31 outubro 2011

Sem mais comentários antes que saiam ordinarices

Um governo que vê os
trabalhadores como capachos !





sim, é preciso  dar-lhes uma grande ,
marcante e poderosa resposta
que lhes sirva de lição


Estaline e o Papa

Uma história mal contada
mas que dura, dura, dura



Estou certo que muitos leitores, consoante a sua idade, já alguma vez se defrontaram com a atribuição a Estaline, em plena II Guerra Mundial, de uma pergunta que rezava assim : «Quantas divisões tem o Papa ?». E esta pergunta há décadas que é apresentada de uma forma negativa ou como sinal de arrogância de poder, de privilégio absoluto das relações de força e de consequente desprezo por outros valores ou príncipios.

Hoje mesmo, em editorial do Público, esse episódio regressa sob a seguinte forma (sublinhado meu):«Após um aviso dos seus conselheiros  sobre eventuais reacções do Papa a uma opção estratégica no decorrer da II Guerra Mundial, Estaline deixou no ar uma pergunta que ficou nos anais da geopolítica :«Quantas divisões  tem o Papa ? ».

Ora acontece apenas que, se não estou enganado, Estaline fez essa pergunta face à pretensão do Papa (por sinal, esse extraordinário democrata de seu nome Pio XII) de que a Santa Sé passasse a participar nas Conferências interaliadas que já reuniam os países que desenvolviam um devastador e sacrificado esforço de guerra contra a Alemanha e Japão, ou seja a URSS, os EUA e a Grã-Bretanha.

E, assim sendo, não devia causar nenhuma estranheza que a União Soviética, que já tinha de lidar com divergências e complexas negociações com os EUA e a Grã-Bretanha, não estivesse nada interessada em acrescentar às Conferências uma entidade que não só não desenvolvia nenhum esforço de guerra como, com toda a probabilidade, nelas interviria ao lado das posições dos EUA e da Grã-Bretanha.

Chamam-me o que quiserem mas, se as coisas foram como eu penso que foram, eu - lembrado das centenas de milhares de homens e mulheres que, do meu lado, estavam a morrer nos campos de batalha -, teria feito a mesma pergunta que Estaline: «Quantas divisões tem o Papa ?».

30 outubro 2011

Uma outra forma de dizer...

... «Desapareçam-me
da vista e não chateiem !»



(aqui)

Pode ser que se trate apenas de um betinho investido nas funções de secretário de Estado. Eu apenas confesso que, provavelmente falha minha, em mais de 45 anos de vida activa e adulta nunca tinha ouvido da boca de um governante um tão descarado (e aliás inútil) elogio e incentivo à emigração dos portugueses. Isto para já não falar deste supimpa conceito de «zona de conforto» que, nas circunstâncias actuais, deve ser brincadeira de mau gosto. Mas, pronto, aqui está mais um belo símbolo dos que hoje nos desgovernam. Desta vez, deixo publicar comentários que digam aquela coisa que eu não sei o que é e que se exprime pelas iniciais PQP.

Notícias da «grande democracia»

Não seria um tema interessante
para jornalistas portugueses ?



Caitlin Curran, na foto segurando
um placard,
conta aqui
How Occupy Wall Street
Cost Me My Job

Jazz para o seu domingo

Laura Ainsworth...



Love for Sale



... e Pharoah Sanders

Francamente, já não há pachorra !

Um caso de «umbigose»

Não, não e não, perdoem mas não me dou ao trabalho de explicar porque é que, tendo em conta o património conceptual e prático adquirido desde o 25 de Abril, esta extinção do Tribunal Constitucional passando a secção do Supremo Tribunal de Justiça seria um retrocesso jurídico e democrático perfeitamente parvo. Não, vou só lembrar que Noronha do Nascimento é o actual Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e, portanto, esta sua ideia é absolutamente isenta e desinteressada. E, para mim, tudo isto, se não for coisa pior, é apenas mais um caso de uma doença que os manuais de medicina não descrevem mas parece existir, a saber, o crescimento desmesurado do umbigo que agora resolvi baptizar de «umbigose».

29 outubro 2011

Transformar opinião em luta

Parece que os portugueses
não andam a dormir na forma




via Rafael Fortes no «cinco dias»,
sondagem hoje no Expresso

Na mouche !


Luís Afonso, sempre !

 Hoje no Público
E também não deve ser por acaso que,
para ilustrar uma peça sobre o aumento
da pobreza, o circunspecto Le Mondeescolheu este cartoon.

Porque hoje é sábado (311)

Tom Waits


A sugestão musical de hoje incide
no cantor norte-americano
Tom Waits que acaba de publicar
há dias o seu novo álbum Bad As Me.








Aqui, na NPR, duas horas e meia d0 concerto
de
 Tom Waits em Atlanta, em 2008.

28 outubro 2011

Piam tarde mas não reconhecem

"Ciência certa" mas
atrasada pelo menos 9 anos !


«Não sei até que ponto o dia seguinte da cimeira desta  semana vai ser como os dias seguintes  das cimeiras europeias dos últimos anos. Mas algo sei de ciência certa: a Europa teve mais olhos que barriga quando se lançou na aventura do euro e, agora o risco de indigestão é um também um risco de colapso. »
José Manuel Fernandes,
hoje no Público


E pronto, dou alvíssaras generosas e fartas a quem for capaz de descobrir algum texto de José Manuel Fernandes onde, durante os vários anos (de 1995 a 2002) em que se discutiu a criação do euro, a tenha considerado uma aventura».
E, de ciência certo o que posso garantir, com a máxima autoridade, é que não foi José Manuel Fernandes que escreveu a crónica seguinte em torno de uma célebre e muito canónica afirmação de António Guterres sobre a criação do euro.

Cristo e a moeda única

No passado sábado, três vezes olhámos e lemos a entrada da notícia do «Público» sobre a Cimeira de Madrid e não queríamos acreditar. Pior do que isso, fomos assaltados por aquela difusa mas terrível sensação de, por um momento, ou sentirmos que não somos deste mundo ou sentirmos que o bom senso, a noção do ridículo, o sentido das proporções e o espirito crítico já seriam puros vestigios arqueológicos de tempos remotos.

Mas era mesmo verdade. Desenvolvendo uma destacada referência da primeira página, a citada notícia arrancava mesmo como segue: « " Euro, tu és o euro e sobre este euro edificaremos a União Europeia ". Foi com esta afirmação que o primeiro-ministro português saudou ontem o acordo dos líderes europeus sobre o nome da moeda única europeia. A imagem , recordando a conversa entre Jesus Cristo e São Pedro - "Pedro, tu és Pedro e sobre ti edificarei a minha Igreja " - não podia ser mais apropriada: o baptismo do "euro" constitui sobretudo um acto de voluntarismo e de fé na moeda única ».



E como se isto já não bastasse para nos atirar para um indisfarçável mal-estar, no dia seguinte o « Público » fazia outra notícia sobre a Cimeira arrancar assim : «" Era bom que ele hoje dissesse uma frase como a de ontem (sexta-feira), foi muito bonita" - comentava ontem um jornalista espanhol ainda surpreendido com a referência do Primeiro -Ministro português aos Evangelhos com que ilustrou o nascimento do euro » .

Deixamos ao cuidado de cada um - seja crente, agnóstico ou ateu - a avaliação sobre o bom ou mau gosto de parafrasear Jesus Cristo a respeito da moeda única. Deixamos ao cuidado de cada um reflectir sobre o significado de a ânsia de notoriedade europeia deste estreante dos Conselhos Europeus o ter levado ao ponto de adaptar e instrumentalizar «a palavra do Senhor ».

Por nós, apenas nos apetece observar duas coisas um pouco diferentes: a primeira, é que, dado que o Eng. Guterres recorre a citações bíblicas com uma frequência absolutamente incomum em qualquer católico, é de suspeitar que essas citações estejam para o seu discurso como as anedotas ou piadas estão para o discurso dos políticos norte-americanos, ou sejam, são estudadas, premeditadas e já vão no bolso do casaco; a segunda, é que a imagem a que Guterres recorreu, mais do que voluntarismo ou fé na moeda única, parece sim desvendar que na mundivivência do Eng. Guterres a religião da moeda única, do federalismo contra as soberanias nacionais e da ditadura dos mercados financeiros, da competitividade e da globalização contra os direitos sociais deve estar em àspera peleja territorial com o seu tão exibido catolicismo.

A verdade é que bastaram uma frase deste tipo, a «nuance» de uma alegada insatisfação quanto ao desemprego e meia dúzia de «briefings» com a comunicação social para que, por exemplo, o «Expresso» viesse dizer que « Portugal viu triunfar em Madrid quase todas as posições que trazia para a Cimeira dos Quinze » ( mas, com licença, eram boas?) , que a Cimeira de Madrid «marca uma viragem radical na abordagem portuguesa da política comunitária » ( mas, com licença, em quê ? ).

Em vésperas de Natal, a pensar em todos os que andam entretidos a fugir da realidade, apenas apetece uma citação de Mateus colhida em epígrafe de um grande romance de Redol: «Deixai-os: cegos são e condutores de cegos; e se um cego guia a outro cego, ambos vêm a cair no barranco ».

(in Avante! de 2.11.1995)