05 novembro 2012

Coisas que acontecem

Num ponto, Miguel S. Tavares
junta-se aos «estalinistas»


Com um atraso compreensível para quem, por fria decisão, não compra o Espesso, acabo de saber que Miguel Sousa Tavares, pessoa sobre qual julgo não escrever há muito tempo (já tive a minha conta na vida, ó se tive !) escreveu lá para o final do seu artigo deste sábado, todo ele de defesa das alegadas inevitabilidades do costume, que «a CGTP mudou para uma linha estalinista pura e dura, à semelhança do seu novo secretário-geral»  e que «a  rua despertou, conseguindo até juntar as tropas comunistas saudosas de novo sequestro da Assembleia da República ao peculiar sindicalismo dos estivadores do porto de Lisboa, ao estilo do sindicalismo dos anos 30 em Chicago».

Ora acontece que, no inicio do artigo,, M.S.T. escreve que «Com a falta de senso político que o caracteriza, Passos Coelho vem agora propor ao PS uma “refundação do acordo com a troika”. Para começar, explicou-se mal: ele não pretende refundar o acordo, pretende sim dar-lhe cumprimento integral — o que até agora não fez. Refundar o acordo seria fazer ver aos nossos prestamistas que, nestes prazos e com estes juros, e sem políticas que devolvam vida à economia, jamais teremos salvação».

Ora, com esta última parte sublinhada, o que M.S.T. vem copiar de forma escolar e atrasada (porque suponho que não o disse quando fazia mais falta que o dissesse, ou seja de início) é o mesmo ou similar ao que desde sempre disseram aqueles que ele continua a chamar de «estalinistas», sendo que das duas uma: ou ele não sabe o que outros muito antes dele disseram e julga que descobriu ele a pólvora ou então não se importa com estas suas convergências pontuais com correntes políticas que tem difamado toda a vida.

Creio sinceramente que era tempo de Miguel Sousa Tavares ultrapassar um seu velho trauma: é que muitos leitores não o saberão, mas, no final de Agosto de 1991, escreveu no Semanário que «O PCP acabou ainda e bem». 

Eu até posso compreender que, a M.S.T., de cada vez que se refira aos comunistas, lhe doa esta sua sentença clamorosamente falhada. Mas, ó homem, foi há 21 anos, espírito ao largo, águas passadas, também eu todos os anos (mentira!) prevejo que o Sporting vai ganhar o campeonato !

Paulo Portas e ...

... uma descarada
falsificação da história



Esta afirmação foi feita pelo ministro Paulo Portas na passada-sexta-feira no encerramento do debate na generalidade do OE/2013 e, por isso, não é tarde de mais para voltar a ela como descarado exercício de rasura da história.

Dito assim, e mais não disse Paulo Portas, poderá alguém mal informado pensar que ao longo de décadas e décadas a classe operária e gerações de trabalhadores da Europa, além do trabalho produtivo, andavam sobretudo entretidos a beber copos nas tabernas e a jogar o chinquilho e, que sem que eles tivessem pedido nada, reclamado nada e lutado por nada, os democratas-cristãos, os sociais-democratas e os socialistas lhes foram oferecendo numa bandeja toda uma série de conquistas e regalias sociais que, progressivamente e no seu conjunto, viriam a constituir o normalmente chamado «Estado Social».

Desenganem-se pois todos os que, em livros de história ou em qualquer outra fonte de informação, ouviram falar das lutas heróicas dos trabalhadores durante a Revolução industrial e de todo o riquíssimo património de milhares e milhares de lutas desencadeadas e de milhares de actos repressivos e centenas de mortos sofridos pelo movimento operário, a partir de certa altura com uma contribuição determinante dos partidos comunistas, para já não falar do peso que, nas concessões a que os partidos no poder foram forçados, tevena época a capacidade de atracção gerada pelas conquistas sociais na União Soviética.

Fiquem-se pois pela mentirosa teoria da bandeja e da generosidade das famílias políticas invocadas por Paulo Portas. E nem sequer lhe lembrem, para não o perturbar, que, naquele contexto histórico, se está a referir a partidos sociais-democratas ou socialistas então ainda sob a influência maior ou menor do marxismo. E também nem sequer lhe perguntem de que lado é que estavam ou estiveram os partidos democratas-cristãos (ou as similares direitas) em embates tão cruciais como as medidas progressistas da  Frente Popular em 1936 ou Acordos de Grenelle em 1968, ambos na França.

Sim, não desasosseguem o homem: ele vê bondades governantes e avenidas de facilidade e mares de rosas onde a história regista sangue, suor, lágrimas, sacríficios sem conta dos trabalhadores e do movimento operário e sindical. É o que lhe convém.

Ulrich tem razão

Ai aguentam, aguentam !


manchete do Público
... nem que seja preciso transformar Portugal numa imensa cantina social !.

Nas presidenciais americanas...

... nem todos os
votos 
valem o mesmo !

(No Wyoming há 143 mil votos populares por cada
voto no Colégio Eleitoral e 
em Nova Iorque 500 mil)


Aqui, quadro interactivo mostrando para cada Estado a relação entre votos populares e representantes no Colégio Eleitoral.



Na Slate : «There are many reasons to dislike the Electoral College: It gives a handful of states the lion’s share of campaign attention; it allows a candidate with fewer votes to win; it depresses voter turnout in “safe” states; and it’s plain confusing. Now add this one: The electoral power of your vote depends on where you live.

The average electoral vote represents 436,000 people, but that number rises and falls per state depending on that state’s population over 18 years of age. (The map above shows the population 18 years and older per electoral vote by state.) The states with the fewest people per electoral vote, and therefore the highest “vote power,” are Wyoming, Vermont, and North Dakota. In Wyoming, there are 143,000 people for each of its three electoral votes. The states with the weakest votes are New York, Florida, and California. These states each have around 500,000 people for each electoral vote.
In other words, one Wyoming voter has roughly the same vote power as four New York voters. (Mouse over the map and it will show you where your state ranks in voting power.)


Electoral votes are allocated to the states each decade to reflect population shifts, but every state is guaranteed three electoral votes beforeallocation kicks in, leaving the least populous states with the most disproportionate number of electoral votes and improving their vote power. That’s why the five states with the most vote power have only three electoral votes.

A state’s vote power also depends on how close the state is to an additional electoral vote. The closer it is, the higher the population per electoral vote. Although the math behind apportionment minimizes this factor, it still results in situations like this: Minnesota has 22,000 more people than Colorado and one more electoral vote, while Wisconsin has 33,000 more people than Minnesota and the same number of electoral votes.“Vote power,” in the sense used here, doesn’t entirely describe the probability that your individual vote can decisively influence the outcome of the presidential election. To determine that, you also need to know how tight the election is in your state and nationwide. Although a vote in Washington, D.C. is the third most powerful, for example, the probability it will change the outcome of the election is incredibly low.In the aggregate, though, vote-power disparity does change outcomes, yielding elections, such as the 2000 election, in which the winner is not the one with the highest popular vote. And because the Electoral College mirrors the allocation of representatives in Congress, this map also charts legislative power; 143,000 people in Wyoming have the same number of legislators in Congress as 500,000 in New York.»

04 novembro 2012

Fim de domingo com

Cheryl Bentyne 

 
 


Para o seu domingo mas só hoje

Claudio Abbado
no Festival de Lucerna



aqui, 1.40 h. de concerto (Beethoven
 e Mozart) mediante simples inscrição.

A propósito de...

... fraudes nas 
presidenciais americanas


A pré-campanha e a campapnha presidencial americana ficaram marcadas por uma áspera luta  entre democratas e republicanos em torno da legislação restritiva que os republicanos procuraram impôr em muitos Estados, a pretexto do combate à fraude eleitoral de natureza pessoal que os democratas estimam ser irrelevante. Acontece que os republicanos nunca estiveram nada preocupados com o fenómeno atestado por numerosos estudos e ensaios e bem evidenciado nas eleições na Florida em 2000 da fraude da responsabilidades de autoridades. A revista In These Times voltou a este tema e publica um artigo onde se assinala de ínicio:

The Threat of a Stolen Election

With the use of paperless voting machines in 31 states, recounts become impossible.
BY George Kenney

Perhaps it's because the U.S. Constitution does not guarantee Americans the right to vote. Perhaps it's because election officials believe (or hope) that the public has forgotten what democracy means or what fair elections are all about. Perhaps both parties opportunistically seek an advantage through fraud. Perhaps people are simply stupid. Nevertheless, it remains an almost inconceivable screw-up: in many states, including critical swing states, government officials have not guaranteed that votes can be counted, either, in some cases, counted accurately or, in others, counted at all. The mechanics of U.S. voting systems, by international standards, languish at the level of a dismal third world failure.


Many–maybe most–of our current problems with election auditing can be traced to the proliferation of electronic voting machines. Paperless machines that leave no auditable evidence of who won, who lost, or who stole an election. Machines with flimsy paper trails that can be tinkered with and/or that are too unreliable when needed. Internet voting, which by its nature is 100% insecure. Adding insult to injury, the corporations that sell these electronic gadgets claim, and courts have agreed, that election software is proprietary: the public interest in ensuring a fair election takes second place to corporate profits. Worse still, we have an extremely troubling history of persons with a direct interest in election outcomes owning a piece of the companies that count the vote. See, for example, former Sen. Chuck Hegel's victory in 1996 or, notably, the Romney connection to the privately held company Hart Intercivic whose machines are widely used, including in Ohio. (...)



O resto do artigo está aqui e inclui uma entrevista com Barbara Simons, uma investigadora reformada da IBM e antiga Presidente da Association for Computing Machinery (ACM), «the nation's oldest and largest educational and scientific society for computing professionals».



ler também aqui

Este post só pode terminar com uma heresia que, de qualquer modo, não parece tirar o sono a quase  ninguém nos EUA e no mundo: a de lembrar que, na tão celebrada democracia americana, o candidato com mais votos pode não ser eleito Presidente.

***
E até sobre as eleições de 2004
 que Bush venceu com mais
 3 milhões de votos 
há um livro assim :


03 novembro 2012

Um problema real

Uma avalanche destruidora
que nos submerge e assarapanta !





Não sou, nunca fui e nem pretendo vir a ser um "analista político" mas apenas é tão só um modesto combatente político e, por isso, ao contrário de alguns que muito gostam de recitações clássicas, nunca fui um cultor de frases como aquela de que «a verdade é sempre  revolucionária» pois na vida já me fartei de ver situações e momentos em que a verdade até pode ser sempre revolucionária, a sua total divulgação é que nem em todos os momentos é, sobretudo quando pode gerar movimentos de desânimo e falta de esperança.

Vem isto a propósito só para explicar que ainda não encontrei a maneira equilibrada de desenhar todas as prováveis feridas, consequências, factos consumados, mudanças terríveis que por muitos e muitos anos cairão sobre os portugueses e o país se esta ofensiva bárbara e vingativo ajuste de contas com todo o património ainda restante de Abril não forem rapidamente detidos e derrotados.

Repare-se bem nesta evidência dos dias que correm: ainda não digerimos em todo o seu alcance a crudelíssima agressão inscrita e proposta no OE para 2013 nem está  ainda consumada a sua entrada  em vigor e já estamos  debaixo do fogo, real mas  ao mesmo tempo distractivo, da campanha para a «refundação» do memorando, do Estado ou do raio que os parta, cujo único objectivo é obviamente acentuar um lastro infame de miséria e desprotecção social a pretexto de cortar com urgência os agora famosos 4 mil milhões de euros na despesa pública.

E é assim que, temendo eu que nos deixemos desorientar pelas palavras e temas aparentemente novos de cada dia ou semana, eu prefiro voltar atrás e lembrar dois títulos de imprensa de há relativamente pouco tempo.

O primeiro é este  de 1 deste mês

e olhando para ele, reparando que ele só fala do efeito do aumento do IRS e deixa de fora tudo o resto - aumento do IMI, aumentos dos transportes, de taxas moderadoras, reduções nos subsídios de desemprego, de inserção social e   outras prestações sociais, só provoca a vontade de perguntar aos senhores governantes: mas estão a falar de quê ? de mais provações, dramas, desesperos e sofrimentos para além do que estes simples e incompletos números já revelam ? em que país vivem «vossecelências»?      

O segundo título é este
                                                                                      
e volta aqui só para lembrar a proximidade deste número com os tais 4 mil milhões de euros que os que que os gastaram quase aqui sem nenhuma hesitação   pretendem agora sacar dos bolsos e condições de vida da incrivel e asperamente sofrida maioria do povo português.                                    

Porque hoje é sábado ( 297 )

Kina Grannis

A sugestão musical de hoje descobre
 a guitarrista e songwriter norte-americana 

Kina Grannis, cujo último álbum
 se intitula Stairwells.