salientando designadamente: «Ora, esta insistência na vontade democrática dos povos, apurada unicamente no quadro das fronteiras estatais, em que cada povo se toma por soberano, está largamente desajustada da realidade política global dos nossos dias (...)Num universo político com estas feições, o peso e o sentido do voto dos cidadãos - do voto de um povo - no quadro da sua colectividade estatal, perdeu efectividade, perdeu relevância, perdeu poder.(...)».

Não, não e não, desta vez não venho lembrar como seriam excelentes os pináculos federalistas em que a mais pequena transformação progressista em cada país da UE ficaria dependente da simultânea vontade eleitoral de mais de metade de 500 milhões de eleitores. Nem venho manifestar a esperança que alguns só voltem a descobrir o gravíssimo problema da distância entre os cidadãos e os centros europeus de poder efectivo quando proximamente Marine Le Pen tiver entre 15 e 2o% nas próximas presidenciais francesas.

Não, nada disso. Venho só sugerir que Paulo Rangel seja coerente até ao fim e se bata com denodo para que estas suas ideias, e todas as suas consequências, venham a ser o núcleo central do discurso e da campanha eleitoral do PSD em próximas eleições legislativas.

É que me estava a apetecer assistir a um funeral eleitoral assim.

De novo Rui Tavares

O império da ligeireza




Na sua crónica no Público de hoje, Rui Tavares, escreve a dado passo (sublinhados meus): «Aqui chegámos, pois. Mas ainda há poucos meses, com uma maioria de esquerda no Parlamento e  meio mandato para cumprir, não houve um partido de esquerda que tenha decidido dizer aos outros partidos de esquerda ao menos isto : "Meus caros, há diferenças enormes entre nós, mas numa coisa podemos concordar: não queremos Portugal nas mãos da troika. Proponho uma coisa muito simples, que nenhum Merkozy pode impedir : vamos falar diretamente com os credores".

Face a esta tirada nada ponderada, e deixando de lado o rigor daquela referência à «maioria de esquerda», observemos então os factos passados:

1. Tanto o PCP e o BE, quer na pré-campanha quer na última campanha eleitoral, pronunciaram- se claramente contra a vinda da troika e defenderam a renegociação da dívida;

2. Neste contexto, devia saltar à vista de toda a gente de boa-fé que essa renegociação era e só podia ser com os credores;


3. Mesmo que PCP e BE tivessem explicitado, como só agora sugere Rui Tavares, que a renegociação era directamente com os credores não se vê em que é que isso teria comovido ou demovido um PS absolutamente virado para a troika e primeiro interlocutor desta.

Lamento dizê-lo a respeito de uma pessoa como Rui Tavares mas uma prosa assim não pode deixar de me parecer uma daqueles exercícios de conveniente mas lamentável equidistância entre os verdadeiros responsáveis e os que o não foram.

Mais um adequado fundo negro

Para aqui, deviam era
terem ido vestidos de cangalheiros


Como ninguém me é capaz de explicar  o que é que estas medidas («a nova lei afectará todos os actuais trabalhadores», diz o Públicotêm que ver  com a redução do défice ou com o pagamento da dívida, volto a insistir sem qualquer hesitação que o défice e a dívida estão servindo de  protecção  e cobertura para um desavergonhado e rancoroso  ajuste de contas com os direitos dos trabalhadores, para um espantoso ainda maior desiquílibrio  nas relações entre capital e trabalho e para um brutal reforço da exploração. Esses sim são os os verdadeiros nomes da coisa.

19 dezembro 2011

Quem vê fatos ...

... não vê políticas !


Como, sabe-se lá porquê, se tornou tradição, os ministros reuniram ontem todos vestidos mais ou menos em estilo negligé. Mas mal andariam todos os que negligenciaram as malfeitorias que estiveram a alinhar para 2010. A péssima qualidade desta imagem não o permite perceber mas a imagem publicada na edição impressa do Público mostra  que a única ministra ou ministro que estabeleceu algum contacto connosco  foi a da Justiça que foi apanhada tolhida pelo frio.

18 dezembro 2011

Fim do dia com ...

... o trompete de Tito Carrillo



Truth Seeker

"Bons" velhos tempos

Apreciem, está tudo e
muito mais na págima da UE



Francamente...

... é preciso lata !


Estamos, talvez sem grande surpresa, nesta espapanante farsa: o secretário-geral do partido que se absteve no último Orçamento de Estado (para 2012 e de gravosa austeridade e recessão) desafia o primeiro-ministro a «pôr fim à austeridade» e a tomar medidas para o crescimento económico e o emprego. É pois tempo de dizer cruamente que há forças políticas e centenas de milhares de cidadãos que têm legitimidade política para lançar semelhante desafio ao primeiro-ministro. Mas nunca por nunca ser o PS e António José Seguro. A não ser que, aquando da discussão e aprovação do memorandum de entendimennto com a troika, não tivessem assistido a nenhum dos inúmeros debates televisivos em que nenhum economista de qualquer orientação jamais contestou que tal memorandum era de agravamento da austeridade e contrariava o crescimento económico e a criação de emprego, provocando recessão e aumento do desemprego. A não ser que, na época, António José Seguro tivesse ido em excursão à Lua ou estivesse a escalar o Everest.

16 dezembro 2011

Nos 50 anos do assassinato de

José Dias Coelho



Dossiê sobre  José Dias Coelho no sítio do PCP
.
Discurso de José Cardoso Pires sobre Dias Coelho
na Sociedade Nacional de Belas Artes em Junho
de 1974.

J.M. Fernandes e o euro

E que tal um pouco
de seriedade e memória ?



Os leitores mais fiéis ficam avisados que até podem passar rapidamente à frente porque este post é a pura repetição, no essencial, de um  anterior sobre o mesmo assunto. É um velho problema que estou cansado de evocar aqui : ou seja, como há quem repita imperturbavelmente as mesmas coisas que já foram desmascaradas ou criticadas, então eu também de me sinto no direito de não inovar e voltar a insistir no que já insisti, quanto mais não seja para provar que não me vencem pelo cansaço.

É o caso de José Manuel Fernandes que, em artigo no Público de  hoje, volta a exprimir as suas (recentes) discordâncias e reservas à forma como oi criado e arquitectado o euro. E o facto de a sua actual principal crítica ter que ver com a simultânea falta de uma união fiscal e de uma união política (isto é, dose reforçada de federalismo) não mata  algumas perguntas cruciais: importa-se J. Manuel Fernandes de nos exibir as reservas e críticas que publicamente enunciou nas páginas do Público aquando da criação da moeda única e as provas de que não embarcou no endeusamento e nos festejos da época ? Atribuiu então J. M. Fernandes alguma importância ou signicado quando um Eurobarómetro chegou a situar nos 47% a oposição dos europeus ao euro ? Custará assim tanta a esta gente reconhecer humildemente mas com naturalidade que pensaram, coisa diferente do que pensam e dizem hoje ? Não será tempo dos comentadores e jornalistas que, volta não volta, clamam contra a impunidade dos políticos se olharem ao espelho e admitirem que as suas antigas e diferentes  opiniões não podem ser rasuradas e ficar politicamente impunes ?.

E, finalmente, para se ter um filme mais completo de como elas que se fazem e ir à imprensa da época e ver como eram tratadas as opiniões e advertências formuladas pelo PCP, por exemplo neste dossiê sobre o euro publicado em Maio de 1998 e do qual extracto a seguinte pergunta e resposta :


(...) 2. O que vai significar o estabelecimento da moeda única face às diferenças de produtividades existentes entre Portugal e os outros países aderentes à moeda única?

Segundo os dados estatísticos conhecidos, há uma diferença significativa entre as produtividades (aparentes) do trabalho, de Portugal e dos nossos principais parceiros da União Europeia: 61% face à
Alemanha, 48% face à França, 21% face à Espanha...
Isto quer dizer que se, por exemplo, numa hora de trabalho se produzem 100 dólares de valor acrescentado em Portugal, na Alemanha produzem-se 160 dólares, 148 dólares em França, 121 dólares na Espanha,...
Esta diferença de produtividades é a causa da acumulação de défices da Balança Comercial pelo país. Défices compensados, ao longo destes anos, pela sobre-exploração dos trabalhadores portugueses — que continuam a ser a mão-de-obra mais barata da União Europeia — pela redução drástica de rendimentos de outras camadas, como agricultores (desde 1986 a 1995 sofreram uma quebra de 25% no seu rendimento) e pequenos e médios empresários, pelas remessas de emigrantes, pelas receitas do turismo, pelo investimento estrangeiro (compra de empresas e terras) e também por algumas desvalorizações da moeda, feitas antes de se ter iniciado o processo de adesão à moeda única com a integração de Portugal no Sistema Monetário Europeu.
Pode a moeda única contribuir para Portugal (e outros países) vencer estas diferenças e dificuldades da sua estrutura produtiva? Os dirigentes alemães já responderam a esta questão: segundo eles, a moeda única não se destina a ajudar os países da União Europeia a vencer o seu atraso. Estes não têm outra  solução que não seja a adaptação à realidade da moeda única. O que é que isto quer dizer?  Quando desaparecer a moeda nacional (logo, não haverá mais política cambial) os países que farão parte da União Monetária, privar-se-ão de decisivos instrumentos de política económica que lhe garantem alguma margem de manobra. A sua política monetária será conduzida ao nível Europeu pelo Banco Central Europeu e alinhada pelo país ou grupo de países dominantes. A sua política orçamental deverá visar o objectivo do equilíbrio orçamental (Despesas igual a Receitas) a partir da lógica de redução das despesas, nomeadamente das despesas sociais. 
Em tais condições os factores de ajustamento (adaptação) serão os empregos, os salários, os impostos sobre os trabalhadores e outras camadas populares e as despesas sociais — educação, saúde, segurança social. É assim que os países se adaptarão à realidade da moeda única.
Os capitais — cuja circulação já livre será acelerada pela moeda única — dirigir-se-ão para os «nichos de produtividade» (países e áreas geográficas onde a produtividade é maior) para ganhar maiores lucros. Só se dirigirão para países como Portugal, caso aqui encontrem mão-de-obra «dócil» (pouco reivindicativa e pouco virada para os sindicatos) e sobretudo barata, com um mercado de trabalho flexível e fortes incentivos financeiros do Estado português. Guiados pela lógica ultraliberal da construção comunitária, os países devem melhorar a sua atractividade: via privatizações escandalosamente vantajosas para os compradores; através de benesses fiscais e outros apoios financeiros vultuosos (fundos comunitários e nacionais); aumentos da produtividade do trabalho por despedimentos massivos e pressões sobre os custos salariais. Os países e as regiões menos produtivos serão empurrados (na impossibilidade de proteger o seu mercado interno e de tempo para o desenvolvimento e modernização das suas estruturas produtivas) para o corte dos salários, a flexibilidade, polivalência e longas jornadas de trabalho, um mercado de trabalho à medida do grande capital. Esta política não cria condições de um verdadeiro desenvolvimento dos países atrasados, ela «congela» o subdesenvolvimento (relativo) dos mais débeis e arrasta os assalariados desses países para uma guerra económica impiedosa contra os seus camaradas dos outros países na concorrência salarial e na «venda de direitos sociais. Dentro da mesma lógica, esta política exacerbará as desigualdades regionais dentro de cada país e acentuará ainda mais em Portugal, um perfil produtivo assente na indústria intensiva em mão-de-obra pouco qualificada e de baixos salários, e na liquidação da pouca produção de média e alta tecnologia que o país tem.
Os adeptos da moeda única defendem (mais ou menos explicitamente) a velha tese liberal «deitam-se as empresas (há quem prefira os empresários) ao mar, as que souberem nadar, salvar-se-ão... e depois o país será reconstruído com unidades novas, modernas, tecnologicamente apetrechadas e economicamente competitivas... Não é por acaso que falam para o curto prazo de «sacrifícios» e «purgatórios» com a esperança de a médio prazo alcançarem o «paraíso»!  (...)

P.S.: Vale a pena lembrar que, há 13 anos, mais precisamente em Maio de 1998, ocorreu por toda a Europa e com grande impacto na imprensa portuguesa uma coisa chamada a «Festa do Euro» que então comentei como se pode ler aqui.

15 dezembro 2011

Pergunta sobre retirada dos EUA do Iraque

Não querendo estragar a festa ...


... só quero perguntar se, em 31 de Dezembro, os cerca de 50 mil (segundo os dados da Administração americana) «contractors» civis (mercenários contrataados pela ex- Blackwater e outras e pagos pelo Tesouro dos EUA ou pelo petróleo iraquiano) também saem do Iraque ?

Dados de Outubro de 2011 do
Departamento de Defesa dos EUA aqui

mas, em Junho de 2011,
podia ler-se aqui


O governo e os feriados do 1º Dez. e do 5 de Out.

De direita sim mas também
muito patetas e ignorantes


Em texto hoje dado à estampa no Público, cerca de 40 historiadores arrasam a proposta governamental de eliminar os feriados do 1º deDezembro - restauração da independência - e do 5 de Outubro - implantação da República.

Entre outros aspectos, os signatários vêm, em boa hora, lembrar, de forma argumentada, que a proposta 
«assenta numa evidente demagogia: ao contrário do que o governo, pela mão so seu ministro da Economia, vem atabalhoadamente explicar ao país, a produtividade e a competitividade da economia  da economia nacional não dependem em nada de essencial do número de feriados em vigor».  E sobretudo sublinham que «os feriados nessas datas representamn, há um século, a forma como a sociedade escolheu lembrar e homernagear acontecimentos que reoputa de transcendente importância na História do país. Nem a ditadura salazarista se atreveu a pôr em causa esses feriados e, com eles, o significado que encerram».

Talvez alguns digam que tudo isto dos dois feriados é uma pequena coisa no cruel maremoto de agressões, ataques  e retrocessos que estamos a sofrer. Mas, como dizia o outro, isto anda tudo ligado e este caso dos feriados vem transparentemente trazer ao primeiro plano da cena política a imagem de que hoje estamos governados por gente que não é apenas de direita, antes é também esplendorosamente pateta, ignorante, historicamente inculta e nacionalmente desenraizada.

14 dezembro 2011

Bem precisamos !

Hope com Brandon Marsalis




Mais aqui a não perder.

Aumento de desemprego, upa, upa e mais upa !

Telegrama de hoje da troika

«Ao governo de Portugal:
Com conhecimento: Partido Socialista

Face à divulgação de novos dados sobre um significativo aumento do desemprego em Portugal, consideramos oportuno lembrar que, durante todo o período de elaboração do memorandum de entendimento, insistimos repetidas vezes que as medidas de saneamento financeiro tornadas necessárias implicavam necessariamente um aumento do desemprego.

Neste quadro e neste contexto, o Comissão Europeia, o BCE e o FMI só podem concluir que o aumento do desemprego em Portugal é um bom e positivo sinal e indicador de que estão a ser firmemente aplicadas as políticas acordadas no memorandum de entendimento.

Comunicamos ainda que outras urgentes responsabilidades impedem os representantes do Comissão Europeia, do BCE e do FMI de se deslocarem neste momento a Portugal com vista a colaborarem estreitamente com o governo português na irradiação de uma boa e correcta interpretação do significado destes dados sobre o aumento do desemprego. »

10 dezembro 2011

Conversa acabada

Memórias de Adriano

 (copiado de aqui)

Parece pois que Adriano Moreira terá ripostado (ver vídeo aqui) que, quando foi Ministro do Ultramar, já não havia o Campo do Tarrafal. Cometeu-se assim, pelos vistos, uma grande injustiça e calúnia: Adriano Moreira não reabriu Tarrafal nenhum, limitou-se a abrir um «campo de trabalho» no Chão Bom que, só por puro azar ou acaso, ficava na mesma ilha, localidade e sítio que o campo de concentração do Tarrafal. Aguarda-se agora que outros idosos ex-servidores do regime fascista venham dizer que nunca trabalharam na PIDE mas sim na DGS e nunca trabalharam na Censura mas sim no Exame Prévio.


Para cá e para lá do Canal

O túnel não resolveu

No dia seguinte à última Cimeira, dezenas  e dezenas de jornais europeus «manchetearam» sobre o isolamento do Reino Unido. Mas já o The Times britânico, embora sob o  título de 1ª página «UK stands alone», anexava-lhe este elucidativo desenho. Não há volta a dar-lhe, o túnel não resolveu o principal.

Porque hoje é sábado (314)

Chris Carraba e
The Dashboard Confessional

A sugestão musical de hoje destaca
o cantor norte-americano Chris Carraba
 
e a sua banda
- The Dashboard Confessional


I'm in Love With a Girl



The Cape

08 dezembro 2011

"NPR music's 50 favorites albums of 2011"

De A (de Adele) ...







A ouvir aqui.


... a W (Wye Oak)






A ouvir aqui.

A minha alma está parva

Até a ti, Alfredo ?



Via e-mail, chega-me um esclarecimento público, que me parece autêntico, de Alfredo Barroso (meu estimado colega na direcção da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa em 67/68), relativamente a erros contidos no recente livro de Mário Soares e que sobretudo comporta um sofrido queixume pessoal sobre a forma como um tão longo e dedicado colaborador de Mário Soares é esquecido no citado livro. Os esclarecimentos e o lamento estão aqui e, por mim, só quero acrescentar que, quando isto acontece entre Alfredo Barroso e Mário Soares, é sinal que, naquela família política, os ares estão um bocado turvos e a gratidão anda um bocado por baixo.