30 novembro 2011

Ainda e sempre a chegada de A. Cunhal à Portela

Descubram o marinheiro !


(um camarada de Sacavém dá a mão a Luísa Amorim)

Aviso prévio
: este «post» é um supremo enjoo para os leitores mais antigos de «o tempo das cerejas» que porventura se lembrarão quantas vezes, a propósito de fantasias de Vasco Pulido Valente, Zita Seabra e outros, reconstituí de forma testemunhal o que efectivamente se passou na chegada de Álvaro Cunhal ao Aeroporto da Portela.

Acontece que o Público de hoje insere uma peça onde são feitas múltiplas citações de um livro recente de Mário Soares de que, no que toca a este assunto, extraio a seguinte passagem (sublinhados meus): «(...) À saída do aeroporto estava uma pequena multidão à espera de Cunhal. E, paradoxalmente, havia um tanque estacionado. Para quê pensei eu ? Cunhal subiu para o tanque e, salvo erro entre um soldado e um marinheiro, retirou um discurso do bolso e começou a falar. Um dirigente comunista, que não recordo quem fosse, convidou-me a subir para o tanque o que fiz com alguma relutância, diga-se. Quando Cunhal se apercebeu que eu estava ao lado dele, disse qualquer coisa a um camarada, o qual pouco depois me pediu  para descer porque - como disse - houve um equívoco. Desci com grande gosto, porque percebi o cenário: Cunhal entre um soldado e um marinheiro, em cima de um tanque, era algo que lembrava Lènine, no seu regresso a Moscovo...(pág. 183)».

Com pedido de desculpa aos leitores que já conheçam a história de cor e salteado, não tenho outro remédio se não repetir ou observar:

1. Já expliquei várias vezes que nem Álvaro Cunhal nem Domingos Abrantes (que com ele viajou de Paris) faziam a mais pequena ideia do que se ia passar uma vez transpostas as portas do aeroporto e de que sítio iria Cunhal falar e já contei, como testemunha visual, que foram os militares (chefiados quanto a mim por Jaime Neves) que propuseram a Álvaro Cunhal que subisse para cima da chaimite.

2. Quanto a alguém ter pedido a Soares para descer da chaimite, como estava atrás desta e não à frente, nada posso garantir, a não ser que; como a imagem mostra, já Cunhal discursava e Mário Soares ainda estava em cima da chaimite; não conheço nenhuma imagem do momento em que Soares não figure em cima da chaimite; e, por fim, parece inacreditavelmente que, segundo a descrição de Soares, Álvaro Cunhal teria interrompido o discurso para sussurrar a um seu camarada: « tirem dali o Soares».

3.
Dou generosas alvíssaras a quem na foto de cima descobrir o famoso marinheiro de que Mário Soares fala.



Imagem da chegada de Mário Soares a
Santa Apolónia (aí a multidão já
devia ser imensa) em que este está
acompanhado à esquerda por um
nada
relutante Dias Lourenço e por
dois militares
(um dos quais abraça no frame
a seguir deste vídeo do INA francês).

P.S.: Fazendo justiça a uma obra injustamente silenciada e esquecida, lembro que nas bibliotecas será possível encontrar este Dicionário Político de Mário Soares, da autoria de Pedro Ramos de Almeida, que ilustra de modo arrasador a constância e coerência de opiniões de Mário Soares nos primeiros anos após o 25 de Abril.

E agora

A Maria Schneider Orchestra
com Luciana Sousa



29 novembro 2011

Começou hoje

Uma oportuna iniciativa
e uma justa homenagem



Momentos felizes do jornalismo

Maria da Conceição

Já se sabe que é sempre uma fórmula de sucesso jornalístico (o Expresso fez isso uma vez com os miúdos que foram fotografados nas acções do dia 25.4.1974): ir à procura de pessoas retratadas há umas boas décadas em imagens que se tornaram iconográficas e falar  do que é feito delas. É o que acontece hoje no Público em relação a uma foto tirada num bidonville de St. Denis em Paris de uma criança portuguesa filha de emigrantes, de seu nome - sabemo-lo agora - Maria da Conceição Tina que agora é professora e publica no Público de hoje um belo e comovente testemunho dirigido ao seu fotográfo - Gérald Bloncourt. E já não será pequena coisa se esta peça ajudar muitos portugueses a que, no seu olhar actual sobre os imigrantes que vivem e trabalham hoje ao nosso lado, permaneça a lembrança daquilo que como povo já passámos.

Esta foto de Gérald Bloncourt já havia sido publicada no primeiro e agora defunto «o tempo das cerejas», extraída então do notável ensaio e álbum fotográfico de Gérard Noiriel intitulado Gens d'ici venus d'ailleurs - La France de la immigration 1900 a nos jours.

Quod erat demonstrandum

Nenhuma dúvida, os objectivos
das troikas estão a ser alcançados !


No Público de hoje

28 novembro 2011

Quem também nos trouxe até aqui ou...

... se, em vez de «la gauche», têm escrito «le PS» era mais verdade e poupavam quatro caracteres



Mão amiga faz-me chegar esta peça, de 16 de Setembro deste ano, do Le Nouvel Observateur, como todos sabem um semanário confessadamente cripto-comunista, que vem apenas lembrar o que eu e tantos outros estamos cansados de lembrar. Entretanto, esta ligação é dedicada com especial carinho a todos os que, por jugulares e câmaras corporativas, se esfalfaram nos primeiros meses de 2011 a proclamar que o malfadado curso neoliberal da construção europeia era apenas obra da direita que governava a maioria dos países-membros da UE. Aqui fica o extracto inicial :
«Arnaud Montebourg, intervenant devant la rédaction du "Nouvel Observateur" mardi  6 septembre, et exposant son programme de "démondialisation", a cité les travaux de Rawi Abdelal, professeur à Harvard, spécialiste de politique économique.
Ce chercheur très peu connu en France a écrit en 2005 un document de 130 pages titré "Le consensus de Paris, la France et les règles de la finance mondiale", dans lequel il démontre que c’est la gauche française qui a agi avec le plus de ténacité, en Occident, "de façon paradoxale" en faveur de la dérégulation "libérale" des marchés financiers."A la fin de la décennie 80, écrit Abdelal,  les dispositions de l’Union Européenne et de l’OCDE, qui avaient ralenti le processus de mondialisation des marchés financiers, sont réécrites pour épouser une forme libérale. Grâce à ce changement, qui concernait  70 à 80 % des transactions de capitaux dans le monde, la mondialisation financière va progresser à grands pas dans le cadre de règles libérales (…) Cette évolution n’a pu se faire que grâce à l’intervention de trois personnages : Jacques Delors, en tant que président de la Commission européenne, Henri Chavranski,  président des mouvements de capitaux à l’OCDE de 1982 à 1994, et Michel Camdessus, président du FMI de 1987 à 2000 ( …) Sans eux, un consensus en faveur de la codification de la norme de la mobilité des capitaux aurait été inconcevable. Ces trois hommes ont beaucoup de points communs, mais il en est un qui saute aux yeux : ils sont Français. Voilà qui est tout à fait curieux car pendant plus de 30 ans la France, plus que tout autre pays, avait multiplié les obstacles à toute modification des textes en faveur de la mobilité des capitaux. 
Faisant remarquer que c’est François Mitterrand qui a nommé Camdessus gouverneur de la Banque de France, Abdelal parle de "paradoxe français d’autant  plus fort que Delors était une importante figure socialiste et que (…) les français n’y ont pas été forcés par les Etats Unis, au contraire". Il poursuit : "c’est le 'consensus de Paris' et non celui de Washington, qui est avant tout responsable de l’organisation financière mondiale telle que nous la connaissons aujourd’hui, c'est-à-dire centrée sur des économies donc les codes libéraux constituent le socle institutionnel de la mobilité des capitaux".(…)

27 novembro 2011

A memória, questão central do nosso tempo

Desabafo ligeiro de domingo


Em boa verdade, já não tenho nem idade, nem paciência, nem disposição nem métodos de trabalho para nos últimos tempos ter andado a apontar minuciosamente num caderninho coisas que vou ouvindo das mais surpreendentes bocas e que, sendo ditas com a maior da desfaçatez e a mais fascinante das naturalidades, me causam um  considerável espanto resumido na fórmula «a minha alma está parva».

Já disse que não tenho caderninho mas juro que, tal como acontecerá aos leitores, de há uns tempos a esta parte, nos fragmentos noticiosos que vou apanhando, me aparecem ou o Seguro ou o Cavaco a perorar que não é caminho somar austeridade à austeridade, para já não falar das dezenas que descobrem agora que sem crescimento económico nada feito ou do Público que descobre hoje, em editorial,  que Portugal precisava de se fazer ouvir na UE articuladamente com os outros países do sul ou todos aquueles que , por estas ou aquelas palavras - renegociação, reestruturação, alteração de prazos e de juros -, salientam que, sem isso, virá aí o charco mais pestilento e asfixiante que imaginar se possa.

Ora acontece que, como em pequenino, tomei a vacina contra as amnésias de conveniência, me lembro perfeitamente que quem dizia coisas ssim durante a campanha das últimas legislativas era o PCP que então se fartou de levar na tola até mais não por parte de muitos dos que agora, com nuances ou sem  elas, lhe repetem parcialmente o discurso.

Entretanto, na calma solarenga deste domingo, acabo por encontrar uma explicação cómoda e inocente para o que tanto espanto me causa. É que uma vez, agravando os meus próprios juízos e reflexões, José Pacheco Pereira reduziu a memória política em Portugal ao período de duas semanas e, feitas as contas,  as últimas eleições legislativas já foram quase há sete meses.

26 novembro 2011

Fado, som do Mundo



Amália Rodrigues em Gaivota



Carlos do Carmo em Um Homem na Cidade


Mísia em Garras dos Sentidos


Aldina Duarte em Não Me Conformo


Camané em A Guerra das Rosas

António Zambujo em Trago Alentejo na Voz

A grande «ajuda» - comentários para quê

Divulgado ontem
após insistência do PCP



Porque hoje é sábado ( 312 )

The Stooges Brass Band


A sugestão musical de hoje destaca
The Stooges Brass Band, o grupo
norte-americano com um estilo
em que se fundem o hip-hop
e a música tradicional de Nova Orleães.






25 novembro 2011

Uma causa maior

Dia Internacional
contra a violência doméstica






.


Os media e os «confrontos»

Os meninos estão contentes?


Condenando todo o tipo de violência arbitrária, injustificada ou desproporcionada que a Polícia tenha exercido sobre manifestantes ou grevistas mas condenando de igual de modo os estúpidos que, em objectiva provocação, derrubaram as barreiras nas escadarias da AR, aqui fica o registo, desde logo a começar por esta esclarecedora 1ª página do DN, de como os chamados «confrontos» são um bombom para os media e para o governo. E falando para aqueles homens e aquelas mulheres com quem estive na húmida madrugada de 24 e, em geral, para todos os milhares que, 24 horas sem dormir, estiveram nos piquetes de greve, só lhes quero dizer: vocês e o vossa generosidade e espírito de sacrifício nunca serão manchete mas não se importem: vocês fazem muita história e constroem muito mais futuro do que aquela rapaziada que se terá ido deitar julgando que, com os «confrontos», conseguiu uma grande vitória para a classe operária e para a revolução.


página inteira do Público

24 novembro 2011

Greve geral (2)

Um grande êxito !







Conselho aos cínicos e falsificadores do costume:
Antes de começarem, hoje, amanhã e
depois de amanhã, a debitar que a greve
foi praticamente só no sector público
façam favor de irem aos sítios da CGTP ou do PCP
e marrem com os olhos na enorme
lista de empresas privadas onde houve greve geral.
Ah, e por causa da tosse, a ler aqui Paulo Granjo.


We Are The People


(...)We are the people that rule the world
A force running in every boy and girl
All rejoicing in the world
Take me now
We can try (...)

My People, por Angie Stone


(...) My people, hold your head up,
My people, don't get fed up,
My people rise, my people fight,
My people do alright (...)

Greve geral



porque esperar não faz a hora





Sempre do lado da luta:
ontem, às 22.35 hs., Bernardino Soares,
presidente do grupo parlamentar
do PCP, saudando o piquete de greve
junto aos estaleiros da
Câmara Municipal da Amadora.

23 novembro 2011

Música ...


... tomando embalagem para amanhã !





Tom Morello em Union Song




The Manic Street Preachers
em This Is the Day


Paul Robeson em Joe Hill



Amanhã

nós por ti, tu por nós e todos pelo país

Os 90 anos da «Seara Nova»

Parabéns, Seara,
porque muito te devemos
Os 90 anos da Seara Nova (ver breve resenha histórica aqui) são evocados na próximo dia sábado, dia 26, às 15 hs., na Casa da Imprensa (Rua da Horta Seca, ao Camões) com a Conferência Seara Nova: o projecto seareiro com intervenções de António Ventura, António Reis, Ulpiano Nascimento e João Corregedor da Fonseca.
(capa com desenho de Maria Keil)

A Seara de Agosto de 1964
(as Searas dos anos de 1964 e 1965
são as únicas que os acidentes da vida
me permitiram conservar encadernadas)

22 novembro 2011

Uma boa contribuição, venham mais

150 cientistas sociais
apoiam a greve geral



«(...) Sendo as opções governativas em curso (e em particular a proposta de OGE 2012) contrárias a estas necessidades e atentatórias da dignidade humana e da segurança colectiva, os cientistas sociais signatários apoiam a greve geral convocada pela CGTP-IN e a UGT para o próximo dia 24 de Novembro, apelando aos seus concidadãos para que a ela adiram.
Tratando-se embora de uma acção a nível nacional, os signatários saúdam também esta greve geral como um momento do combate europeu contra as políticas de austeridade e de regressão social, a favor de mudanças na política europeia que coloquem no centro os cidadãos, o crescimento económico, o desenvolvimento e a defesa da Europa social e da democracia. »

(ver texto completo e asinaturas  aqui)

24 de Novembro

Toda a força à greve nos locais de trabalho,
massiva participação nas concentrações





Não vá dar-se o caso de uma insuficiente divulgação, aqui fica a lista das concentrações promovidas pela CGTP-IN.

21 novembro 2011

Quem te manda a ti sapateiro...

Esta noite sonhei com cartazes

Sim, sonhei que por praças e ruas estava afixado um assim:



Sonhei que nos restaurantes e pequeno comércio, no dia 24, íamos encontrar um cartazete assim:

E sonhei que, a  23, em todos os transportes públicos, já havia uma cartazete assim:

Jerónimo de Sousa no «Alta Definição» da SIC

Para ver, ouvir, pensar e...





.... e talvez para alguns, metendo por instantes na gaveta o espírito de classe e o preconceito, poderem reverem  certas ideias feitas.